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Efeitos da utilização de agonistas beta-adrenérgicos no desempenho e características de carcaça de bovinos de corte confinados

A busca de novas alternativas para a pecuária de corte, tem voltado às pesquisas baseadas no aumento da eficiência de produção, porém sem alterações nas características de carcaça e dos cortes produzidos. Dentro desse aspecto, recentes linhas de pesquisa como “residual feed intake”, bem como outras nem tão recentes, como a dos beta-adrenérgicos, tem sido exploradas para a busca de soluções inovadoras.

A utilização de beta-adrenérgicos é aprovada na África do Sul e México, sendo autorizados o uso de aditivos à base de zilpaterol e ractopamina. Em 2003, foi aprovado o uso da ractopamina também no Estados Unidos, sendo o zilpaterol autorizado somente em 2006 nesse mesmo país. O uso de beta-addrenérgicos continua proibido na Europa e no Brasil, não podendo ser utilizados como aditivos nas dietas de bovinos desses países.

Os beta-adrenérgicos são moléculas orgânicas que se ligam a receptores presentes na maioria das células dos mamíferos, promovendo aumento do desenvolvimento da massa muscular através de hipertrofia e, redução da deposição de gordura (Dunshea, et al., 2005)

Avendano-Reyes et al. (2006) avaliaram a utilização de dois beta-adernérgicos, o zilpaterol e a ractopamina, sobre desempenho, características de carcaça e qualidade de carne de bovinos de corte confinados. Foram utilizados 45 bovinos cruzados com peso vivo médio inicial de 424 kg, divididos em 3 tratamentos, sendo: controle, zilpaterol e ractopamina, tratados durante 33 dias fais de confinamento com hidrocloreto de zilpaterol, ou hidrocloreto de ractopamina. As dietas experimentais estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Composição das dietas experimentais


Fonte: adaptado de Avendano-Reyes et al. (2006)
*MS = matéria seca
**ppm/kg de ração completa

Foram observados maiores pesos finais, ganhos médios diários e conversão alimentar para os animais tratados em relação aos controle. O ganho médio diário foi 26 e 24% maiores para os tratamentos zilpaterol e ractopamina, respectivamente, em relação aos animais controle (Tabela 2). Os animais do grupo ractopamina apresentaram menores ingestões de matéria seca (MS) do que os animais dos grupos zilpaterol e controle. Apesar de não haver diferença entre os grupos zilpaterol e controle, a adição de beta-adrenérgicos possibilitou melhora na conversão alimentar em ambos os casos (Tabela 2).

Houve também efeito dos beta-adrenégicos sobre as características de carcaça, sendo maiores os pesos de carcaça quente para os tratamentos com beta-adrenégicos em relação ao controle.

Tabela 2. Peso vivo inicial, final, desempenho, ingestão de matéria seca (IMS) e conversão alimentar dos diferentes tratamentos com beta-adrenérgicos


Fonte: adaptado de Avendano-Reyes et al. (2006)

Os pesos de carcaça quente foram 7 e 5% mais pesados para os tratamentos zilpaterol e ractopamina, respectivamente (Tabela 3). Além de maior peso de carcaça quente, os tratamentos com beta-adrenérgicos proporcionaram maiores rendimentos de carcaça em relação ao grupo controle. Para valores de área de olho de lombo, foram observados maiores valores para o grupo zilpaterol em relação ao grupo controle, que não diferiu do grupo ractopamina. Houve tendência de menor espessura de gordura subcutânea para o grupo zilpaterol em relação aos demais. Outra tendência observada,foi para o grupo ractopamina que aprensentou tendência de maior produção de cortes magros, após desossa (Tabela 3).

Tabela 3. Peso vivo inicial, final, desempenho, ingestão de matéria seca e conversão alimentar dos diferentes tratamentos com beta-adrenérgicos


Fonte: adaptado de Avendano-Reyes et al. (2006)

Os resultados apresentados mostram que a utilização de beta-adrenérgicos possibilitam melhoras no desempenho e conversão alimentar, bem como, peso de carcaça quente e rendimento de carcaça de bovinos de corte confinados.

Referências bibliográficas

AVENDANO-REYES, L.; TORRES-RODRIGUEZ, V.; MERAZ-MURILO, F.J.; PÉREZ-LINRES, C.; FIGUEROA-SAAVEDRA, F.; ROBINSON, P.H. Effects of two beta-adrenergic agonists on finishing performance carcass characteristics, and meat quality of feedlot steers. J. Anim. Sci., v. 84, p. 3259-3265, 2006.

DUNSHEA, F.R.; D´SOUZA, D.N.; PETHIC, D.W.; HARPER, G.S.; WARNER, R.D. Effects of dietary factorsand other metabolic modifiers on quality and nutritional value of meat., Meat Science, v. 71, p. 8-38, 2005.

28 Comments

  1. Rodrigo Zamperlini disse:

    Gostaria de parabenizar o autor pela qualidade dos artigos. São sempre de muita valia para nós profissionais da área. A produção animal agradece.

  2. Fábio de Oliveira Rocha disse:

    Olá pessoal!

    Gostaria de saber se foi feito a avaliação do custo-benefício, desse tratamento com beta-adrenérgios, e sua viabilidade econômica.

    Obrigado!

  3. André Alves de Souza disse:

    Prezado Fábio,

    Os trablhos realizados com beta adrenergicos apresentam resultados positivos em relação a eficiência econômica, porém nenhum desses trabalhos fora realizado no Brasil, pelo fato de ser proibida a utilização desse insumo para bovinos de corte.

    Forte abraço.

  4. Geneildes Cristina de Jesus Santos disse:

    Muito bom..me ajudou muito na realização de um trabalho com beta-adrenérgicos.
    Obrigada!!

  5. Moacir Rodrigues Filho disse:

    Boa tarde,

    Em nível esperimental tenho conhecimento de trabalhos realizados com suino no Brasil. Gostaria de saber se existe alguma iniciativa com bovinos de corte.

  6. André Alves de Souza disse:

    Prezado Moacir,
    Houve poucos trabalhos com esse ingrediente no Brasil na década de 90. Porém, somente ensaios experimentais com bovinos de corte, pois o uso deste é proibido no Brasil.

    Forte abraço.

  7. Bruno Manhani Corrêa disse:

    André,
    Gostaria de saber se os dados apresentados nas tabelas possuem diferença estatística já que não há indicação em nenhuma delas.
    Só tenho acesso a estatística conultando o paper diretamente?

    Abraço

  8. André Alves de Souza disse:

    Olá Bruno, tudo bem?
    Estou lhe enviando o artigo na integra via e-mail.

    Forte abraço.

  9. jakeline de oliveira libório disse:

    olá..gostaria de saber se tem alguma lei que é proibido os beta adrenérgicos no Brasil e qual é?
    =)

  10. André Alves de Souza disse:

    Prezada Jakeline,
    O uso de beta adrenérgicos para bovinos está proibido no Brasil.

    Forte abraço.

  11. Vilson Simon disse:

    Amigos do BeefPoint,
    A nova Instrução Normativa 55 permite o registro e uso de beta agonistas no Brasil, desde final de 2011. Agora é uma questãomde tempo para que o Corpo Técnico receba e analise os registros das empresas. Este projeto está um ano atrasado, pois todo o movimento começou no Interconf 2010 em Gioiania quando Representantes do Governo se comprometeram em dar celeridade a modernização da legislação e o acesso dos produtores as Tecnologias disponíveis nos mercados que concorrem com o Brasil no mercado global de carnes. A próxima revolução competitiva da Pecuária Brasileira será através da intensa adoção de tecnologias já disponíveis, como os beta agonistas. A nova safra de confinamento está iniciando e seria muito salutar o acesso as tecnologias para o ciclo 2011/2012.

  12. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá amigos. Esse artigo foi publicado em janeiro de 2007.
    Espero que aproveitem.
    Abs, Miguel

  13. Edson Divino Cardoso da Silva disse:

    Parabéns Miguel,

    pela qualidade das informações passada!

    Resta esperarmos a burrocrácia brasileira!

    Att, Edson Cardoso

  14. Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

    Olá pessoal,

    Para informação, nessa data, há dois produtos liberados no Brasil.

    Saiba mais em:

    Zilmax chegou ao Brasil, produto da MSD Saúde Animal – http://bit.ly/Qey2e3

    OPTAFLEXX, agora o mercado tem opção, novo produto da Elanco Saúde Animal – http://bit.ly/LuBVaH

    Abs, Miguel

  15. Andre Ribeiro Bartocci disse:

    Miguel,
    você acha que a liberação de BETA AGONISTAS dificultará a abertura de mercados, a médio prazo, para o Brasil?
    Principalmente em uma época que temos que provar a qualidade e a sanidade, pois nosso preço ja não é o grande diferencial?
    E, apesar dos grandes benefícios do produto ele beneficiará uma pequena parcela da produção(confinamento)?
    Abs,
    André Bartocci

    • Miguel da Rocha Cavalcanti disse:

      Olá André, obrigado pelo comentário.
      Os EUA usam beta-agonistas (e implantes) e exportam para a Europa. A Austrália a mesma coisa.
      É preciso rastreabilidade e separar a produção.
      Sou a favor, mesmo se não fosse usar na minha produção / meu gado. Meu argumento é: Como vou ganhar prêmio por não usar, se é proibido usar? :-)
      Isso pode criar diferenciações de mercado e mais opções para quem quer usar e não usar.
      E lembrando que isso vai aumentar a produção de carne por área e/ou vaca do rebanho.
      Abs, obrigado, Miguel

  16. André Ribeiro Bartocci disse:

    Miguel,

    Os EUA registraram casos de EEB este ano e isto comprometeu pouco suas exportações.
    Já nós por muito menos perdemos parte de nossas exportações para os EUA por resíduos de ivermectinas (produto legal em todos países importadores).Também por rastrear mal perdemos as vendas para a EUROPA por um período.
    Os EUA e a Austrália tem a confiança do mercado que o Brasil ainda não conquistou.Liberar ou não produtos é um pequeno detalhe agora conquistar esta confiança é nosso desafio.
    Concordo com seus argumentos de prêmio e produção. Meu receio é que determinadas ações possam representar alguns anos a mais FORA de importantes mercados como: Japão,Coréia,e EUA.
    Abs e obrigado pelo espaço,
    André Bartocci

  17. Manoel Vaz Theodoro Benelli disse:

    MIguel e André, em um mundo onde se fala de crescimento econômico global, aumento populacional gigantesco para 2050, e em saúde alimentar. Não seria o uso dos beta-agonistas se não uma solução mais um passo para:
    1- Maior produção de carne por animal
    2 – Redução no consumo de grãos nas dietas, tendo um maior estoque destinado aos seres humanos
    3 – Produzir uma carne com menores quantidades de gordura e possivelmente mais saudável (Fator que muitos gostam de utilizar contra nós defensores da Carne Vermelha).

  18. Daniel Boer disse:

    Olá há algum dado em relação ao bem estar animal? Como por exemplo stress térmico em animais cruzados ou zebuinos?

  19. Enio Pasquali Jr disse:

    Os B2-adrenergicos são usados em humanos para tratamento principalmente de doenças respiratorias(asma- dpoc), nos idos de 1990 o laboratorio Boehringer-Ingelheim desenvolveu uma molecula B2 que recebeu a denominação clembuterol-visto que foi declarada como doping pelas autoridades esportivas pois a mesma aumentava a massa muscular e consequentemente a força muscular dos atletas que a usavam.Foi retirado do mercado humano,encontrando se somente para uso veterinàrio(equinios= alguns ¨esportistas¨a tem usado. Pergunto será que o cozimento da carne elimina este efeito?

  20. Leonardo Dias Speridião disse:

    Eu trabalhei com a Ractopamina em Suínos e pelo que me lembro produzia carcaças mais enxutas em Gordura. Como vocês vem isto em bovinos ? Sei que existe tendência do consumidor de carnes mais magras, mas e a maciez, seria afetada também ?

  21. Ricardo Verdi disse:

    Prezados

    Gostaria de obter mais informações tecnicas do uso de beta agonistas.
    Esse trabalho foi em bois inteiros ou castrados??
    A maioria dos confinamentos no Brasil trabalham com bois sem castração, inteiros.
    Tem algum trabalho com zebuinos inteiros??
    Em boi castrado acredito que o resultado de redução da deposição de gordura em detrimento a massa muscular proporcionou GMD e conversão melhores… mas em bois inteiros como fica???

    Atenciosamente
    Ricardo Verdi

  22. André A. Souza disse:

    Prezados Amigos,
    Gostaria de explicitar dois pontos que considero bastante importante:
    – Primeiro a respeito da data que publicamos o artigo que agora debtemos com mais ênfase – janeiro de 2007!!!
    A cadeia produtiva da pecuária de corte brasileira deve continuar na busca por “novas” tecnologias e alternativas que possibilitem o aumento da produção e da lucratividade.
    E, por termos esse “atraso” de aproximadamente 5 anos, ficou um comentário meu descrito acima, do dia 10/12/2012 que os beta adrenérgicos eram proibidos no Brasil, fato verídico aquela época.

    Grande abraço!

  23. André A. Souza disse:

    Prezado Ênio,
    Essa molécula é utilizada por um período de aproximadamente 40 dias no confinamento, não deixando resíduos nos cortes.

    Grande abraço!

  24. André A. Souza disse:

    Olá Leonardo, tudo bem?
    No caso de suínos temos uma proporção maior de gordura em relação aos bovinos e, portanto, a diferença em relação a queda na deposição de gordura pode ser mais acentuada. A ação dos beta adrenérgcos nos faz tomar certas precauções em relação ao acabamento sim, porém outros manejos devem ser ajustados, como o planejamento nutricional, idade de início da alimentação, castração, etc. Nos EUA o produto é utilizados com animais castrados e anabolizados.

    Grande abraço!

  25. Enio Pasquali Jr disse:

    Obrigado André, duvida esclarecida; Pasquali

  26. rafael cruz disse:

    André, você disse que alguns trabalhos utilizando B-agonistas foram realizados experimentalmente no Brasil na década de 90, você poderia indicar alguns, ou a fonte onde posso achar, e alguma outra leitura estrangeira também, estou muito curioso sobre o assunto e gostaria de estudar mais!

  27. Eduardo Bruno Nogueira disse:

    Boa tarde!
    Meu nome é Eduardo Bruno Nogueira, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal. Gostaria de saber maiores informações a respeito da Instrução Normativa Nº 55 de 2011, que revogou a IN Nº 10 de 2001. Na IN Nº 55 consta a proibição da importação, a produção, a comercialização e o uso de substâncias naturais ou artificiais, com atividade anabolizantes hormonais, para fins de crescimento e ganho de peso em bovinos de abate. Assim, seria possível novamente a utilização de substâncias beta-adrenérgicas, como Clembuterol e Salbutamol? Se possível, gostaria de saber o mecanismo de utilização e os custos do uso do fármaco.

    Muito obrigado.