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Em São Paulo o boi não rastreado vale mais

De acordo com levantamento da Scot Consultoria, alguns dos grandes frigoríficos paulistas ofertam, pelo boi rastreado, R$60,00/@, a prazo, para descontar o funrural. Em contrapartida, frigoríficos de mercado interno chegam a pagar R$60,00/@, a prazo, livre do imposto, mesmo pelo boi não rastreado, o que equivale a aproximadamente R$61,35/@, a prazo, para descontar o funrural.

Descontando o investimento na adequação dos animais às exigências do SISBOV, que hoje gira em torno de R$5,00/cabeça, ou R$0,30/@ (considerando um animal de 16,50@), o boi não rastreado sairia por cerca de R$61,65/@, a prazo, para descontar o funrural.

Esses R$1,65/@ a mais, que é possível de se conseguir hoje pelo boi “comum” em relação ao rastreado, significam, num lote de mil cabeças, com média de 16,50@ cada animal, um ganho de mais de R$27 mil.

É verdade que já tem frigorífico exportador pagando R$61,00/@, a prazo, para descontar o funrural, pelo boi rastreado. Mas ainda assim, a vantagem é de R$0,65/@ para quem vender boi não rastreado aos pequenos frigoríficos.

Além de valer menos que o boi não rastreado, a cotação do boi gordo rastreado não tem acompanhado a evolução dos preços da carne bovina exportada, conforme pode ser observado na tabela abaixo.

Tabela 1. Variação dos preços do boi gordo rastreado (US$/@) em São Paulo e do quilo equivalente carcaça (US$/kg) da carne bovina exportada.


Este ano os frigoríficos têm aproveitado o significativo aumento na oferta de animais terminados (descarte de matrizes e aumento do confinamento e semiconfinamento) para garantir a melhoria das suas margens, ao menos quando se analisa a relação carne/boi.

Exportações a todo vapor, carne exportada em alta e boi não rastreado mais caro que o rastreado…O produtor investe, mas não tem retorno.

Para colher melhores resultados, o setor produtivo precisa urgentemente adotar estratégias eficientes de comercialização. Não basta saber produzir, é preciso saber vender. Independente do preço da carne, nenhum frigorífico vai deixar de derrubar a cotação da arroba se conseguir formar escalas superiores a 15 dias. Ainda mais na entressafra, como aconteceu este ano.

0 Comments

  1. André Luiz Ludovico de Almeida disse:

    Os produtores deveriam ter uma preocupação maior em se organizar a nível estadual ou até em nível regional. Negociar os rebanhos em conjunto, criar blocos para aquisição de insumos etc. Esta falta de organização nos torna muito fracos frente à indústria que é cartelizada.

    A falta de representatividade política dos produtores é outro fator que deixa a desejar. Seria interessante uma câmara setorial para avaliar a desigualdade da distribuição do lucro na cadeia da carne.

  2. NEWTON GERGOLETTE disse:

    As avaliações da Scot Consultoria estão muito bem colocadas neste artigo, porém nos cálculos de custo do gado rastreado não se levou em conta outras despesas que acredito sejam até mais relevantes que as mencionadas.

    Uma delas é a perda de peso provocada pelo sistema, que tem como causa o estresse pelo excesso de manejo do animais. No gado não rastreado o animal só vem para o curral no momento do embarque. No gado rastreado, ele vem para a colocação de brincos (usando a guilhotina), depois vem para o curral para aparte e coleta do número dos brincos para emissão da nota fiscal e depois volta para o embarque. Estas perdas poderiam até ser objeto de estudo mais apurado.

    Tem-se ainda gastos maiores com funcionários, custos administrativos e tempo, tanto para a espera do prazo de permanência dos animais no SIBOV, para implantar, controlar e administrar o sistema etc.

    A boa notícia é que o rastreamento passará a não ser mais obrigatório, isso deverá diminuir o número e a oferta de animais rastreados. Espera-se com isso que a médio prazo os frigoríficos devam aumentar o valor pago pelo animal rastreado (ou diminuir no não rastreado).

    Quanto à organização dos pecuaristas frente sistema de comercialização, é algo muito complicado de se implantar, primeiro porque não vendemos nosso gado, o frigorífico é que compra, (ele dita preço, escalas, forma de pagamento, etc), e o pecuarista não tem saída nem opções de venda a não ser se sujeitar a situação, (aliás, cruel), e ainda mais, é o pecuarista que oferece ao frigorífico seus animais, o comprador do frigorífico só fica esperando. Foi-se o tempo que compradores dos frigoríficos saíam pelas fazendas a procura de negócios.

    Newton Gergolette
    Engenheiro Agrônomo e Pecuarista

  3. Névio Primon de Siqueira disse:

    Como já relatei em outras ocasiões aqui mesmo no Beefpoint, já está ocorrendo o que ocorreu um pouco antes no mercado do leite. Em nome de uma melhor qualidade do produto, em nome de uma escala de produção, em nome de uma suposta tecnologia, em nome de uma “suposta parceria” entre produtores e frigoríficos, os produtores investem para obter melhores produtos, com melhor qualidade, porém com custos de produção mais elevados e no final das contas quem ganha com isso é o frigorífico, que coloca as carcaças no mercado com valor agregado (resultado da qualidade obtida dentro da porteira) com preços diferenciados, porém paga ao produtor da mesma forma.

    Veja com o couro, o que todos recomendam? Não marcar acima da coxa. Combater bernes, evitar cercas de arame farpado, etc. Pergunto, alguém já recebeu algum adicional pelo couro de alta qualidade? Para não cometer injustiça, me parece que o Frigorífico Independência, de Mato Grosso de Sul tem algum sistema de pagamento diferenciado, mas não conheço os detalhes, mesmo assim acho que seria injusto não citá-lo aqui. O caminho seria segurar o boi no pasto, mas nem sempre é viável fazer isso. Agora, cá entre nós, os preços praticados pelos frigoríficos, com variação mínima, não seria uma cartelização?

    Um abraço,

  4. Luciano Nogueira Neto disse:

    Caro Senhor,

    Não existir diferença de preços entre boi rastreado e não rastreado pode ocorrer, já ocorreu inúmeras vezes o ano passado, (por razões talvez distintas das de agora) e ocorrerá no futuro.

    Como exportamos não mais de 20% da produção se rastrearmos mais que isso sobrarão animais rastreados face a sua demanda e faltarão não rastreados para suprir o mercado interno.

    Se for isso realmente o que está ocorrendo poderemos talvez concluir que, muito felizmente, faltou boi para o mercado interno o que obrigou os frigoríficos a pagarem mais pelo boi não rastreado ao invez de simplesmente cair o preço do rastreado para os níveis que vinham sendo praticados no mercado interno anteriormente.

    Entendo assim que a igualdade de preços é uma realidade de mercado em dados momentos dependendo da situação de oferta e demanda.

    Quanto ao suposto ágio, bastaria retirar o brinco do boi e vende-lo sem o papel. A perda estaria restrita ao valor já gasto de R$5,00 mas não de R$1,65 por arroba x 16,5@.

    Outras explicações portanto devem ser procuradas.

    Talvez esses frigoríficos que estão pagando mais têm dificuldades de crédito e este valor superior cubra portanto o risco de negociar com eles.