Os Estados Unidos oficializaram ontem a tão aguardada abertura de seu mercado à carne bovina in natura do Brasil. Neste ano, a expectativa é exportar de 15 mil toneladas a 20 mil toneladas, estimou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadora de Carnes (Abiec), Antonio Jorge Camardelli.
Nesse cálculo, o dirigente considera iniciar os embarques em agosto. Se conseguir exportar pelo menos 15 mil toneladas, o Brasil obterá cerca de US$ 75 milhões, considerado um preço médio de US$ 5,1 mil por tonelada. No ano passado, as exportações totais de carne bovina do Brasil renderam US$ 7,2 bilhões.
Num primeiro momento, o Brasil disputará um mercado potencial de 64,8 mil toneladas, volume da cota que alguns países têm para exportar com um tarifa média de 4%. Na avaliação de Camardelli, os frigoríficos brasileiros também poderão ser “competitivos” nas exportações “extra-cota”, com tarifa média de importação bem maior, de 26,4%. Em 2014, os americanos importaram cerca de 950 mil toneladas de carne bovina, de acordo com o USDA.
Em entrevista ao Consultor Terraviva, ele disse que a medida abre também as portas para o NAFTA, podendo vislumbrar Canadá e México, bem como para países da América Central que se baseiam na lista norte-americana. “Mais do que isso, nos ajuda a equacionar, a compensar o processo de desmonte do boi, ou seja, o consumo interno do dianteiro em relação ao consumo do traseiro”.
Ele disse que o Brasil já tem cerca de 18 frigoríficos habilitados, de forma que ele acredita que a transição será automática, “porque já são plantas homologadas pelo governo americano como produtores de matéria-prima”. Agora, resta resolver os detalhes técnicos, como finalização da certificação, alguns itens de equivalência dos processos industriais, verificação de controle de patógenos, como E.coli O157. “A expectativa que se tem é que finalize isso até o mês de agosto e que a gente já possa materializar as primeiras exportações no final do mês de agosto”.
“Entre agosto e dezembro, são praticamente quatro meses ou cinco meses, dependendo de quando sair a habilitação, e não é um mercado como a China, onde retornamos. É um mercado novo que a gente vai ter que contar com a expertise das empresas brasileiras que já têm frigoríficos lá, que já têm processos industriais”, disse ele. “Esse último trimestre ficaria para o aprendizado, interlocução comercial e seguindo em 2016 já com perspectivas excelentes e com talvez já o anúncio de um recorde batido seguramente com ingresso aí de China, Estados Unidos, Arábia Saudita, Iraque”.
Ele disse que a abertura dos Estados Unidos será nosso passaporte para ter uma facilidade de diálogo em Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Indonésia, principalmente.
Ele chamou a atenção de que esse ciclo de demanda está baseada no status sanitário, que não é tarefa só do governo. “Essa é uma tarefa muito mais de privados que de governo. Então, nós estamos alcançando o topo da pirâmide, seguramente vamos evoluir para esses mercados que ainda estão banidos do Brasil que, diga-se de passagem, são os que praticam o melhor preço e pode nos facilitar uma conversão para a área gourmet que é Coreia do Sul, Japão, Taiwan e Indonésia, e de fato, o status sanitário é que manda nesse processo todo”.
Já o diretor executivo da Abiec, Fernando Sampaio, previu que os embarques começarão a ser feitos em setembro. “De início, todas as nossas unidades que são habilitadas para exportar industrializado poderão embarcar matéria-prima. E a gente tem várias outras plantas que podem ser habilitadas para atender. Quem faz a habilitação é o Ministério da Agricultura e os Estados Unidos vêm auditar.”
“A gente vai abater de qualquer jeito. O que a exportação proporciona é uma rentabilidade melhor”. Essa rentabilidade viria, segundo Sampaio, especialmente pelas vendas de cortes dianteiros, que devem concentrar o maior volume embarcado para os Estados Unidos. Ele explica que esse tipo de produto o “Brasil tem de sobra”, e os norte-americanos demandam em grande quantidade para a produção, por exemplo, de hambúrgueres.
“Dianteiro, a gente sempre exportou para a Rússia e para o Oriente Médio e agora tem os Estados Unidos. A gente pode exportar qualquer corte, mas enxerga que a oportunidade comercial maior está nesse tipo de produto. Principalmente, quando você tem uma situação em que o boi está mais caro, isso ajuda a rentabilizar a carcaça muito melhor. Vou achar o melhor mercado para cada parte e agora vou ter um mercado grande para uma parte do boi que aqui vale pouco”, afirma.
“Se ocorrer como esperamos no segundo semestre, temos condições de encerrar o ano com crescimento nas exportações. São várias notícias acumuladas que podem mudar o cenário”, diz o diretor executivo da Abiec.
Fonte: Valor Econômico, Consultor Terraviva e Revista Globo Rural, adaptada pela Equipe BeefPoint.
1 Comment
Fico feliz em saber de tal notícia de abertura do mercado americano, mas lamento que eles não vão experimentar cortes mais nobres do nosso boi, pois segundo o consultor só serão exportados carnes de dianteiro ai não da para fazer um bom churrasco.
Manoel Fernandes
Faz Santa Maria
Bom Conselho-PE