Na parte I deste artigo, foram tratados assuntos referentes a produção e ao manejo da ensilagem de grãos de cereias, nesta parte II, o objetivo será mostrar alguns aspectos relacionados ao pós-abertura desse tipo de silagem, bem como, mostrar alguns aspectos nutricionais referentes ao tema.
Na parte I deste artigo, foram tratados assuntos referentes a produção e ao manejo da ensilagem de grãos de cereias, nesta parte II, o objetivo será mostrar alguns aspectos relacionados ao pós-abertura desse tipo de silagem, bem como, mostrar alguns aspectos nutricionais referentes ao tema.
O desabastecimento do silo e o problema da deterioração aeróbia
A redução do tempo de exposição dos grãos ao ambiente após a maturidade fisiológica e a eliminação da etapa de secagem dos mesmos, com base na confecção de silagem de grãos úmidos, resultou numa evolução no que se refere ao controle de perdas e redução de custos no armazenamento de grãos. Entretanto, do ponto de vista da ensilagem um novo entrave foi criado, representado pelo fenômeno da deterioração aeróbia da massa.
A presença de oxigênio na massa constitui-se como fator indesejável. O processo de deterioração aeróbia em silagens de grãos úmidos é originado pela elevada população de leveduras e alta disponibilidade de nutrientes na massa, sendo que a temperatura ambiental e o tempo de exposição da silagem ao O2 também devem ser considerados.
As leveduras envolvidas com a deterioração aeróbia podem ser classificadas em dois grupos: as espécies que utilizam ácidos orgânicos (Cândida, Endomycopsis, Hansenula e Pichia) e as que consomem açúcares e amido. Elas são capazes de se desenvolverem em baixas concentrações de oxigênio e em ambientes com pH muito ácido (pH < 4,0), ocorrendo a sucessão de populações ao longo das etapas de ensilagem. O número de leveduras na silagem, segundo Beck (1963) citado por Woolford (1990), pode variar de < 102 a 1012 ufc/g MS em menos de três dias. Após o fechamento do silo, as leveduras competem com os outros microrganismos por substratos fermentescíveis e, durante as primeiras semanas de ensilagem, a população pode chegar a 107 ufc/g, ocorrendo um decréscimo gradual durante as etapas subseqüentes do armazenamento, sendo que a sobrevivência das leveduras na estocagem depende do grau de anaerobiose, do pH e da concentração de ácidos orgânicos.
As áreas do silo mais próximas à atmosfera são por natureza, mais sujeitas à infiltração de ar, freqüentemente devido a maior porosidade da massa e aos materiais utilizados na cobertura. Desse modo, a multiplicação das leveduras pode continuar lentamente durante todo o período de estocagem e chegar ao momento de abertura do silo com carga em torno ou superior a milhões de ufc por grama de silagem (Borreani et al., 2002).
McDonald et al. (1991) relataram que a aeração da massa na ensilagem, devido ao tempo prolongado em contato com o O2, promove a multiplicação das leveduras, o que eleva à susceptibilidade da silagem em sofrer deterioração após a abertura do silo. Em silagens de grãos úmidos, quando a massa entra em contato com o ar durante o desabastecimento do silo, populações de leveduras superiores a 105 ufc/g podem quebrar a estabilidade em poucas horas (Siqueira et al., 2007).
Desse modo, antes da ensilagem, é necessário dimensionar adequadamente os silos em relação à demanda diária, pois se esta etapa for negligenciada a silagem de grãos úmidos deixa de se comportar como eficiente opção na conservação de alimentos.
A ensilagem e a digestão do amido
Os estudos com silagem de grãos úmidos de cereais têm constatado que há elevação na energia metabolizável do grão, devido principalmente ao aumento na digestão do amido, pois a ensilagem provoca a fragilização da matriz protéica que o recobre (Owens et al., 1997; Jobim et al., 2001; Costa et al., 2004).
Alguns estudos hipotetizaram que o grão ao ser ensilado sofre a gelatinização do amido, o que provocaria o rompimento das membranas protéicas e das estruturas dos grânulos de amido, melhorando a digestão microbiana (rúmen) e enzimática. Contudo, segundo Lopes (2004) citado por Costa et al. (2004), as condições do silo são insuficientes para que ocorra a gelatinização do amido, principalmente, devido à temperatura alcançada durante a fermentação.
Portanto, a exposição do amido ao ataque microbiano e enzimático, proporcionado pela ensilagem, está relacionado principalmente com a ação mecânica da moagem e a presença de ácidos orgânicos, que determinam o rompimento da matriz protéica.
Outro aspecto importante é a composição do amido, pois este polímero é composto de moléculas de amilose e de amilopectina, ligadas por pontes de hidrogênio. A amilose possui uma estrutura resistente, desse modo a digestibilidade do amido é inversamente proporcional a concentração deste componente. Portanto, fontes de amido com maiores concentrações de amilopectina, como o grão de milho imaturo, podem apresentar maior digestibilidade.
Silagem de grãos úmidos na terminação de bovinos
O Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal da FMVZ (UNESP/Botucatu) vem desenvolvendo a alguns anos pesquisas com o emprego da silagem de grãos de cereais na alimentação de bovinos de corte. Em estudo de desempenho de novilhos superprecoce alimentados com silagem de grãos úmidos de milho, Costa et al. (1997), observaram aspectos relevantes do ponto de vista nutricional e econômico no emprego da silagem de grãos.
Os resultados obtidos (Tabela 1) revelaram que os animais alimentados com silagem de grãos úmidos, comparado ao grão seco, apresentaram melhor desempenho em relação ao ganho de peso e conversão alimentar. Isso proporcionou a redução do custo de produção da arroba em 32,9% para os animais que receberam silagem de milho como volumoso e 23,6% para os animais que receberam feno.
Tabela 1. Desempenho de novilhos superprecoces alimentados com silagem de grãos úmidos de milho