Por Leandro F. Gofert1
A condição atual do mercado pecuário de corte está levando a um fenômeno denominado seleção dos produtores. Em vista da queda da lucratividade, os produtores tecnicamente defasados, ou seja, aqueles que apenas soltam o gado em pasto nativo, sem investir em nutrição, sanidade, reprodução e genética (poderiam ser chamados de extrativistas?), estão aos poucos abandonando a pecuária de corte.
Esse fenômeno de especialização da atividade é uma lei de mercado inevitável, já ocorreu anteriormente com a avicultura e suinocultura e, aos poucos, vêm acontecendo com a pecuária de corte também.
Em futuro próximo, somente os produtores que obtiverem boas produções de carne por área, conseguirão obter lucro na atividade.
Dessa forma, é necessário investir em melhores condições nutricionais, em controle sanitário, em eficiência reprodutiva e genética, tecnificando o rebanho.
Em reprodução, deve-se ter como objetivo que, cada vaca produza um bezerro (de preferência, de genética superior) a cada 12 meses.
Contudo, aliar genética superior (inseminação artificial) e eficiência reprodutiva têm se mostrado difícil de conseguir nas condições brasileiras.
Inúmeros produtores, além de pesquisadores da área de reprodução animal relatam queda da taxa de serviço e da eficiência reprodutiva, quando utilizamos a IA em rebanhos zebuínos e cruzados (que representam a grande maioria do gado brasileiro).
As pesquisas mais recentes indicam que este fato se deve a dois fatores principais:
Ineficácia dos métodos de detecção de cios e anestro prolongado pós-parto.
Experimentos realizados, comparando os métodos usuais de detecção de cios a um sistema denominado Heatwatch (detecção por radiotelemetria com eficácia próxima a 100%), têm mostrado altas taxas de perdas de cios, provocando um aumento do intervalo parto-concepção.
Isso ocorre porque os animais zebuínos e cruzados apresentam cios mais curtos que os taurinos (em média, 4 horas a menos) e a manifestação dos cios é predominantemente noturna, dificultando a detecção.
Outro fator que influencia fortemente é a presença de anestro prolongado pós-parto, levando ao aumento do intervalo entre partos e queda na produção de bezerros por ano.
Durante o anestro pós-parto a vaca permanece sem atividade reprodutiva. Sua duração pode variar de 30 dias a 6 meses ou mais. Em fazendas com manejo nutricional deficiente (onde a vaca perde muito peso após o parto), o período de anestro é maior, contudo, mesmo em fazendas com bom manejo nutricional, a presença do bezerro ao lado da vaca inibe a produção de gonadotrofinas hipofisárias, responsáveis pelo desenvolvimento de ciclos estrais. A conseqüência disto é que, dificilmente temos vacas apresentando cios com intervalos inferiores à 90 dias após o parto, inviabilizando a inseminação e obtenção de intervalo entre partos de 12 meses em média.
Buscando resolver esse impasse, o surgimento de uma nova tecnologia se tornou necessária, a inseminação em tempo fixo (IATF).
Essa tecnologia possibilita controlar o ciclo estral das fêmeas, de forma a induzirmos ovulação em momento conhecido, dispensando a observação de cios para realizar-se a inseminação. A IATF consegue também induzir atividade reprodutiva em vacas em anestro, possibilitando emprenhá-las.
Além disso, as fêmeas que não emprenham na 1a inseminação, são trazidas à ciclicidade, apresentando, a partir daí, ciclos estrais regulares, possibilitando emprenhá-las mais rapidamente (com IA tradicional ou repasse com touros).
O maior benefício da IATF é uma redução considerável do intervalo entre partos do rebanho, melhorando a produtividade, aliada ao uso de genética superior. A cada mês reduzido no Intervalo entre partos, teremos acréscimo de cerca de 8 a 9% na produção de bezerros por ano.
Além disso, outros benefícios proporcionados pela IATF são:
Concluímos então que a IATF proporciona benefícios muito maiores que o investimento necessário à sua implantação, ou seja, a técnica possui alto custo-benefício.
Além disso, com a entrada de novos produtos no mercado, temos condições de comprar os hormônios necessários a preços muito competitivos. Em vista disso, sua utilização cresce de forma intensa no cenário da pecuária brasileira.
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1Leandro F. Gofert é Médico Veterinário, Tecnopec