Mercado Físico da Vaca – 29/09/09
29 de setembro de 2009
Mercados Futuros – 30/09/09
1 de outubro de 2009

Efeitos para o pecuarista das recentes fusões e aquisições dos frigoríficos

As notícias desse mês de setembro são surpreendentes para a cadeia da carne brasileira. Depois da fusão Sadia e Perdigão, os dois maiores frigoríficos brasileiros fazem grandes aquisições, fusões e parcerias, se consolidando como as duas maiores empresas brasileiras de carne bovina, além de grande presença em outras carnes e em muitos outros mercados do mundo. O pecuarista irá enfrentar maiores desafios daqui em diante, na comercialização de seus animais. O ponto mais positivo para o pecuarista é que o mercado mundial mostra recuperação para 2010 e o mundo já percebeu que o Brasil será o grande fornecedor de carne bovina.

As notícias desse mês de setembro são surpreendentes para a cadeia da carne brasileira. Depois da fusão Sadia e Perdigão, os dois maiores frigoríficos brasileiros fazem grandes aquisições, fusões e parcerias, se consolidando como as duas maiores empresas brasileiras de carne bovina, além de grande presença em outras carnes e em muitos outros mercados do mundo. Vale lembrar também a frase de Jack Welch sobre fusões: “Não existe fusão, sempre alguém compra alguém”.

O Mato Grosso, por exemplo, tem um elevado percentual de sua capacidade total de abate sob controle do Marfrig, JBS e BRF. Segundo o SIF, a capacidade de abate do estado é de 27 mil cabeças por dia. As três empresas operam hoje cerca de 60% da capacidade do estado. Apenas o JBS controla 45% do total, incluindo arrendamentos do Quatro Marcos e fusão com Bertin. Em regiões como a de Campo Grande/MS, só há uma empresa a se vender, depois da união JBS-Bertin.

Marfrig

O Marfrig, com a compra da Seara, se torna o segundo maior frigorífico brasileiro de bovinos (atrás da JBS) e de suínos e aves (atrás da BRF). Antes da compra, era o quinto em aves e oitavo em suínos. Um dos pontos fortes do Marfrig é a atuação em segmentos com maior valor agregado, como produtos industrializados.

O objetivo da companhia é consolidar essa posição e também aproveitar as sinergias das duas empresas. Por exemplo, a Seara opera o único porto brasileiro privatizado, com custos e eficiência melhores que a média. A presença e reputação das empresas e marcas em inúmeros países do mundo também será reforçada. As duas empresas poderão consolidar ainda mais o acesso a redes varejistas e de foodservice. A utilização “cruzada” das marcas da empresa também pode ajudar, e muito. Aumento no espaço nas gôndolas de supermercados com a presença de marcas reconhecidas.

Terá também ampliação de acesso a importantes mercados internacionais com equipe de venda dedicada, como Japão, China, Rússia, Oriente Médio, Europa e África do Sul, ampliando a carteira de clientes. A Marfrig afirma ser a empresa brasileira mais diversificada em carnes e que exporta para mais de 120 países.

Na apresentação sobre a aquisição da Seara, o Marfrig explicitou que terá maior poder de barganha junto aos fornecedores. É um dos ganhos óbvios do negócio, positivo para a empresa e negativo para os fornecedores (produtores).

Ainda mais recentemente, o Marfrig assumiu as plantas do Margen e do Mercosul. No RS, quase todas as plantas habilitadas a exportar a UE estão sob controle do Marfrig. Com o Margen, a presença no centro-oeste se tornou ainda mais forte.

JBS-Friboi

Um dos pontos fortes do JBS-Friboi é sua eficiência de gestão e processos. Utiliza benchmarks entre suas unidades, forçando/acelerando que cada planta alcance a eficiência máxima em cada ponto de controle. Ou seja, criaram uma cultura onde cada unidade sempre pode melhorar em alguma coisa, pois estão sendo sempre comparados internamente na companhia. Isso reduz perdas, negligência e aumenta os ganhos.

A aquisição da Pilgrim´s e fusão com o Bertin tem muitos pontos positivos para o grupo. Podemos citar a criação da maior empresa de proteínas do mundo, com atuação em todos os continentes e presença em 23 países, liderança em muitos mercados que atua. Há grande potencial de sinergia entre as empresas, podendo aumentar a eficiência de utilização dos sistemas de gestão, logística, comercial e marketing. A compra da Pilgrim´s torna a empresa ainda mais forte e diversificada nos EUA, maior mercado de proteínas animais, onde produtos in natura brasileiros ainda não têm acesso. Conta com presença muito forte nas principais regiões produtoras de carne bovina da América do Sul e consolida o Brasil na posição de maior player no mercado global de proteínas animais.

O ponto negativo para os produtores e pequenos frigoríficos é a concentração de mercado, que diminui o poder de barganha dos produtores e que pode tornar mais difícil a vida dos pequenos frigoríficos, reduzindo ainda mais a competição no setor de frigoríficos. A discussão sobre temas polêmicos (aqui e nos EUA) como empresas frigoríficas operarem confinamentos tende a se ampliar. E em algumas regiões do Brasil, as opções de venda do pecuarista estão ainda menores (ex.: Campo Grande, MS).

Empresas brasileiras de primeiro mundo

Recentemente, Luiz Furlan, da BRF (Perdigão+Sadia), lembrou que não seria possível tornar o Brasil um país de primeiro mundo sem empresas de primeiro mundo. A JBS, BRF e Marfrig estão se tornando empresas brasileiras de primeiro mundo, com presença e importância globais. Isso é positivo para o Brasil.

O maior poder de barganha e também as sinergias entre originação-produção-comercialização podem fazer com que os produtos brasileiros sejam vendidos com preços superiores em todo o mundo. Sem um bom preço pago pelo produto final, é impossível remunerar adequadamente toda a cadeia.

O outro lado

As outras empresas frigoríficas no setor de bovinos terão que encontrar formas de se diferenciar no mercado, seja para atrair bons fornecedores de gado para abate, seja para vender bem seus produtos no mercado.

Uma das possíveis vantagens das empresas menores é sua maior proximidade com clientes e fornecedores. Murilo Dorazio, CEO do frigorífico Mataboi, disse no Interconf há duas semanas: “Estamos próximos do pecuarista, enquanto o JBS está muito ocupado com os bilhões”, arrancando aplausos da platéia. O desafio dos pequenos não será fácil, mas há espaço.

E o pecuarista?

O pecuarista irá enfrentar maiores desafios daqui em diante, na comercialização de seus animais. Há menos compradores para seu gado gordo. Há compradores maiores, com poder de barganha que controlam cada vírgula dos seus negócios. Haverá menos espaço para uma comercialização baseada em negligência do comprador.

Por outro lado, haverá mais espaço para quem tiver gado de qualidade, e souber negociar. É provável que os contratos de longo prazo aumentem. Também é provável que cada vez mais, pecuaristas com boa gestão e mais eficientes se organizem em grupos ou associações, visando compra e venda com mais volume, barganha e informação de mercado.

O ponto mais positivo para o pecuarista é que o mercado mundial mostra recuperação para 2010. O mercado interno continua crescendo em consumo. E em 2010 crescerá ainda mais. O mundo percebe de forma cada vez mais clara que o Brasil será o grande fornecedor de carne bovina. Nossos custos e eficiência são melhores que dos nossos concorrentes, que enfrentam outros problemas. Os EUA têm custos muito mais altos, a Argentina problemas políticos mais severos que o Brasil e a Austrália enfrentou secas históricas nos últimos anos e não tem tanto potencial para expansão da produção, nem por área nem por produtividade.

0 Comments

  1. Ivan Luiz Coelho Neto disse:

    Há alguns anos que as perspectivas futuras são as mesmas:
    União de frigoríficos, encarecimento do custo de produção, marges apertadas e possibilidade de ganho apenas através da escala e da eficiência.
    Essas recentes mudanças (BRF e JBS-Bertin) apenas corroboram este cenário.

    Esse caminho, o ganho de eficiência, está sendo percorrido pelos produtores, alguns de maneira mais lenta, outros de maneira mais rápida.
    O único ponto em que não vejo progressos significativos é quanto à comercialização.
    Um pequeníssimo número de produtores consegue esse diferencial, e não necessariamente devido a méritos próprios, na maioria das vezes devido a localização e a compradores dispostos a pagar melhor por qualidade.
    Muitos produtores, mesmo sendo ótimos gestores e receptíveis a novas tecnologias, não conseguem mudar a maneira de comercializar seus animais.

    Acredito que este seja o grande desafio que estamos vivendo, e infelizmente não vejo um futuro promissor a curto e médio prazo.

  2. Fábio de Souza Fonseca disse:

    A pecuária entra em uma nova fase que deve ser vista como uma grande rede mundial de negócios, onde o pecuarísta passa a ser um fornecedor especializado de carne para mercados distintos. A tecnologia de inseminação artificial com sêmem sexado deve ser comercialmente e economicamente viável em pouco tempo e isto possibilitará um perfeito planejamento por parte da indústria com o objetivo de atender as especificações de um mercado exigente no que concerne a raças, idade, condição de acabamento e flúxo de mercadoria. A cadeia produtiva é extremamente benéfica se não for autofágica, manipulando-se o mercado futuro com a intenção de expoliar o setor menos organizado da cadeia (pecuaristas), com uma visão absolutamente míope esquecendo-se de que “todo reino dividido contra sí mesmo não poderá subsistir”.

  3. Ricardo Jose Ribeiro disse:

    Com certeza, todos os lados da cadeia produtiva estão procurando uma evolução, atraves de grandes fusões entre empresas, para ser mais competitivas no mercado global.
    Só falta os produtores se organizarem melhor, para obtenção de lucros e sucesso….

  4. Emerson Figueira disse:

    De fato, é impossível evitar o crescimento das grandes empresas.
    Mas minha preocupação continua com a grande atuação dos frigoríficos na produção de boi gordo (confinamento).
    Se o maior comprador de boi gordo for também o maior produtor, não vejo como não haver manipulação da lei de mercado.
    Se não se pode barrar a fusão de grandes empresas é preciso limitar a sua atuação na produção do boi gordo.

  5. Jucelino dos Reis disse:

    Sr. Ivan, concordo com suas colocações. O Sr. só esqueceu de mencionar que ainda temos o governo a nos atrapalhar, com: quilombolas, índios, MST, IBAMA, MT, impostos, e SISBOV inoperante, índices de produtividade, e mais a pretensa reforma agrária, etc… etc….

  6. Paulo Cesar Bassan Goncalves disse:

    A industria de transformação se moderniza através de processos administrativos e de fusão/incorporação para enfrentar o comércio globalizado, portanto o produtor terá que mudar suas práticas de administração e comercialização. O mais difícil será a adaptação cultural. Espero estar vivo para ver pecuarista se unindo em função de seu negócio.

  7. Alexandre de Arujo Freitas disse:

    Bem sou produtor no estado do pára e nao vejo muita vantagem, para os pecuaristas nao. por exemplo fui vender um lote grande de bois e nao tive preço diferente nao. Hoje o que faz a diferença e ter a fazenda mais perto do frigorifico , fora isso tanto faz vender 200 ou 2000 , as empresas fazem o que querem.

  8. Roberto Jacob Filho disse:

    É triste olhar para o horizonte e ver que os grandes estão ficando cada vez maiores e sufocando os pequenos, que estão ficando sem margem para trabalhar dignamente. Antes eu comprava carne para distribuir aos hotéis, restaurantes,etc, e tal foi minha surpresa ao ver que um de meus fornecedores, que acaba de adquirir uma mega empresa de aves e suinos, estava entregando 3 cxs de contra filé a um cliente meu ao mesmo preço que havia me vendido 5 tons.Acabando com os pequenos e médios, os grandes dinossauros podem sofrer um colapso tbm, será q eles não atentam para isso???

  9. Diogo Paiva Correa. disse:

    Boa tarde , primeiramente quero saudar o pecuarista Alexandre por ser amigo particular e parabeniza-lo pela dinamica em que sua familia toda atua no setor de agronegocios , seja nas fazendas , seja no proprio ramo Frigorifico onde ja foram proprietarios de uma planta que hoje é do Bertin , seja nas usinas… Em segundo lugar acho que o otimisto é ponto forte do brasileiro e nesse caso nao podemos ser diferentes , temos um ponto positivo que ha se ser destacado nessas operaçoes que é a solidez dessas empresas considerando que oque quebra o pecuarista é vender o gado para um Frigorifico que posteriormente venha a nao honrar com o pagamento , oque vimos muito nesses ultimos anos em todo territorio nacional. Portanto um ponto positivo dessas operaçoes é que o pecuarista vai o gado vender sabendo que ira receber, oque torna possivel a reposição do gado e o crescimento da cadeia produtiva.

  10. Emerson Augusto Lourenço disse:

    A fusão no setor de carne tem um aspecto positivo para as empresas frigoríficas, que se mostram mais fortes mundialmente, enquanto a carne brasileira, apenas ganha mercado pelo custo e não pela qualidade, onde produtores se esperneiam para baixar seus custos, buscando uma melhor remuneração, já que através da qualidade não é recompensado. Será que a interesse dos frigoríficos em melhorar a qualidade? Um grupo seleto de Produtores, que algum tempo atrás estava recebendo ágil por participar de uma Lista, hoje se vê em condições parelhas com os que não a pertence, já que em qualquer momento de desabono dos Frigoríficos, eles buscam também baixar seus custos, assim esquecem de remunerar melhor a qualidade. A saída é sempre a mesma, correr contra os problemas e acreditar na profissão.

  11. Carlos Eduardo Rocha de Lima disse:

    Infelizmente temos poucas opções. Quando terminamos uma boiada caímos num funil: ou vendemos para os grandes grupos tornando reféns dos seus preços, ou vendemos para os pequenos frigoríficos e rezamos para receber ao final do prazo. Hoje a nossa situação traduz-se desta forma:”se correr o bicho pega e se subir na árvore morre de tiro”. Que Deus nos proteja. Abraços.

  12. Eduardo Pereira de Avila disse:

    Está passando de hora para comercializarmos nossos produtos atraves de uma cooperativa, mas , tambem uma cooperativa forte, que possa dar suporte ao pequeno e medio produtor com recursos da propria cooperativa.

    Mmas, ai pergunta- se como a cooperativa vai ter os recursos?
    Resposta : atravez de uma arrecadaçao de cada boi vendido, um valor como o funrural por exemplo, que por sinal nao existia e deveria ser extinto.
    O unico problema de tudo isso e´ quem poderia gerir esta cooperativa, tendo no curriculo competencia para negociar, honestidade, credibilidade,poder para aglutinar esta classe tao desunida que sao os agropecuaristas!

  13. Adimar Leonel Souto disse:

    Como citado em depoimentos anteriores as grandes empresas do ramo estão se organizando para atender toda a cadeia do consumo de carnes, desde o abate ate a entrega ao consumidor final, em 1a análise entendemos ser uma forma de baixar custo motivando o consumo, porém, há de se acompanhar este processo para entender se realmente este é o foco ou se é apenas para aumentar as margens das grandes empresas, se a 2a opção for a desejada não vemos nenhuma vantagem nisto e sim o sacrificio de uma gama de trabalhadores em detrimento ao privilegio de poucos.
    Abraços a todos…