As emissões de metano no Brasil aumentaram 6% em quatro anos – entre 2020 e 2023 –, alcançando o montante de 21,1 milhões de toneladas, de acordo com um estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Observatório do Clima, rede de cientistas que reúne 162 institutos de pesquisa, organizações, entidades e movimentos sociais engajados na agenda do clima.
A maior causa de emissão do gás, que tem potencial para aquecer o planeta mais que o gás carbônico, está na atividade agropecuária, especialmente no rebanho bovino brasileiro, por conta das fermentações entéricas do gado (o popular “arroto do boi”). Essas emissões foram responsáveis por 14,5 milhões de toneladas do total somente em 2023, último ano pesquisado.
Em seguida, os maiores culpados por essas emissões de metano no país foram os setores de resíduos (dejetos orgânicos despejados em lixões, por exemplo), com 3,1 milhões de toneladas em 2023; as mudanças de uso da terra e florestas, com destaque para as queimadas (1,33 milhões de toneladas); o setor de energia (0,55 milhões de toneladas); e os processos industriais e uso de produtos, como uso de lenha e emissões por vazamentos e escapes na cadeia de petróleo e gás (0,02 milhões de toneladas).
O Brasil é hoje o quinto maior emissor de metano no mundo, ficando atrás somente da China, dos Estados Unidos, da Índia e Rússia. Em 2021, assinou junto com mais de 150 países o Compromisso Global do Metano, um acordo firmado durante a COP26, em Glasgow. Assim como os principais países poluentes desse gás, no entanto, “não fez quase nada para implementar o compromisso”, ressalta o Observatório do Clima.
“Estamos vendo uma trajetória ascendente [nas emissões] e poucos compromissos na redução de metano”, disse Davi Tsai, coordenador do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG). “Esperamos que o Brasil possa incorporar a agenda do metano de forma mais endereçada, olhando mais especificamente para esse gás e retomando esse com promisso de 2021.”
Tsai acredita que o ritmo crescente nas emissões de metano no Brasil e globalmente, além da baixa adesão dos países em reduzir esse gás na atmosfera, ainda impede uma meta ambiciosa de diminuição do metano que poderia ser apresentada, por exemplo, já na COP30, que acontecerá em Belém (PA), em novembro. “A temperatura ainda está baixa para isso”, afirmou.
Ao contrário do gás carbônico, o metano não integra as metas para redução dos gases de efeito estufa – as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) –, que são assumidas pelos países signatários do Acordo de Paris.
Segundo Gabriel Quintana, analista de ciência do clima do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), mesmo com o crescimento do rebanho brasileiro, é possível cortar em 28% do metano emitido pela agropecuária até 2035 em relação a 2020. Para isso, ele sugere medidas como melhorar a dieta animal, reduzir o tempo de abate do gado de corte, investir na melhoria genética do rebanho de corte e leite, e práticas de manejo do solo, por exemplo.
Fonte: Valor Econômico.