A Embrapa está lançando na Expogrande 2002, em Campo Grande (MS), uma nova cultivar de Brachiaria brizantha, a capim-xaraés. A gramínea vem sendo estudada pelos pesquisadores brasileiros há, pelo menos, 10 anos, período em que obteve o melhor desempenho entre os materiais para o gado de corte, embora não tenha sido testada para gado leiteiro.
Atingindo altura média de 1,5 m, ela é indicada para regiões de clima tropical úmido e para as de cerrados, com estação seca variando entre quatro e cinco meses. É indicada também para solos de média fertilidade e apresenta boa resposta à adubação. Sua produtividade é boa e apresenta uma distribuição da sua produção em cerca de 30% na seca e 70% no período das chuvas, pois floresce tardiamente, por volta do mês de abril.
A Embrapa tem a previsão de colher, em outubro de 2002, nove toneladas de sementes para repassá-las aos multiplicadores. Com esse lançamento, a instituição aproveita para reforçar sua campanha pela diversificação de forrageiras nas pastagens brasileiras, a fim de evitar os problemas derivados dos cultivos em larga escala de um só tipo de material.
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No dia 28 de abril, a Embrapa Gado de Corte, uma das 40 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), completará 25 anos de existência. Para comemorar a empresa está fazendo o pré-lançamento, durante a Expogrande 2002, em Campo Grande, de uma nova cultivar de Brachiaria brizantha, a ser batizada comercialmente de capim-xaraés.
O xaraés vem sendo estudado e testado pela equipe de pesquisadores da Embrapa Gado de Corte há mais de 10 anos e segue uma tradição, iniciada em 1984 pela empresa, de batizar as cultivares de braquiárias com nomes de origem tupi-guarani ou de povos e culturas indígenas locais.
Há, no Brasil, produzidas em escala comercial, sete cultivares de braquiárias para alimentação do gado. Pensando em forrageiras, de um modo geral, constata-se que a Embrapa Gado de Corte lançou, nesses seus 25 anos de funcionamento, outras seis cultivares: capim-marandu, mombaça, tanzânia, pojuca, estilosantes mineirão, e mais recentemente, o capim-massai e o estilosantes Campo Grande. O marandu, o pojuca e o estilosantes mineirão foram lançados em parceria com a Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) e, nos dois últimos casos, a unidade de Campo Grande contribuiu com os testes dos ensaios regionais, uma vez que mineirão e pojuca resultaram de pesquisas desenvolvidas pela unidade do Distrito Federal. O mercado brasileiro de sementes de forrageiras movimenta anualmente cerca de 240 milhões de dólares e, deste, as sementes oriundas de cultivares lançadas pela Embrapa, em todo o Brasil, somam 60%, na proporção de 48% de sementes de braquiarão (capim-marandu) e 12% de sementes de mombaça e tanzânia.
Coletada em Cibitoke (no Burundi, África do Leste), a gramínea já vem sendo estudada pela Embrapa há, pelo menos, 10 anos. Ela foi introduzida, primeiramente, por cultivo in vitro, dentro de tubos de ensaio e chegou ao Brasil a partir de uma cooperação científica com o Centro Internacional de Agricultura Tropical – CIAT, instituição que tem sede em Cali, na Colômbia. No Brasil foi submetida à quarentena na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e distribuída para duas unidades de pesquisa na região Centro-Oeste. Em 1988, ocorreu o primeiro experimento em campo com essa cultivar sob irrigação. O capim-xaraés não é um híbrido, mas é uma variedade que resulta de um processo de seleção. “A Embrapa certifica e garante a pureza genética desse material”, lembra a pesquisadora Cacilda Borges do Valle, que é também a Chefe Adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Gado de Corte.
O capim-xaraés começou sua escalada, rumo ao lançamento, em testes com outras 213 cultivares durante três anos. De uma primeira seleção, mostraram melhor desempenho 19 cultivares de brizanta e outras duas de humidícola. Esses materiais percorreram uma rede nacional de ensaios para testes de adaptação em várias regiões e em nove estados. Dois anos depois, os testes selecionaram oito cultivares de braquiária brizanta para testes sob pastejo, que estudam o efeito do animal sobre a pastagem (ingestão, pisoteio, entre outras). A próxima etapa contou com a avaliação de apenas quatro materiais em testes de ganho de peso, medindo, então, o efeito do pasto sobre o animal, nos Estados da Bahia, Distrito Federal, São Paulo e Mato Grosso do Sul.
A cultivar xaraés obteve o melhor desempenho entre os materiais para o gado de corte. Não foram realizados ensaios com ela para o gado leiteiro, embora as únicas informações que se têm sejam oriundas de testes realizados na Colômbia, em que a xaraés mostrou desempenho inferior ou semelhante ao da cultivar marandu para essa atividade. O capim-xaraés foi desenvolvido em parceria da Embrapa Gado de Corte com a Comissão Estadual de Pesquisa da Lavoura Cacaueira do Centro de Pesquisa do Cacau (CEPLAC/CEPEC) na Bahia, o Instituto de Zootecnia (IZ), com sede em Nova Odessa-SP, e a Embrapa Cerrados.
Características da planta
O capim-xaraés é uma planta muito vigorosa, que atinge uma altura média de 1,5 m. Tem folhas mais largas que as do marandu e sua coloração é verde-escura. Ela é indicada para regiões de clima tropical úmido e para as de cerrados, com estação seca variando entre quatro e cinco meses. É indicada também para solos de média fertilidade e apresenta boa resposta à adubação. Sua produtividade é boa e apresenta uma distribuição da sua produção em cerca de 30% na seca e 70% no período das chuvas, pois floresce tardiamente, por volta do mês de abril. Os coloniões, em comparação, concentram 90% da sua produção anual durante as chuvas e 10%, apenas, durante o período seco.
A capacidade de suporte do capim-xaraés também é uma vantagem para a cultivar, pois ela propicia uma maior quantidade de animais na pastagem, 60% a mais que o marandu nas águas e chega a proporcionar também um ganho de peso anual por área 30% maior. No período seco o desempenho do capim-xaraés é similar ao do marandu e superior ao dos coloniões. Esta cultivar apresenta, ainda, teor de proteína em torno de 13% e resistência moderada à cigarrinha. Nestes anos de experimentação não se percebeu a presença desse inseto no campo, nem de danos causados por fungos nas áreas plantadas com capim-xaraés.
A Embrapa tem a previsão de colher, em outubro de 2002, nove toneladas de sementes para repassá-las aos multiplicadores. Essas sementes deverão estar chegando ao mercado por meados de setembro/outubro de 2003, quando os sementeiros iniciarão a comercialização aos pecuaristas. A cultivar produz cerca de 100 a 120 Kg de sementes por hectare ao ano, com 40 a 45% de pureza.
Com o lançamento dessa nova cultivar a Embrapa Gado de Corte reforça sua campanha pela diversificação de forrageiras nas pastagens brasileiras, a fim de evitar os problemas derivados dos cultivos em larga escala de um só tipo de material. “Não recomendamos a prática de monoculturas extensas para nenhuma espécie de forrageira. Isso se configura em um grave risco à atividade pecuária”, adverte Cacilda Borges do Valle. “O pecuarista precisa diversificar para garantir eficiência, até porque as condições de solo nem sempre são únicas dentro de uma mesma propriedade”, conclui a pesquisadora.
A Embrapa tem previsão de lançar, até o ano de 2010, 13 novas cultivares de forrageiras de várias espécies. Só a Unidade de Campo Grande, por sua vez, tem planos de colocar no mercado nesse mesmo período três novas cultivares de braquiárias brizanta, uma cultivar de humidícola, um panicum e um estilosantes.
Fonte: Embrapa Gado de Corte (por Thea Tavares), adaptado por Equipe BeefPoint