Por Nicolau da Rocha Cavalcanti
Os critérios de avaliação da raça Nelore não são pacíficos, ou melhor, os valores atribuídos a cada um estão sendo questionados.
As diversas posições podem ser resumidas em dois grupos: o que privilegia o aspecto econômico e aquele que busca, acima de tudo, a conformidade com a pureza racial.
O primeiro grupo foca sua mira, em especial, nas exposições. Julgam-nas ultrapassadas, com critérios não-científicos, produzindo animais artificiais, super-alimentados. Sentenciam, afinal, que são as exposições um atraso para o melhoramento genético da raça.
E, por conseqüência, jogam-se também tiros contra o registro da ABCZ, negando-lhe a primazia para reconhecer o que é Nelore.
O segundo entende que o Nelore não é um Brahman, em frase de Orestinho. Significa reconhecer no Nelore não apenas características econômicas, mas um fenótipo determinado, que o distingue dos demais; é admitir que o Nelore tem um passado, uma história, escrita por diversas gerações de selecionadores, na qual foram se estruturando linhagens, modelando formas e selecionando carcaças.
É fato que nos dois grupos encontramos razoáveis argumentos e muito boas intenções para se melhorar o Nelore.
Na tentativa de contribuir com o debate, que é sempre produtivo, ressaltam-se aqui dois aspectos.
A tese da cientificidade (e da real capacidade de promover o melhoramento do Nelore) dos programas de melhoramento genético é válida apenas com a condição de que sejam utilizados, em todas as fases dos programas, critérios igualmente científicos.
Pesagem com doze horas de jejum, grupos contemporâneos, etc. Caso contrário, faz-se marketing, não melhoramento.
Para que os números sejam úteis devem ser verdadeiros (obviamente) e comparados em sistemas compatíveis.
Estatísticas podem ser úteis – mas não esgotam realidade e podem muito bem encobrir diversas verdades não tão vendáveis.
Em segundo, não há que se enxergar uma oposição absoluta entre as duas posições. O Nelore é uma raça. E uma raça de gado de corte.
A busca por uma maior eficiência na produção de carne, se feita de maneira correta, não desfigurará o Nelore. Pelo contrário – o aperfeiçoará.
E sustentar que para uma maior produtividade é necessário esquecer os padrões de registro é postular pela ineficiência da raça. É dizer que as outras raças são melhores que o Nelore e que se deve buscar, ou ao menos, permitir uma mistura de raças.
A raça, não em termos zootécnicos, mas a nível de associação, é uma escolha. Há um vasto campo para o surgimento de outras raças e associações; quem quiser, a porteira está aberta.
Nós acreditamos e apostamos na produtividade do Nelore com as características do Nelore. E não por um mero sentimento, mas pela contínua demonstração que o Nelore nos dá de sua incrível capacidade de produção em nosso clima tropical.
E que as contínuas melhorias genéticas alcançadas a pasto continuem sendo festejadas nas exposições.
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Nicolau da Rocha Cavalcanti é advogado e pecuarista.
Update: Publicado em 2003 e continua atual em 2017.