A produtividade brasileira média por área cresceu 2,5 vezes nos últimos 40 anos, muito acima da média mundial. Eu apoio a qualidade da produção nacional, já que pessoalmente tenho visto os esforços e sofrimentos do produtor brasileiro para se adequar às novas exigências políticas e ambientais. Acredito que nossa missão hoje seja essa: fazer a coisa certa, produzir mais na mesma área e viver de acordo com o que o meio ambiente nos permite fazer. Sem agredi-lo, sem devastá-lo. De maneira sustentável.
Prezado senhor, muito bom dia!
Recebi ontem uma mensagem por você enviada referindo-se à bancada ruralista como pessoas oportunistas e atrasadas. Além disso, se referia aos fazendeiros como responsáveis por crimes ambientais, violadores constitucionais e ladrões de terras que poderiam, se desapropriadas, servir fins de reforma agrária. Puxa vida, que coisa desagradável! Como filha de produtores rurais que sempre levaram a vida honestamente através da atividade agrícola e pecuária, me senti pessoalmente ofendida.
Obviamente o assunto não pode ser tratado de forma superficial, portanto, chamar as pessoas responsáveis pela produção brasileira de alimentos de ATRASADAS e OPORTUNISTAS é uma grande falta de bom senso. Em primeiro lugar, porque baixa o nível da discussão. Em segundo, porque não traz dados científicos como argumento. Por esses dois simples motivos, talvez a mensagem nem mesmo merecesse uma resposta, como esta que me prontifico a dar. Mas cá estou, talvez perdendo o meu tempo para tentar defender o nosso país de indivíduos que agreguem esse tipo de pensamento à sociedade. Bem, vamos às informações.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o Brasil possui 61% de matas nativas preservadas. É a segunda maior floresta do mundo. Sabia disso? Sei que você vai dizer que isso não é desculpa para avançar com o desmatamento, mas não é isso o que quero dizer. Continue lendo e entenderá.
Segunda informação: hoje, o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Antigamente importávamos arroz, leite, carne, feijão, etc. e pagávamos caro por isso. As coisas mudaram graças ao crescimento e à eficiência do produtor rural em aumentar sua produtividade e nosso país transformou-se em um dos maiores exportadores de alimentos. O agronegócio é responsável pelo superávit da balança comercial brasileira e por ¼ do nosso produto interno bruto.
Isso quer dizer que a população pode comprar mais, que a pobreza diminuiu, que os salários subiram, que a fome está sendo extinta, que o desemprego está caindo e que estamos nos desenvolvendo graças à produção de alimentos de qualidade, baratos, além de termos ganhado respeito internacionalmente, já que estamos no ranking top 3 das principais commodities agrícolas exportadas: milho, soja, café, carnes, algodão, etanol, trigo, arroz, feijão, etc. Aproximadamente 40% da mão de obra empregada vem DIRETAMENTE do campo, sem falar dos empregos indiretos.
A produtividade brasileira média por área cresceu 2,5 vezes nos últimos 40 anos, muito acima da média mundial. No caso do milho, especificamente, enquanto o mundo cresceu 17% em produtividade, o Brasil cresceu 73%, de acordo com o Departamento Norte-Americano de Agricultura (USDA). Mais uma vez, isso mostra a eficiência do produtor brasileiro na produção de alimentos. Mas, espere. Não consumimos apenas alimentos!
Todos nós comemos, nos vestimos, andamos de carro, lemos livros e o jornal, consumimos energia e tudo isso vem do campo, de uma maneira ou de outra. Tudo vem do agricultor, que coloca o suor na terra para produzir o que nos mantém vivos. Tente imaginar a sua vida sem os agricultores. Ou você acha que os alimentos nascem nos supermercados?
De acordo com a FAO (Departamento da Organização das Nações Unidas para questões relacionadas à Agricultura e Alimentação), até 2050 a população mundial crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de habitantes, ou 30%, o que pode ser traduzido pela chegada de novos consumidores de alimentos ao mercado. Além do aumento populacional, a evolução econômica dos países em desenvolvimento fará com que a demanda por alimentos de qualidade também aumente. A prova natural disso é o aumento do consumo per capita de carnes nos últimos anos em países em desenvolvimento de 9,02 kg/hab/ano em 2000 para 9,21 kg/hab/ano em 2010. O Brasil tem papel fundamental nisso, pois será responsável por quase metade dessa demanda. Imagine só, apenas 1 país responsável por 40% do que o mundo come. Puxa vida! E tudo isso sem destruir a natureza, apenas produzindo mais em uma mesma área, que é a que temos hoje disponível.
Ocorre que hoje o atual código florestal coloca 9 entre 10 produtores na ilegalidade, ou seja, 90% da produção de alimentos é produzida ilegalmente, de acordo com esse mesmo código. Se isso for levado ao pé da letra, o país terá que brecar o ritmo atual de desenvolvimento tecnológico agrícola, já que os produtores serão penalizados por isso. E menor investimento = produção em queda = alimentos mais caros para todos. Todo esse cenário que pintei aí em cima se inverterá: menos emprego, menos riqueza, mais fome, alimentos mais caros, etc.
A inflação já incomoda? Imagine se diminuirmos a produção!
A nova proposta para a atualização do código prevê a manutenção das áreas de florestas atuais e também das áreas de produção sem que isso comprometa o volume de alimentos produzidos hoje.
Então, ao invés de deixarmos os produtores cada vez mais sem recursos, deveríamos estimulá-los a produzir de uma maneira cada vez melhor. Eles não são inimigos, são os salvadores do mundo pois produzem VIDA. Aliás, ao invés de chamá-los de oportunistas, experimente agradecê-los.
Eu apoio a qualidade da produção nacional, já que pessoalmente tenho visto os esforços e sofrimentos do produtor brasileiro para se adequar às novas exigências políticas e ambientais. Acredito que nossa missão hoje seja essa: fazer a coisa certa, produzir mais na mesma área e viver de acordo com o que o meio ambiente nos permite fazer. Sem agredi-lo, sem devastá-lo. De maneira sustentável.
Enfim, provavelmente você não lerá tudo isso com a atenção que o assunto merece. Eu apenas não gostaria mais de receber e-mails que ofendam os responsáveis pela positivação da balança comercial, pela riqueza que tem entrado no nosso país e pelo combate à fome mundial em meu e-mail pessoal.
Obrigada.
0 Comments
Olá Lygia
Parabéns pela didática no esclarescimento da real importância do segmento agrícola no contexto do país. A grande maioria dos ambientalistas que criticam a proposta atual do código não dependem financeiramente das consequencias dessa tomada de decisão. Infelizmente existe ainda nesse país uma grande lacuna de informações entre as pessoas que vivem nas cidades, sendo essas as grandes formadoras de opinião, daquelas que dependem e sustentam as primeiras.
Deixo registrado também meu descontentamento com o posicionamento oficial da Embrapa quanto ao tema, cujo orgão federal tem a incumbência técnica e experiência suficientes para contribuir com um parecer oficial que ajudaria muitos dos burocratas e teóricos urbanos
Excelente.
Gostaria de agradecer imensamente o comentário e o elogio, é muito bom saber que a luta vale a pena e que estou do mesmo lado que pessoas de enorme valor.
Entretanto, também gostaria de fazer um alerta.
A ausência de críticas negativas ao artigo é um indicador de que a mensagem se estende apenas ao nosso meio. O importante é fazer a nossa parte todos os dias e atingir pessoas que não conhecem a realidade e as dificuldades que o produtor rural enfrenta. Que não conhecem as consequências devastadoras que a diminuição da produção brasileira causaria à humanidade.
Quando as críticas negativas vierem, saberemos que atingimos o alvo certo.
Resumindo a conversa, hoje recebi um comentário do doutor Xico Graziano que traduz bem a moral da história: “Novo código florestal precisa regularizar a agricultura consolidada sem facilitar mais desmatamentos”.
Um enorme abraço,
Lygia
Gostaria de agradecer imensamente os comentários e elogios, é muito bom saber que a luta vale a pena e que estou do mesmo lado que pessoas de enorme valor.
Entretanto, também gostaria de fazer um alerta.
A ausência de críticas negativas ao artigo é um indicador de que a mensagem se estende apenas ao nosso meio. O importante é fazer a nossa parte todos os dias e atingir pessoas que não conhecem a realidade e as dificuldades que o produtor rural enfrenta. Que não conhecem as consequências devastadoras que a diminuição da produção brasileira causaria à humanidade.
Resumindo a conversa, hoje recebi um comentário do doutor Xico Graziano que traduz bem a moral da história: “Novo código florestal precisa regularizar a agricultura consolidada sem facilitar mais desmatamentos”.
Um enorme abraço a todos,
Lygia
Lygia,
Parabéns pelo artigo. Os críticos do “agronegócio” (grandes produtores no conceito deles) são pessoas com formação acadêmica e grande parte na área de ciências agrárias, que separam o agronegócio da sustentabilidade e acham que ser pequeno ou trabalhar para subsistir é que vai salvar o planeta. O código a ser votado tem falhas mas já melhor que o anterior. Se o governo fazê-lo cumprir será um grande avanço, mas as maracutaias envolvendo oportunistas, Ibama e diversos outros orgãos continuam contribuindo para que o produtor leve a má fama. Criticas sempre virão, vamos continuar produzindo cada vez melhor e se o novo código ajudar, com sustentabilidade.