Por Rafael da Costa Cervieri 1
A terminação de bovinos em confinamento possibilita destinar mais animais para abate por ano, aumentando o desfrute da propriedade e os ganhos em produtividade. Mesmo com custos elevados de alimentação (aquisição de alimentos concentrados e produção de volumoso para corte), e custos operacionais, as vantagens citadas acima e a possibilidade de ganhos na valorização da @ de boi magro para boi gordo, melhor acabamento, aumento do rendimento de carcaça e redução da lotação das pastagens na época seca, tornam a engorda em confinamento atrativa.
Sempre que abordamos o assunto confinamento surge a preocupação quanto ao custo da alimentação (responsável por grande parte dos custos de produção). Sem dúvida este é um aspecto que exerce grande impacto sobre a economicidade da operação, sendo que técnicos e produtores buscam minimizar o custo da dieta, seja reduzindo o custo por animal/dia ou buscando o menor custo por unidade de matéria seca, visando sempre obter a maior rentabilidade possível.
Entretanto, minimizar o custo de uma dieta talvez não nos permita obter o melhor retorno econômico. Existem dois aspectos que devem ser analisados conjuntamente ao custo de uma dieta: o ganho de peso diário e a eficiência com que o bovino irá converter a ração ingerida em ganho de peso.
Qualquer avaliação que possa ser feita sobre o impacto da adoção de determinado sistema de produção recai sobre as eficiências biológica e econômica.
Sob o ponto de vista biológico, a eficiência é traduzida pela conversão alimentar, que por definição refere-se ao quanto de alimento é ingerido (na base matéria seca) para que o animal ganhe um quilo de peso vivo. Por exemplo, se em um lote de animais a ingestão média de matéria seca (MS) for de 10,5 kg durante o período de confinamento e o ganho de peso obtido for de 1,25 kg/dia, a conversão alimentar será de 8,4 kg de MS/kg de ganho. Se em um outro lote o ganho de peso for de 1,10 kg/dia para o mesmo consumo e dieta, a conversão alimentar será de 9,5 kg de MS/kg de ganho, ou 13% maior. Fica claro que quanto menor for a conversão alimentar, maior ou melhor será a eficiência.
Dentre os fatores que interferem na conversão alimentar, podemos destacar o grupo racial, a idade ou fase de crescimento, o tipo de dieta e a utilização de aditivos e a condição corporal do animal. Em geral, animais oriundos de cruzamentos com raças taurinas, animais mais jovens (garrotes, bezerros), dietas com maior teor de alimentos concentrados (maior teor energético ou NDT), uso de ionóforos (aditivos modificadores da fermentação ruminal) e animais magros, com baixa condição corporal (que manifestam crescimento compensatório no início da engorda) apresentam melhor conversão alimentar.
Do ponto de vista econômico, a eficiência pode ser avaliada pelo custo do ganho de peso ou em termos mais práticos, pelo custo da @ engordada. O ganho de peso, a conversão alimentar e o custo da dieta são os fatores determinantes da eficiência econômica. Por exemplo, quanto melhor for a conversão alimentar para uma mesma dieta, menor será o custo da @ engordada.
Outra questão importante: será que uma dieta de custo mínimo gera sempre o maior retorno no confinamento? Para responder esta questão é necessário avaliar justamente o custo do ganho ou custo da @ engordada. Na simulação apresentada na Tabela 1, podemos visualizar que o custo da @ engordada quando da utilização de uma dieta de custo mínimo (Dieta 1) foi mais elevado que o da Dieta 2 (formulada para maior ganho de peso diário), apesar desta apresentar maior custo diário.
Tabela 1. Comparativo entre duas dietas para confinamento*.
Tanto a eficiência biológica como a eficiência econômica podem ser medidas pelo custo do ganho ou custo da @ engordada. Desta forma, devemos ficar atentos não somente a formulação de dietas de menor custo, e sim ao ganho de peso e a eficiência com que o bovino irá utilizá-la. Devemos buscar sempre reduzir o custo do ganho ou custo da @ engordada, mesmo que isto seja obtido a partir de dietas de custo mais elevado. A utilização de animais de bom potencial de ganho, rações adequadamente formuladas e bom manejo de cocho são ferramentas importantes para redução do custo do ganho e maximização do lucro.
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1 Zootecnista, Dr. Nutrição e Produção Animal e Professor da Universidade São Marcos
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É um ótimo artigo, visto que se consegue esclarecer os pontos fortes do confinamento, apesar dos custos altos com alimentação. Porém acredito que possam ser abordados dois outros itens importantes que podem favorecer a utilização desta importante ferramenta de manejo que são:
1- A utilização do confinamento para um manejo de aumento de lotação da propriedade rural, quando se utiliza os sistemas de pastejo rotacionados e adubação na fazenda, e;
2- Associar o valor de aquisição dos animais, e contabilizar o lucro ao lote de bois que estão destinados ao confinamento.
São sugestões que poderiam valorizar o uso mais intensivo do confinamento, principalmente em nossa região, onde as propriedades estão cada vez menores devido a concorrência com a cana-de-açúcar.
Obrigado pela oportunidade. Vocês estão de parabéns.