Na produção de gado de corte baseada em pastagens, a flutuação na oferta de alimentos é fator limitante, refletindo-se na produção animal levando a menores índices zootécnicos.
O suprimento protéico ou de aminoácidos está relacionado ao conteúdo em proteína da dieta, da sua transferência na forma de proteína não degradável no rúmen e microbiana, e a absorção destas pelo intestino delgado. Por outro lado, a deposição protéica depende da eficiência do uso da proteína absorvida, que é função da disponibilidade de substratos energéticos e de aminoácidos essenciais limitantes.
Em condições de pastagens tropicais durante o período de seca, ocorre diminuição significativa nos teores de proteína da forragem, levando a deficiência de proteína degradável (PDR) e não degradável no rúmen (PNDR) nas dietas de animais em pastejo.
O presente trabalho foi realizado em pastagens de Brachiaria brizantha, em sistema de pastejo rotacionado, aproximadamente 28 dias de ocupação e 56 de descanso, com bancos de proteína de Leucaena leucocephala. Nos piquetes com banco de proteína, a leguminosa representava cerca de 25% da área do piquete, e os animais tinham livre acesso ao banco de proteína.
Utilizou-se 64 bovinos machos castrados da raça Nelore, com idade e peso de aproximadamente 28 meses e 400 Kg, respectivamente. O experimento continha 4 tratamentos, conforme descrito abaixo:
– Controle = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + suplemento mineral;
– Leucena = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + Banco de proteína (Leucaena leucocephala) + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil® úmido (animal/dia) + suplemento mineral;
– Supl.1 = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil® úmido + 0.5 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral;
– Supl.2 = Pastagem de Brachiaria brizanta cv. marandu + 2 Kg polpa cítrica peletizada + 2 Kg refinazil® úmido + 1 Kg farelo de soja + 0.1 Kg uréia (animal/dia) + suplemento mineral.
O suplemento alimentar foi fornecido diariamente, em cochos cobertos instalados nos piquetes. Não foram observadas sobras do suplemento alimentar fornecido aos animais.
Foram realizadas coletas de líquido ruminal através de sonda flexível oro-gástrica, para avaliação das concentrações de amônia, e também realizadas coletas de sangue para avaliação das concentrações de uréia sérica. As coletas foram realizadas sempre no período da manhã, antes do fornecimento do suplemento, sendo coletados os quatro tratamentos em todos os dias de manejo.
As concentrações de amônia no líquido ruminal (Tabela 1) dos animais dos grupos Supl.1 e 2 atingiram valores considerados mínimos, segundo Hoover (1986) de 8 mg/dl, para crescimento microbiano e máxima digestão de fibras. Já os animais controle apresentaram valores mínimos necessários para o crescimento microbiano (3,3 mg/dl), porém abaixo do valor para máxima digestão de fibra que é de 8 mg/dl (Hoover, 1986).
Tabela 1. Concentração de amônia no líquido ruminal dos diferentes tratamentos
A amônia “em excesso” no rúmen, é absorvida pelo epitélio ruminal e levada ao fígado através do sistema porta, onde é transformada em uréia, principal forma de eliminação da proteína em mamíferos. A concentração de amônia ruminal está diretamente relacionada aos teores de proteína da dieta, sendo ambas relacionadas às concentrações de uréia plasmática.
A absorção da amônia pelos microorganismos ruminais para síntese de proteína microbiana é dependente de uma adequada disponibilização de energia no rúmen.
Uréia sérica
Segundo Hammond (1994), as concentrações médias de uréia sangüínea de um rebanho pode ser utilizada para avaliação do “status” protéico da dieta, devendo estar entre 9 e 12 mg/dl. Se as concentrações forem acima de 12 mg/dl, provavelmente há excesso de proteína, e se os valores estiverem abaixo de 9 mg/dl, poderia-se aumentar a produção desses animais com aumento do teor de proteína da dieta.
No presente trabalho, os níveis de uréia sangüínea aumentaram de acordo com o aumento dos teores de proteína do suplemento. As concentrações de uréia sangüínea dos animais do tratamento Supl.2 foram significativamente maiores (P< 0,05) que os demais tratamentos . Não houve diferença estatística (P< 0,05) entre os tratamentos controle, leucena e Supl.1 (Tabela 2). Isso indica possivelmente que o tratamento Supl.2 proporcionou uma concentração de amônia ruminal maior do que as quantidade absorvidas pelos microorganismos, sendo esse excesso transformado em uréia e eliminado. No período de coleta do líqüido ruminal, o teor de proteína da pastagem foi de 4,9% PB, e mesmo o tratamento com maior quantidade de proteína no suplemento (1 kg farelo de soja animal/dia) atingiu o valor médio de 10,56 ±0,89, abaixo de 12 mg/dl, que segundo Hammond (1994) há demanda de energia para excreção do excesso protéico, denominado "custo uréia". Tabela 2. Concentrações sanguíneas de uréia nos diferentes tratamentos
A alta correlação existente entre a proteína ingerida, e as concentrações de amônia ruminal e uréia plasmática, permitem a utilização desses parâmetros para avaliação do nível protéico da dieta.
A suplementação protéica de bovinos de corte em pastagens tropicais com até 0,8% peso vivo permitem a correção da deficiência de proteína degradável no rúmen, sem levar a desperdícios de energia para eliminação do excesso protéico.
Referências bibliográficas:
HAMMOND, A.C. High “BUN” level a sign of protein waste. Agricultural Research, Apr. 1994.
HOOVER, W.H. Chemical factors involved in ruminal fiber digestion, Journal Dairy Science, v. 69, n. 10, p. 2755-2766, 1986.
MOSS, R.J.; MURRAY, R.M. Rearing dairy calves on irrigates tropical pastures 1. Effect of protein level on liveweight gain and blood components. Australian Journal of Experimental Agriculture, v. 32, p. 569-579, 1992.
ROSENBERGER, G. Exame clínico dos bovinos. 2. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 1987. 408p.
SOUZA, A.A.; BOIN, C.; LOURENÇO, A.J.; SUGUISAWA, L. Concentrações de amônia no líquido ruminal e de uréia sérica em novilhos Nelore suplementados com subprodutos agroindustriais. 50 Congresso Brasileiro de Raças Zebuínas – Mitos e realidades da carne bovina, 2002.