Devido ao grande interesse por parte de produtores e veterinários no uso de sêmen sexado em bovinos, neste artigo, estarei apresentando alguns dados de um experimento (Schenck et al., 2006) relacionado ao uso do sêmen sexado em vacas e novilhas superovuladas.
Devido ao grande interesse por parte de produtores e veterinários no uso de sêmen sexado em bovinos, neste artigo, estarei apresentando alguns dados de um experimento (Schenck et al., 2006) relacionado ao uso do sêmen sexado em vacas e novilhas superovuladas. Vale lembrar que estes resultados foram obtidos em condições ideais de manejo (nutrição, sanidade, qualidade do sêmen, qualidade da IA, etc). E, como bem lembrado por veterinários nos comentários de artigos anteriores, boas condições de manejo são essenciais para o sucesso de qualquer programa reprodutivo.
Como discutido por Schenck et al. (2006) no referido artigo, vacas superovuladas, normalmente apresentam menor eficiência no transporte espermático no seu trato reprodutivo. Sendo que as taxas de falha na fertilização, na maioria dos estudos, são cerca de 12-15% em animais não superovulados e de 35-40% em animais superovulados. Deste modo, a principal hipótese deste estudo foi avaliar o efeito do tipo de sêmen (sexado vs. convencional) e se diferentes doses de sêmen sexado podem afetar a quantidade e qualidade de embriões produzidos in vivo em vacas e novilhas de corte e em novilhas de leite superovuladas.
Schenck et al. (2006) utilizou vacas e novilhas de corte da raça Angus (experimento 1) e novilhas de leite da raça Holandesa (experimento 2).
No experimento 1, os tratamentos superovulatórios foram iniciados aproximadamente no décimo dia do ciclo estral (utilizou o “cio base” para o início da superovulação), e os animais foram inseminados 12h e 24h após a detecção de cio no final do procedimento superovulatório. Os grupos experimentais foram: grupo não sexado (40×106 espermatozóides/dose); grupo sexado (10×106 espermatozóides/dose) e grupo sexado (2×106 espermatozóides/dose).
No Experimento 2, utilizou-se novilhas holandesas, sendo que os animais foram sincronizados com um dispositivo intravaginal (consultar o artigo original para detalhes do protocolo hormonal) e foram inseminados com apenas uma dose de sêmen 70-72h após o tratamento com PGF2α. Os grupos experimentais foram: grupo não sexado (40×106 espermatozóides/dose); grupo sexado (20×106 espermatozóides/dose) e grupo sexado (2×106 espermatozóides/dose).
No experimento 1 (vacas e novilhas de corte Angus), os pesquisadores relataram que, na média combinada de vacas e novilhas, o grupo que recebeu o sêmen convencional (não sexado) apresentou significativamente maior porcentagem de oócitos fertilizados, sendo, grupo não sexado (40×106 esptz/dose), 69%; grupo sexado (10×106 esptz/dose), 49% e grupo sexado (2×106 esptz/dose), 40%.
E de embriões transferíveis o grupo não sexado (40×106 esptz/dose), 8.7; grupo sexado (20×106 esptz/dose), 4.1 e grupo sexado (2×106 esptz/dose), 3.3, se comparado aos grupos que receberam sêmen sexado.
No experimento 2 (novilhas de leite), foi observado que o número de embriões transferíveis foi menor no grupo que recebeu o sêmen sexado, na dose de 2×106 esptz/dose, comparado com o grupo que recebeu sêmen convencional (não-sexado) na dose de 40×106 esptz/dose. Mas que apesar disso o grupo que recebeu sêmen sexado de 20×106 esptz/dose apresentou um número similar de embriões transferíveis que o grupo que recebeu sêmen não-sexado de 40 x106 esptz/dose (sexado-20×106 esptz/dose=2.0; não sexado-40×106 esptz/dose=3.1).
O interessante também é que os autores ainda reportaram que a taxa de concepção de receptoras após a transferência dos embriões frescos produzidos no Experimento 2, foi similar para embriões originados dos grupos sexado (taxa de concepção de 67%, n=83) e não sexado (taxa de concepção de 63%, n=102).
Os dados de concepção após transferência dos embriões congelados também não foram estatisticamente diferentes (sexado=40%, não-sexado=89%), porém o número de transferências analisadas por grupo (sexado, n=5; não-sexado, n=9) foi muito pequeno para se tirar conclusões reais sobre uma possível diferença em fertilidade de embriões congelados produzidos por sêmen sexado ou convencional. Ainda, foi reportado que a eficiência do processo de sexagem foi de 95% na predição correta do sexo do bezerro após seu nascimento.
Mais experimentos são necessários para aumentar a eficiência do uso de sêmen sexado em vacas e novilhas superovuladas. Além disso, mais dados são necessários para se avaliar a viabilidade econômica do uso do sêmen sexado em vacas e novilhas Taurinas e Zebuínas superovuladas nas condições tropicais brasileiras.
Referências bibliográficas
Embryo production from superovulated cattle following insemination of sexed sperm. Schenk JL, Suh TK, e Seidel Jr. Theriogenology 65 (2006); 299-307.
0 Comments
Além de lindo, este trabalho é super importante, principalmente em biotecnologia de bovinos leiteiros, área da pecuária que mais imprega trabalhadores e técnicos, portanto apresenta importante papel econômico-social.
Mas infelizmente necessita-se de “mais experimentos” e “mais dados”para difundir uso do sêmen sexado para T.E.. Resta para nós, técnicos , esperar ansiosamente os futuros resultados, torcendo para ser positivo, afim de podermos ajudar com mais eficiência nossos clientes a maximizar o lucro.
Parabéns, adorei este artigo.
Gostei do artigo, achei muito interessante, mas gostaria de saber se já existe um trabalho deste nivel com novilhas/vacas, com inseminação utilizando-se observação de cio natural, para semem sexado.
Quais os resultados, para os índices de fertilidade, e de sexagem?
Desde já agradeço a oportunidade.
Resposta do autor:
Prezado Edward José Bernardes,
Atualmente existem poucos trabalhos com o uso de sêmen sexado, especialmente nas condições ambientais e com a raça de bovinos do tipo
Zebu (maioria no Brasil). Porém, todos os trabalhos da literatura indicam que a taxa de concepção após o uso do sêmen sexado (após cio natural em novilhas de corte e leite) é de cerca de 80% do esperado
para o semen convencional.
Ou seja, em uma fazenda onde a taxa de cocnepção é de 50% para o semen convencional, a concepção esperada para o semen sexado seria de 40%. Obviamente, a fazenda deve ter condições ideais de manejo para a adoção do sêmen sexado.
Para vacas de leite de alta produção, os trabalhos indicam uma queda de fertilidade de cerca de 50% se comparado ao sêmen convencional, ou seja, por enquanto não é recomendado o uso do sêmen sexado nesta classe de animais.
Para vacas de corte, os resultados são favoráveis. Em um experimento recente utilizando vacas sincronizadas e inseminadas com sêmen sexado ou convncional o Grupo do Prof. Baruselli obteve cerca de 45 a 50% de concepção para o sêxado e 50 a 55% para o convencional em vacas Nelore. Lembro que as condições operacionais das fazendas experimentais e a condição corporal dos animais era ideal.
Um abraço,
Alexandre Souza
O artigo é de grande importância, principalmente para os produtores de leite.
O sêmem sexado traz a vantagem de produzir apenas bezerras fêmeas de alto valor zootécnico e produção leiteira, melhorando a genética do plantel e produtividade.
Voçês estão de parabéns pelo artigo publicado.
Abraços
Algum resultado com a inseminação no corno ipsilateral a ovulaçao após ultrassonografia prévia a inseminação?
Bom dia!
Como posso obter maiores informacoes sobre a sexagem de semem. Por que fazer uso de sêmen sexado já que os indices de prenhez com essa tecnica é relativamente baixo quando comparado com o sêmen convencional?