Um dos entraves quanto à produção de carne bovina no Brasil está na área de reprodução animal. Os índices reprodutivos de pecuária brasileira ainda são deficientes, ou seja, possuímos alto intervalo entre partos, taxas de serviço e de concepção baixas que interferem diretamente na taxa de prenhez do rebanho, e influenciam na reduzida taxa de desfrute. Assim tornou-se de grande interesse econômico o desenvolvimento da biotecnologia reprodutiva de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) que visa induzir a ovulação e sincronizar o cio por meio de protocolos hormonais, sem necessidade de detecção do cio.
Apesar de deter o maior rebanho bovino comercial do mundo e ser o maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil é o segundo maior produtor global de carne bovina, devido a uma taxa de desfrute baixa quando comparada a de seus principais concorrentes. Segundo o USDA, o Brasil apresenta uma taxa de desfrute de 22%, enquanto Austrália e Estados Unidos apresentam Taxas de Desfrute de 30,7% e 37%, respectivamente.
Um dos entraves quanto à produção de carne bovina no Brasil está na área de reprodução animal. Os índices reprodutivos de pecuária brasileira ainda são deficientes, ou seja, possuímos alto intervalo entre partos, taxas de serviço e de concepção baixas que interferem diretamente na taxa de prenhez do rebanho, e influenciam na reduzida taxa de desfrute.
De acordo com os dados da ASBIA de 2003, apenas 7% das fêmeas em idade reprodutiva são inseminadas no Brasil. Desse total, estima-se que cerca de 20% das inseminações são realizadas pela técnica de tempo fixo. No entanto, a IATF é considerada uma forte tendência para o desenvolvimento da pecuária nacional, e já está sendo amplamente utilizada em criações extensivas por facilitar e muitas vezes viabilizar o uso da inseminação artificial (IA).
Para se obter um bom desempenho reprodutivo e, conseqüentemente, produtivo, deve-se atentar às limitações impostas à eficiência reprodutiva que prejudicam a taxa de prenhez da fazenda. Essas limitações referem-se às falhas na detecção do estro e ao anestro pós-parto.
Devido a essas limitações, tornou-se de grande interesse econômico o desenvolvimento da biotecnologia reprodutiva de Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) que visa induzir a ovulação e sincronizar o cio por meio de protocolos hormonais, sem necessidade de detecção do cio.
Por conseguinte, este artigo visa abordar alguns pontos críticos no que se refere à implantação da IATF e à problemática da detecção do cio, estabelecendo importantes benefícios ao produtor, assim como para o desenvolvimento da pecuária nacional, obtido através dessa biotecnologia reprodutiva.
No Brasil, estima-se que cerca de 50% das vacas estão em anestro por ocasião do início da estação de acasalamento, principalmente devido às deficiências nutricionais e à baixa condição de saúde dos ventres (Madureira et al., 2006). Também, quando poucas vacas são detectadas em cio ocorrem significativas perdas da eficiência reprodutiva do rebanho (Baruselli et al., 2004).
Estima-se que as perdas econômicas das indústrias de leite dos EUA atinjam $300milhões anualmente devido a falhas na detecção ou pela detecção inadequada do cio de animais taurinos (Senger, 1994). Tal situação é mais grave quando se trata de animais zebuínos devido ao seu comportamento reprodutivo caracterizado pelo cio de curta duração e com elevado percentual de manifestação durante o período noturno. Estas diferenças foram comprovadas no trabalho de Mizuta (2003) e PINHEIRO et. al., (1998), cujos resultados estão apresentados na tabela 1 e gráfico 1, respectivamente.
Tabela 1. Características de estros avaliados por radiotelemetria e intervalo estro-ovulação em vacas Nelore (Bos indicus), Angus (Bos taurus) e Nelore X Angus (Bos indicus X Bos taurus).
Gráfico 1. Porcentagem de vacas Nelore que começaram (C), terminaram (T) ou que começaram e terminaram (CT) o cio durante o dia ou à noite.
Portanto, esses trabalhos ratificam e expressam a importância de se realizar um controle mais apurado na detecção do estro ou cio, e reforçam a idéia da utilização da biotecnologia reprodutiva da IATF para contornar esses entraves prejudiciais à eficiência reprodutiva.
Para que se implante um programa de IATF na fazenda, a mesma deve possuir boa infra-estrutura, boa nutrição do rebanho e escore de condição corporal satisfatório (mínimo 2,5 em uma escala de 1 a 5) das vacas, adequado controle sanitário, deve-se utilizar sêmen de qualidade, ter conhecimento do estado reprodutivo das fêmeas, assim como estabelecer o protocolo de IATF mais adequado ao rebanho. Portanto, os protocolos de IATF devem ser realizados somente por profissionais capacitados para tal atividade, com a ajuda de funcionários bem treinados e grande comprometimento do proprietário.
Em suma, as principais vantagens da IATF são: inseminação com dia e hora marcados, eliminação da detecção de cio, indução da ciclicidade em vacas em anestro, redução do intervalo entre partos, atingir o objetivo de obter 1 bezerro/vaca/ano, melhor acompanhamento reprodutivo das matrizes, padronização dos lotes de bezerros e racionalização da mão-de-obra.
Assim, pode-se concluir que emprego da IATF é de fundamental importância para o desenvolvimento da pecuária e da economia brasileira. Sua correta utilização resulta aumento da taxa de serviço e de concepção e, consequentemente, no aumento da taxa de prenhez, o que proporciona ao rebanho uma redução do intervalo entre partos, redução do período de serviço e a elevação taxa de desfrute da fazenda, ou seja, permite ao produtor que se intensifique a produção de carne ou leite/hectare/ano, alavancando melhores retornos econômicos sem necessidade de ampliação das fronteiras agrícolas.
Referências Bibliográficas
http://www.usdabrazil.org.br/
ASBIA, CONSELHO TÉCNICO. Manual de inseminação artificial, São Paulo, 2003. 46p.
MADUREIRA, E. H. ; Fernandes R.H.R. ; ROSSA, Luis Augusto Ferreira ; BRAGA, F. A. ; FERNANDO j d PARDO . Anestro pós-parto em bovinos: A suplementação com óleos vegetais pode ser útil para encurta-lo? In: Simpósio Internacional de Reprodução Animal Aplicada, 2006, Londrina. Biotecnologia da Reprodução em Bovinos, 2006. p. 63-70.
BARUSELLI, P. S.; REIS, E. L.; MARQUES M. O. Técnicas de manejo para aperfeiçoar a eficiência reprodutiva em fêmeas bos indicus. Grupo de Estudo de Nutrição de Ruminantes – Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal – FCA – FMVZ – Unesp, Botucatu, São Paulo, 2004, p.18.
SENGER, P. L. The estrus detection problem: new concepts, technologies, and possibilities. J. Dairy Sci. 77, p. 2745-2753, 1994.
MIZUTA, K. Estudo comparativo dos aspectos comportamentais do estro e dos teores plasmáticos de LH, FSH, progesterona e estradiol que precedem a ovulação em fêmeas bovina Nelore (Bos taurus indicus), Angus (Bos taurus taurus) e Nelore X Angus (Bos taurus indicus X Bos taurus taurus). 2003, 98f. Tese (Doutorado em Reprodução Animal). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, 2003.
PINHEIRO, O. L.; BARROS, C. M.; FIGUEIREDO, R. A.; VALLE, E. R.; DO, ENCARNAÇÃO, R. O.; PADOVANI, C. R. Estrous behavior and estrus-to-ovulation interval in Nelore cattle (Bos indicus) with natural estrus or estrus induced with prostaglandin F2 alfa or norgestomet and estradiol valerate. Theriogenology, v. 49, p. 667-681, 1998.
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Caros Autores,
Sem sombra de dúvidas, a utilização da Biotecnologia IATF, é de suma importância hoje na pecúaria nacional, devido as vantagens já citadas no artigo. Porém, com dados própios da Asbia, é constatado que 7% das fêmeas em idade reprodutiva vem usando a biotecnologia, ficando os 93% restantes servidos por Touro em regime de Monta Natural. Desta forma, acho que os touros são de funadamental importância na reprodução, e no produto bezerro. Apesar de existirem as biotecnologias a disposição dos produtores, elas vem sendo poucas utilizadas pelos mesmo. Qual seria uma comparação econômica e/ou zootécnia que poderia afirmar aos produtores a vantagem de se utilizar a IATF em relação a monta natural? Ou se apenas os touros dentro da fazenda fossem melhorados geneticamentes e aptos a reprodução não resolveria o problema, juntamente é claro, com um programa eficiente de detecção de cio? Tenho esta dúvida, pois acho que a IATF é de maior valor para as fazendas aonde o número de rebanho é muito extenso e que dificulta a detecção de cio. Quando se utiliza a IATF, é necessario ainda manter o touro na fazenda, visto o seu custo dentro da propiedade?
Desde já agradeço a atenção e parabéns pelas publicações.
Phillipe, fiz um teste em 2008/09 deixando a vacada parida de “mês 10” só no touro, e 200 paridas de “mês 11” com IATF seguida de repasse por touros Nelore.
O lote 2 teve maior porcentagem de prenhez, e este aumento foi suficiente para pagar os fármacos. A antecipação da parição e a maior qualidade das crias ficaram “de grátis”. Isso me animou a aumentar a IATF para 1200 vacas e novilhas a partir de novembro próximo.
Lógico que a IATF só deve ser aplicada uma única vez por vaca/ano, sendo seguida de repasse por touros férteis e plenamente adaptados ao ambiente.
Metade das crias, portanto, serão de IA e metade de touros. O produtor poderá usar metade dos touros que usa hoje. Com o mesmo dinheiro, pode comprar touros melhores e o sêmen necessário, uma dose por vaca.
Caro Phillipe,
No site da ASBIA possui um roteiro de como se avaliar os custos da MN e da IA, pois depende muito da região, da qualidade dos materiais, enfim, possui inumeras variáveis. Quanto a vantagem econômica temos com a IATF a possibilidade de se obter 1bezerro/vaca/ano, o que é fantástico e o objetivo de qualquer criador. Muito bem reforçado pelo Sr. Humberto da fazenda Sucuri, o lote com IATF além de apresentar maior taxa de prenhez, apresenta bezerros com melhor qualidade, assim conseguimos desmamá-los mais pesados e terminá-los mais cedo. Quando vamos à fazendas de corte, observamos as diferenças de qualidade entre as crias resultantes de IA e de MN, é marcante a diferença de ganho genético. Outro fator, na monta natural, as vacas demoram a voltar a ciclar devido a presença dos bezerros,assim a IATF permite que as vacas com 60 a 75 dias pós-parto voltem a ciclar (demonstrem cio fértil, supera o anestro pós-parto) possibilitando inseminá-las. Logo a IATF possibilita reduzir o intervalo entre partos para 1 ano. A IATF também necessita de touros para se realizar o repasse, touros de qualidade, com boa capacidade de cobertura e boa genética. Porém, touros com excelente potencial genético raramente são disponibilizados a monta natural, principalemente em sistemas extensivos, predominantes no Brasil, pois podem se machucar e se tornarem inválidos.
A IATF veio para superar o grande problema da eficiencia reprodutiva, a Detecção de cio. É muito complicado e trabalhoso de realizar a detecção de cio correta em sistemas extensivos de criação devido às dificuldades de se observar o cio, diariamente 2 a 3 vezes por dia. I IATF veio para facilitar a vida do produtor de maneira prática e rentável. Por isso que anualmente são lançados inumeros protocolos de IATF visando o manejo mais simples no menor custo e na maior rentabilidade possível.
Caro Philipe,
Além dos benefícios e vantagens brilhantemente colocada pelo Sr Humberto e o colega Bruno, gostaria de acrescentar que com o uso de IATF, as chances de disseminação e riscos de doenças genitais, como a tricomonose por exemplo, são minimizadas. Resultando diretamente na redução quanto ao tratamento de animais acometidos, consequentemente, diminui os gastos com a sanidade reprodutiva do rebanho, melhorando ainda mais a receita da fazenda, devido a utilização de sêmen livre de agentes infecciosos.
Sucesso em sua fazenda.
Nós colocamos a disposição para eventuais esclarecimento.
Forte abraço,
Thales
Prezado Humberto.
Agradeço e parabenizo pela qualidade das informações acrescentadas ao artigo.
Nos colocamos a disposição para o que precisar.
Sucesso em sua criação.
Forte Abraço,
Thales dos Anjos F. Vechiato
Bruno de Souza Mesquita
Obrigado Thales e Bruno. Deixei os dados na fazenda, mas me comprometo a publicar aqui os números para ilustrar melhor o que aconteceu.
Gostaria de contribuir com o assunto e destacar uma das principais vantagens da adoção do protocolo de IATF em uma propriedade, principalmente de gado de corte.
Após o protocolo da IATF e repasse com Touros Aptos nós conseguirmos “encurtar a Estãção de Monta da propriedade para no máximo 90 dias e se somarmos o período de gestação da fêmea bovina ( 280 dias ) possibilitamos a criação de 1 bezerro/vaca/ano, o que na Pecuária atual é de vital importância para a sua viabilização economica.
Portanto com a adoção dessa Biotecnologia iremos racionalizar o manejo reprodutivo da propriedade com consequente reflexo positivo nos demais manejos da propriedade.
Espero ter contribuido com o assunto, pois sentido esses benefícios nas propriedades nas quais dou assistência.
Caro Sr. Humberto, seus indices nos mostram a eficiência da implantação da biotecnologia, exatamente como disse. Gostaria de entrar em contato com o senhor para pegar estes indices e apresenta-los em palestras que ministro em minha região, visando a divulgação da técnica. Támbem sou a favor da utilização de uma dose de semêm e repasse com touros adaptados e com fertilidade garantida.
Parabens pelo sucesso obtido, e que muitos outros resultados como este que nos apresentou venham pela frente.
Parabens támbem ao autores.
Forte Abraço
Netto Morete
Olá Mário, só hoje vi que você queria falar comigo. Mande um email para o BeefPoint e eles encaminham para mim, daí começamos a conversar. Um grande abraço
Olá amigos, eu iria além ao falar em IATF, eu afirmaria que uma empresa rural que não utiliza essa biotecnica, se ainda não está, estará em pouco tempo fora do mercado. Abraços.