SRB debate novas regras do Sisbov
17 de fevereiro de 2006
Rússia: Roberto Rodrigues cobra explicações da SDA
21 de fevereiro de 2006

Eficiência biológica e econômica de bovinos de corte: suplementação na cria e recria

Por Rafael da Costa Cervieri1

É de conhecimento de todos que animais jovens como bezerros e garrotes são bons ganhadores de peso e eficientes em converter alimento em ganho. A fase de crescimento em que se encontram, na qual há grande desenvolvimento muscular até a puberdade, é responsável pela melhor eficiência. Sem dúvida, dentre as etapas do ciclo pecuário, devemos explorar este atributo manifestado na cria e recria, aliando práticas de manejo e disponibilizando nutrientes de maneira estratégica, onde as respostas biológica e econômica podem ser atrativas.

Neste contexto, estratégias de suplementação de bezerros ao pé da vaca (creep-feeding) e principalmente o fornecimento adicional de proteína (sal proteinado) na primeira e/ou segunda seca da recria do animal, tornaram-se práticas comuns em propriedades que produzem novilhos precoces. Mas cabe o questionamento: será que do ponto de vista econômico é sempre vantajoso suplementar? É necessário que façamos uma conta simples, mas fundamental para obtermos a resposta, que é o custo do ganho adicional, o qual envolve as eficiências biológica e econômica. O custo do ganho adicional nada mais é do que a relação entre a quantidade de suplemento ingerida dividida pelo ganho de peso adicional que animais suplementados apresentam em relação àqueles que não receberam nenhum tipo de suplemento, somente pastagem, por exemplo.

Creep-feeding na fase de cria

Em geral, os melhores resultados quanto à eficiência e aumento do ganho de peso dos bezerros são observados quando as condições de ambiente não são favoráveis para permitir a expressão do potencial genético do animal, destacando as seguintes: 1- Forragem com alto conteúdo de fibra e baixa digestibilidade; 2- Pouca disponibilidade de forragem; 3- Vacas de baixa produção leiteira com bezerros cruzados ao pé. Quanto mais desfavoráveis forem as condições para o bezerro, melhores serão as respostas em termos de suplemento consumido/kg de peso adicional, refletindo positivamente na eficiência e na rentabilidade da técnica.

Foram realizadas simulações nas quais o ganho adicional variou, mas o valor do bezerro (por kg de peso vivo) permaneceu constante. O ganho adicional foi calculado estipulando as possíveis diferenças entre o peso de bezerros suplementados e não suplementados (quanto de peso a mais os animais que recebem creep-feeding podem ter na desmama. Por exemplo, se o peso normal na desmama for de 190 kg e ao fornecer creep-feeding atinge-se 220 kg, o ganho adicional será de 30 kg). Dados utilizados na simulação: custo do kg de concentrado: R$ 0,45; consumo de 0,7% do peso vivo (111,7 kg de matéria seca (MS) de suplemento em 120 dias de suplementação); a eficiência foi calculada pela divisão da quantidade total de concentrado consumida pelo ganho adicional (por exemplo, para o consumo de 111,7 e ganho adicional de 10 kg, teríamos: 111,7/10 = 11,2); o preço do bezerro foi estipulado em R$ 2,00/kg de peso vivo. Na Tabela 1 são apresentados os resultados.

Tabela 1. Custo do ganho adicional mediante suplementação de bezerros em creep-feeding.


Verifica-se que somente a partir de 25 kg de ganho adicional, o creep-feeding se torna economicamente vantajoso neste cenário. Obviamente que o custo do suplemento exerce grande impacto sobre os resultados. Para cada nível de ganho adicional o custo máximo do suplemento (ponto de nivelamento) sofreria a seguinte variação:


Fica claro que quanto melhor for a eficiência biológica, maior será o retorno da suplementação. Dados de literatura mostram que em média a eficiência do creep-feeding é da ordem de 4 kg de suplemento por kg de ganho adicional, correspondendo nesta simulação ao ganho adicional entre 25 e 30 kg.

Sal proteinado na recria

Um dos fatores responsáveis pela idade avançada de abate dos bovinos no Brasil é o baixo desempenho na fase de recria caracterizada por períodos de seca. Por isso, soluções que viabilizem melhor desempenho na primeira e/ou segunda seca após a desmama do bezerro resultariam, não só na redução da idade de abate, mas também no aumento do desfrute do rebanho, na melhoria da eficiência do empreendimento e maior giro do capital. Dentro deste contexto, a suplementação a pasto tem se mostrado uma alternativa economicamente viável para se melhorar o desempenho da recria, possibilitando, desta forma, a produção de novilho precoce (EUCLIDES et al., 1995).

A suplementação de animais em pastejo e sua eficiência (kg de ganho/kg de suplemento) podem ter diferentes respostas produtivas já que depende de numerosos fatores e de suas interações. Estes fatores se resumem em: (PAULINO, 2001)
– Alimento: pasto – tipo, qualidade, disponibilidade; suplemento – tipo, quantidade, qualidade e forma de apresentação;
– Animal: potencial genético, antecedentes nutricionais e estado fisiológico;
– Manejo: oferta de pasto, sistema de pastejo, distribuição do suplemento.

De acordo com BOIN (2001), o fornecimento de proteinado com 40 a 50% de PB na base de 1,0 a 2,0 g/kg de PV para bezerros recém desmamados, possibilita respostas da ordem de 0,5 a 1,0 g de ganho por grama de proteinado consumido, ou seja, para cada 100 de proteinado resulta em 50 a 100 g de ganho de peso adicional. Para novilhos e garrotes a resposta seria de 40 a 60 g de ganho para cada 100 g de suplemento consumido.

Para a avaliação da suplementação na seca, o período pós-desmama (primeira seca), foi escolhido, em um cenário no qual os bezerros desmamados receberiam suplemento protéico (35% de PB) na oferta de 0,3% do peso vivo durante 180 dias. Nesta fase, é prioritário que os bezerros sejam suplementados e ganhem peso, mesmo que modesto, no intuito de não interromper seu crescimento. Dados utilizados na simulação: custo do kg do suplemento: R$ 0,70; consumo de 0,3% do peso vivo (117,2 kg de MS em 180 dias de suplementação); a eficiência foi calculada pela divisão da quantidade total de suplemento consumida pelo ganho adicional; o preço do bezerro foi estipulado em R$ 2,00/kg de peso vivo.

Tabela 2. Custo do ganho adicional mediante suplementação com sal proteinado na primeira seca.


A partir de aproximadamente 40 kg de peso adicional, a utilização do sal proteinado seria vantajosa. Este nível de ganho adicional, da ordem de 1 grama de ganho para cada 3 gramas de suplemento protéico, está acima da média observada na literatura quando da suplementação de bezerros pós-desmama, que é de 0,5 a 1,0 grama de ganho para cada grama de suplemento ingerido, que na simulação corresponderia a ganhos acima de 60 kg de peso vivo. O ganho de peso diário adicional mínimo (ponto de nivelamento) seria de 228 gramas/dia (41 kg de peso adicional em 180 dias).

Sem dúvida as fases de cria e recria são boas oportunidades para intensificação da produção de bovinos de corte, pois estas têm a seu favor a eficiência de ganho de animais em idade jovem, os quais apresentam melhor conversão alimentar que animais mais erados ou em terminação. Cabe avaliarmos o custo do ganho adicional para conferirmos, dentro de cada condição de manejo, se realmente a maior eficiência do animal é economicamente vantajosa.

Referências bibliográficas

BOIN, C. Suplementação protéica e energética de animais em pastejo, manejo e custo benefício. Parte III: Custo benefício da suplementação protéica. beefpoint.com.br, Radar técnico – Nutrição. Acesso em 09/01/2001.

EUCLIDES, V.P.B. et al. Suplementação a pasto: uma alternativa para produção de novilho precoce. Gado de Corte Divulga, CNPGC-EMBRAPA, n. 01, 1995.

PAULINO, M.F. Suplementação energética e protéica de bovinos de corte em pastejo. In: SIMPOSIO GOIANO SOBRE MANEJO E NUTRIÇÃO DE BOVINOS, CBNA, 2001, Goiânia. Anais… Goiânia: CBNA, 2001, p. 121.

______________________________________
1Rafael da Costa Cervieri é Zootecnista, Dr. Nutrição e Produção Animal e Professor da Universidade São Marcos

0 Comments

  1. Rogério de Paula Lana disse:

    As Tabelas 1 e 2, baseadas em simulação, ilustram que ganhos mais elevados estão associados a melhores eficiências de uso de suplemento. Na realidade, a suplementação segue a lei dos rendimentos decrescentes, em que maiores ganhos de peso são obtidos com maiores níveis diários de suplementação, mas a resposta em ganho de peso não segue a suplementação em mesma proporção.

    Segundo BODINE e PURVIS (2003), conversão de suplemento por bovinos em crescimento em pastagens menor que 3:1 indica deficiência de nitrogênio (suplementação nitrogenada, de baixo consumo) e maior que 8:1 é típica de suplementação energética (acima de 1 kg/animal/dia).

    Resultados de pesquisa publicados por nós recentemente (Abstract M165 – J. Anim. Sci, v.83, supl 1, p.51, 2005), indicam que conversão de suplementos (kg supl/kg GDP) piora com o aumento no nível de suplementação (1,5:1; 7:1; e 40:1 para 0,4; 1,6; e 3,2 kg de supl com 24% de PB/anim/dia comparado com o tratamento ou nível anterior), confirmando a observação de BODINE e PURVIS (2003). Entretanto, em outra publicação (Abstract T239 – J. Anim. Sci, v.82, supl 1, p.222, 2004), obtive valor de 10:1 com base em análise de dados de várias pesquisas em conjunto, e este valor está próximo dos 11,2:1 citados neste artigo, e que é realidade para a maioria dos trabalhos com suplementação (faixa entre 8 a 12:1).

    Rogério de Paula Lana – Professor – DZO/UFV

  2. Jose Carlos o Farrill Vannini Hausknecht disse:

    Deve-se ter certo cuidado em relação aos cálculos de suplementação de animais jovens com relação aos efeitos sobre o crescimento, posteriores a suplementação, principalmente no caso do creep-feeding. Muitas vezes o aumento no ganho de peso neste período pode prejudicar o ganho posterior e anular os efeitos conseguidos.

  3. Marcelo Franco Paes Leme disse:

    Os números estão bem coerentes quando se tem pastos com bom manejo, disponibilidade, qualidade do material, entre outros. E no momento os resultados econômicos são maiores, pois o custo do suplemento é menor.