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Efeitos do processamento de grãos sobre a produção de bovinos de corte confinados

Diferentes níveis de processamento de grãos em dietas de bovinos de corte podem influenciar diretamente no desempenho animal e na viabilidade do processo produtivo. Reed et al. (2005) observaram aumentos no ganho de peso médio diário de bovinos de corte confinados. Grãos mais processados fornecidos nas dietas de bovinos de corte aumentam a superfície de contato, facilitando a digestão desses ingredientes pelos microorganismos ruminais. Outros pontos a ser considerado são as frações de degradação de carboidratos e proteínas, que também podem ser modificados pelos diferentes tipos e níveis de processamento. Altos níveis de processamento vão levar a maior rapidez na degradação das frações de carboidratos dos grãos de sorgo, por exemplo, sendo necessária presença de correta quantidade de fibra efetiva na dieta. As diferenças intrínsecas entre os grãos de milho, sorgo, aveia, cevada etc, também influenciam no resultado final do processamento, podendo ser mais efetivo dependendo do grão em questão.

A simples conclusão de que o maior processamento levaria a um maior ganho de peso, não foi encontrada em algumas situações devido ao efeito negativo sobre a fermentação ruminal pela queda acentuada do pH, com o aumento da velocidade de degradação dos carboidratos do grão. Por questões como a descrita acima, outras situações devem ser estudadas para que esses efeitos sejam totalmente desmembrados e o processamento seja usado em situações específicas com o máximo de ganho. Além do aspecto animal, não se deve deixar de lado a avaliação econômica do processo, pois o processamento pode elevar os custos de tal forma, que não seja viável economicamente.

Bengochea et al. (2005) avaliaram diferentes níveis de processamento de milho e cevada para bovinos de corte confinados com níveis médios de concentrado na dieta. Os experimentos foram realizados na Universidade da Dakota do Norte – USA, sendo 14 bovinos canulados para as avaliações de digestibilidade e 287 para avaliações de desempenho e eficiência alimentar. Os tratamentos utilizados foram para o ensaio de digestibilidade foram: moagem grossa, média ou fina dos grãos de cevada. Já para as avaliações de produção foram utilizadas moagens finas, médias e grossas dos grãos de milho e cevada, avaliando não só o processamento, como a fonte do amido também.

As dietas experimentais foram formuladas com 12,5% proteína bruta (PB) e, partículas dos grãos moídos grosso com tamanhos médios de 2,77 micrometros, média 2,12 e fina 1,39.

Com o aumento do nível de processamento, foi observada queda linear na ingestão de matéria seca (IMS), quando relacionada ao peso vivo (PV) (Tabela 1). Respostas em ingestão de matéria seca apresentam resultados contraditórios na literatura, ora diminuindo com aumento do processamento, ora sem apresentar alterações. Essas diferenças podem ser explicadas pelas diferentes condições de ambiente ruminal, podendo estar ou não afetando o pH ruminal dependendo dos demais ingredientes da dieta.

Tabela 1. Efeito do grau de processamento do grão de aveia sobre ingestão de matéria seca e enchimento ruminal.


Já para digestibilidade ruminal, aparente e verdadeira, da matéria orgânica, foi observada resposta quadrática, ou seja, aumento nos valores de digestibilidade da moagem grossa para a média, porém diminuindo desta última para a fina (Tabela 2). A mesma resposta foi observada para a digestibilidade aparente da proteína no rúmen, já para digestão verdadeira de proteína no rúmen, não foram observadas diferenças entre os tratamentos, mostrando ter havido provavelmente alteração na reciclagem do N ruminal (Tabela 2). A eficiência microbiana também apresentou resposta quadrática, sendo o maior valor observado para o tratamento com moagem média dos grãos.

Tabela 2. Efeito do grau de processamento do grão de aveia sobre ingestão e digestão.


Nas avaliações de desempenho, foram também avaliadas diferenças no processamento do grão de cevada ou de milho. Não foi observado efeito de processamento sobre o ganho médio diário, como também não foi observada diferença no desempenho entre os diferentes tipos de grãos (Tabela 3). Já para ingestão total de matéria seca, foram observados maiores valores para a dieta com milho em relação à cevada.

Tabela 3. Efeito do grau de processamento dos grãos de aveia e milho sobre as variáveis de produção.


Os resultados acima nos mostram mudanças interessantes nos resultados produtivos em relação ao uso de grãos processados ou não na dieta de bovinos confinados. De forma geral, podemos concluir que a diminuição do tamanho de partículas nas dietas de bovinos de corte confinados pode levar a queda da ingestão de matéria seca total. Isso é devido provavelmente a queda do pH ruminal, o que dependerá também dos demais ingredientes da dieta. A ingestão foi maior para os tratamentos com milho em relação à cevada. E houve uma melhora na eficiência de ganho com o aumento do grau de processamento do grão.

A utilização de processamento de grãos para bovinos de corte confinados pode trazer benefícios a produtividade final, porém deve-se sempre levar em consideração os demais constituintes da dieta, e principalmente, o custo de processamento.

Referências bibliográficas:

REED, J.J.; BAUER, M.L.; LARDY, G.P.; LOE, E.R.; CATON, J.S. Effect of processing on feeding value of sprouted barley and sprouted durum in growing and finishing rations for beef cattle. Prod. Anim. Sci., v. 21, p. 7-12, 2005.

BENGOCHEA, W.L.; LARDY, G.P.; BAUER, M.L.; SOTO-NAVARRO, S.A. Effect of grain processing degree on intake, digestion, ruminal fermentation, and performance characteristics of steers fed medium-concentrate growing diets. J. Anim. Sci., v. 83, p. 2815-2825, 2005.

5 Comments

  1. Elton Bock Correa disse:

    Gostaria de saber que tamanho é o furo da peneira para moagem grossa e fina pois só o fato de dizer moagem grossa não diz o real diâmetro da partícula.

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezado Elton,

    Em reposta a sua dúvida em relação à moagem grossa ou fina, gostaria de esclarecer que são utilizadas medidas para o tamanho de partículas, pois continuaria vago falarmos furo de peneira, devido às grandes diferenças observadas entre os diferentes tipos de moinho. Através do tamanho de partículas, é possível a todos ajustar seu maquinário aos resultados observados. As medidas utilizadas para os tamanhos de partículas são:

    moagem grossa: 3 mm (+/- 0,3)
    moagem média: 2 mm (+/- 0,2)
    Moagem fina: 1,3 mm (+/- 0,13)

    Grande abraço!

    André Alves de Souza
    Doutor – Nutrição e Produção Animal ESALQ/USP – UNESP
    R: Corticeira, 45, B. Vivendas do Bosque,Campo Grande/MS
    cep 79021-180 (67)9988 0878 (67) 326 2050

  3. Ruy Padula disse:

    Parabéns pela matéria.

    Qual seria sua recomendação para equilibrar o PH ruminal, calcário?

    Resposta do autor

    O calcário é um bom tamponante, podendo ser usado para segurar a queda do pH ruminal. Deve ser incluído de 50 a 100 g, dependendo das características da dieta.

    Grande abraço!

    André Alves de Souza
    Doutor – Nutrição e Produção Animal ESALQ/USP – UNESP

  4. Agilson Raimundo de Araújo disse:

    Estou tentando fazer uma suplementação a pasto com sal mineral com 20% de soja, e dando uma suplementação de 4 Kg MS dia de milho triturado com palha e sabugo.

    Pergunto qual a melhor maneira de fornecer esses nutrientes? O soja tem que ser triturado? Qual o ganho de peso dia esperado por animal tendo em vista que o volumoso disponível é a pastagem natural no período da seca (inverno).

  5. André Alves de Souza disse:

    Prezado Agilson,

    O fornecimento de alimentos processados (triturados, etc) apresenta melhor digestibilidade pelo fato de apresentar uma maior superfície de contato para ação das enzimas digestivas.

    Em relação ao ganho de peso esperado, isso depende basicamente dos seguintes fatores: categoria e peso vivo dos animais suplementados e a composição bromatológica da pastagem. Dessa maneira, não poderei “chutar” um desempenho, pois seria somente um “chutão”, ok?

    Espero tê-lo ajudado, estando à disposição para demais esclarecimentos.

    Um forte abraço.