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Eficiência na observação de cios: 2ª parte

Por Dr. Carlos Antônio de Carvalho Fernandes 1

Continuando sobre eficiência de observação de cios, será discutido a seguir sobre esta atividade, quando se utiliza sincronização, por qualquer método.

A sincronização de cios é uma ferramenta de manejo que visa a concentração dos cios dos animais num curto período de tempo, pré-determinado. Não se aplica em propriedades onde se pratica a monta natural, pois quando muitas vacas apresentam cios num curto período, isto extrapola facilmente a capacidade de cobertura e possibilidade de fertilização pelos touros. Assim sendo, é uma técnica que se utiliza em casos de inseminação artificial. Para tanto, os cios devem ser detectados a fim de se determinar o horário exato para inseminação. Nos casos de sincronização em programas de transferência de embriões a necessidade é a mesma.

Figura 1: Quando se utiliza sincronização a atenção deve ser maior


A observação de cio quando um grupo de animais entra nesta fase do ciclo simultaneamente apresenta aspectos um pouco diferentes de quando estes cios não são sincronizados. Se por um lado a presença de mais vacas em cio podem estimular ou mesmo fazer com as fêmeas permaneçam mais tempo exibindo sinais característicos ou seja, aceitando monta, um número grande destes animais torna a observação mais confusa e sujeita a falhas.

Na maioria das vezes, interessa se o animal manifestou estro e quando iniciaram estes sinais. Assim sendo, quando existe um grupo grande de animais em cio ou próximos do cio, como estes tendem a se aglomerar, é interessante que se anote e aparte as fêmeas assim que as mesmas sejam determinadas em cio. Desta forma a atenção é concentrada nas demais do lote, aumentando a eficiência. Quando a apartação não é viável ou possível, procurar concentrar a atenção naquelas que ainda não foram determinadas em estro.

Outro problema relacionado ao aumento no número de cios num curto período é a maior possibilidade de ocorrência de falso-positivo, ou seja, indicação de uma fêmea em estro sem que isto efetivamente esteja ocorrendo. Daí a necessidade de maior atenção e de maior tempo de observação quando existe maior incidência de cios simultaneamente.

Experimento 2: Eficiência na detecção de cio sincronizado

Realizou-se o seguinte experimento: num período de 4 meses foram sincronizadas 432 fêmeas bovinas pela aplicação de um análogo da prostaglandina (Cloprostenol). Somente foram utilizados animais que no dia da aplicação do produto luteolítico se encontravam entre os dias 6 a 17 do ciclo estral.

Para avaliar a real eficiência de sincronização uma amostra de sangue, foi coletada imediatamente antes e outra 24 horas após a aplicação do luteolítico. Estas amostras de sangue foram avaliadas posteriormente por Radioimunoenssaio para detecção das concentrações de progesterona. Desta forma pode ser avaliar exatamente a eficiência de sincronização e determinar qual animal realmente apresentou condições endócrinas de manifestação de cio. O cio apenas pode ocorrer em animais onde a progesterona sofreu queda significativa.

Após as aplicações do cloprostenol, os animais foram mantidos em piquetes, na presença de rufiões na proporção de 1:30. O reflexo de imobilidade foi o sinal para se considerar a fêmea em cio. Foram consideradas fêmeas que manifestaram cio até 96 horas após a aplicação do luteolítico.

Assim que o animal foi detectado em cio, num grupo de sincronização, o mesmo foi retirado do lote, para facilitar a observação nos demais. Os resultados da eficiência de observação, comparada com a queda de progesterona está na Tabela 1.

Tabela 1: A eficiência de observação de cios após sincronização, comparando com a queda de progesterona.


A eficiência de sincronização foi conseguida dividindo-se o número de animais que receberam o tratamento pelo total de animais onde este tratamento apresentou o efeito desejado, ou seja, houve luteólise, confirmado pela queda de progesterona entre os dois períodos de análise. Somente animais que apresentaram queda deste hormônio têm condições de apresentar cios.

Desta forma, somente manifestaram cio 403 animais. Foram observados 388 cios, porém 5 não corresponderam a animais que apresentaram queda na progesterona. Estes animais foram considerados em cio porém não se encontravam nesta fase do ciclo. Trata-se de um erro chamado falso positivo, mais freqüente quando vários animais apresentam cio simultaneamente. Isto é confirmado quando se comparam os dois experimentos. No primeiro trabalho apenas um erro de falso positivo em 169 observações (0,59%) quando os cios não foram sincronizados.

Retirando estes 5 animais cujos cios foram considerados erroneamente, dos 403 que sofreram luteólise 383 foram corretamente assinalados em cio. Uma eficiência de 95,06%. Um resultado melhor que quando se observa os cios sem sincronização, como mostrado no experimento 1.

Os dois experimentos mostram que quando se dedica de forma correta a observação de cios, investindo em treinamento de pessoal e utilizando de uma forma correta as alternativas de manejo existentes neste sentido, pode-se conseguir ótimos resultados.

Sem dúvida, vale a pena considerar esta possibilidade!

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1 Med. Vet. D.S. e Diretor Técnico da Biotran

0 Comments

  1. Felipe Cordeiro disse:

    Olá Carlos Fernandes,

    Mais uma vez parabenizo você pela iniciativa de nos mostrar cada vez mais a importância da detecção de cio corretamente realizada.

    Como uma sugestão, seria notadamente interessante o desenvolvimento de um arquivo que falasse sobre estratégias de manejo para um melhor índice na utilização da inseminação artificial, prática já bem difundida pelo Brasil, porém mal realizada em muitas propriedades que adotam o sistema. Poderia ser falado sobre manejo das fêmeas, formação de lotes, relação observador: lotes, relação vacas a serem inseminadas; quantidade de inseminadores, tempo de observação de estro; volume de lotes, enfim, todas as práticas que muitas propriedades e técnicos adotam, porém de uma forma errônea, comprometendo os índices reprodutivos.

  2. Irezê Moraes Ferreira disse:

    Primeiramente quero parabenizá-lo pelo excelente artigo e de vital importância em uma propriedade que irá executar IA ou IATF, pois concordo plenamente que muitos técnicos relaxam no aspecto detecção de cio e também querem “vender” a IATF como uma tecnologia onde não é preciso cuidar do cio, pois isso só fará com que tenhamos insucesso e o pior é a queda da credibilidade em uma tecnologia que se bem aplicada poderá nos trazer muito serviço como técnicos de campo e bons resultados em termos de resultado para os produtores.

    Fui aluno de um curso de Pós-Graduação em Reprodução Animal no qual o Dr. Antonio Carlos nos passou muitas orientações de ótimo nível.