Divulgação - Force Of Nature
A cerca de uma hora de Austin, próximo a Fredericksburg, no Texas, nos Estados Unidos, em meio à região de Hill Country, três empreendedores decidiram investir em um novo projeto em uma fazenda de 364 hectares de terras abertas, atualmente habitadas por bisões, perus e javalis, entre outros animais, o Force of Nature.
Katie Forrest e Taylor Collins fundaram a Epic Provisions há mais de uma década, depois de terem sido atletas de resistência e adotado a dieta paleolítica, estilo alimentar que exclui alimentos processados e privilegia alimentos naturais e não industrializados, como base nutricional. Robby Sansom, um amigo próximo que também tinha interesse na indústria alimentícia, juntou-se a eles como diretor financeiro e de operações da Epic. O trio fez a empresa crescer e, depois, a vendeu para a General Mills, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, com sede em Minneapolis (EUA), por um valor estimado em US$ 100 milhões (R$ 570 milhões na cotação atual).
Enquanto continuavam trabalhando com a General Mills para expandir a Epic, eles começaram a pensar no próximo passo: construir uma cadeia de fornecimento confiável de carnes mais saudáveis, criadas a pasto e alimentadas com capim — como carne bovina, de bisão, alce, veado, javali e frango.
Eles já estavam imersos no universo dos petiscos de carne seca e trabalhavam com pecuaristas como a White Oak Pastures, fazenda familiar da Geórgia referência em práticas regenerativas e produção de carnes sustentáveis no país. Esse modo de produção não era novidade para eles.
Assim nasceu o Force of Nature, uma empresa que atua na produção e comercialização de carnes provenientes de práticas de pastoreio regenerativo. E o “escritório” deles, por assim dizer, é o Roam Ranch, onde cuidam de uma manada de bisões, organizam eventos, promovem workshops, recebem visitantes e até moram em tempo integral. Enquanto Collins tira o carrinho de golfe da garagem, ele aponta a diferença entre o solo de seu vizinho e o seu. Ele brinca: “O nosso está cheio de mato, e a gente até prefere assim.”
Quando compraram a propriedade, ele conta que era uma terra arenosa, ressecada pela seca. Hoje, está cheia de vida, mesmo com a seca persistente na região, explica Forrest. Essa regeneração do solo se deve, em parte, aos bisões. “Eles [os bisões] são a versão da natureza dos construtores de solo perfeitos”, afirma Sansom.
Suas patas pressionam o solo com todo o peso — cerca de 1.360 kg, explica ele. Isso quebra a crosta superficial e incorpora matéria orgânica. Além disso, quando se esfregam no chão de costas, espalham sementes na terra, incentivando ainda mais o crescimento de gramíneas e flores nativas. “Se você voltar daqui a um mês, isso aqui vira uma selva, uma verdadeira floresta de comida. A diversidade, os polinizadores — tem muita coisa acontecendo”, diz Collins.
E também haverá filhotes de bisão circulando por ali, completa Forrest. “A maioria da manada é formada por fêmeas, e tivemos uma taxa de prenhez de 100%, o que é realmente incrível. Isso demonstra saúde e adequação ao contexto. Mas imagine só: daqui a alguns meses, serão 70% mais animais.”
Nos EUA, os bisões já foram milhões, depois quase chegaram à extinção (no século 19), e agora estão vivenciando uma recuperação graças a esforços de conservação. O Parque Nacional de Yellowstone, o primeiro parque nacional do mundo, que abriga a maior manada — cerca de 5.000 animais — é talvez o melhor exemplo desses esforços em ação. Mas no Roam Ranch, Forrest e Collins cuidam do bisão texano, ou do sul, uma espécie mais compacta que seus equivalentes do norte — ainda que da mesma família.
E eles também já vagaram por essas terras no passado, assim como ursos negros, onças-pardas e panteras negras, conta Collins. Mas a maioria desses animais está extinta, ele acrescenta.
O Roam Ranch é um dos diversos ranchos com os quais a equipe da Force of Nature trabalha para obter sua proteína. Eles vão do Kansas até Dakota do Sul, Nebraska e Montana. A maioria é de propriedades familiares, dedicadas à produção sustentável e no uso do gado como ferramenta para revitalizar os solos e a terra.
Agora, eles também estão encarando o desafio da carne mais consumida pelos americanos: o frango. “Uma geração atrás, não se comia tanto frango assim. Hoje comemos 350% mais frango do que se comia nos anos 40 e 50. E, se voltarmos ainda mais no tempo, não existiam tribos nômades percorrendo os campos atrás de bandos de galinhas”, diz Sansom.
É um cenário desafiador. É possível produzir frango em escala e de forma regenerativa? Ainda não, ele diz, mas eles estão tentando. No fim das contas, pode ser necessário que as pessoas diminuam o consumo de frango.
Para Sansom, grande parte do problema está na tendência humana de querer dominar a natureza. “Quando forçamos o milho a crescer, a soja a crescer ou, nesse caso, forçamos galinhas a prosperar em locais e quantidades que não fazem sentido do ponto de vista evolutivo, estamos fora de sintonia”, diz ele.
Mas a Force of Nature quer ser esse espaço único para carnes regenerativas — e isso inclui o frango. Assim, o trio está criando maneiras de tornar uma das fontes de proteína mais populares do país e do mundo mais regenerativa.
“Estamos tentando justificar essas mudanças para sermos a primeira peça de dominó a abrir caminho para que outros possam seguir”, afirma Sansom. “Não seremos só nós a resolver esse problema. Precisa ser uma comunidade de produtores, marcas e até consumidores em busca de soluções”, afirma.
Segundo Sansom, o frango Cornish Cross, raça de frango mais amplamente utilizada na indústria avícola mundial, foi o escolhido no final dos anos 1940. Ele foi criado para viver em ambientes fechados e crescer rapidamente. Hoje, 99% dos frangos consumidos vêm dessa única linhagem.
A Force of Nature não vende essa raça; em vez disso, oferece uma linhagem antiga de crescimento lento, cujo objetivo não é engordá-la em 5 semanas dentro de um galpão, mas proporcionar uma dieta mais nutritiva e uma vida ao ar livre.
E Sansom deixa claro que, embora estejam trabalhando por um setor avícola melhor, eles não acreditam que “exista hoje um frango regenerativo em escala — ainda”. Isso porque as galinhas precisam de ração como principal fonte de alimentação. E, para cada hectare com frangos criados a pasto, são necessários quase 40 hectares de lavouras de alimentos. Ou seja, a conta não fecha, considerando a demanda atual por frango na dieta.
Embora a Force of Nature acredite em práticas regenerativas, Sansom afirma que eles não fazem colocam certificações regenerativas em suas embalagens, apenas os selos que os pecuaristas parceiros usam. A empresa argumenta que “no momento, os custos para adicionar essas certificações ao produto aumentariam ainda mais os preços”. Para eles, isso significa equilibrar expectativas de diferentes partes.
Uma palavra-chave para o trio de empresários é velocidade: quantas unidades você consegue vender em determinada categoria. Como eles atuam na indústria de alimentos há mais de 15 anos, já conhecem bem as demandas dos diferentes envolvidos no varejo e na distribuição. Por isso, suas carnes hoje estão disponíveis diretamente no site da empresa e em mais de 4.000 pontos de venda.
“Recebemos aqui um dos maiores varejistas de produtos naturais do país em 2016 para falar sobre a abordagem regenerativa de produção de carne. Essas coisas levam tempo, à medida que as pessoas vão entendendo a importância do que estamos fazendo. E queremos que seja uma relação, uma parceria, não algo meramente transacional”, acrescenta Sansom.
Forrest, Collins e Sansom já enfrentaram os altos e baixos de construir novas cadeias de fornecimento. Dito isso, eles não abrem mão da visão de que os americanos podem comer menos carne, mas de melhor qualidade, o que representa uma mudança real em relação ao modelo industrial, comoditizado, que tem dominado nas últimas décadas.
* Esha Chhabra é colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre desenvolvimento, meio ambiente e negócios há mais de uma década.
Fonte: Forbes.