Introdução
Fazendo-se uma breve revisão bibliográfica, verificou-se que diversos autores estudaram a conservação da fibra úmida do grão de milho, observando o desenvolvimento de fungos em condições de temperatura e umidade altas. Os mesmos autores testaram a conservação deste co-produto na forma de silagem em condições de laboratório, usando-se silos de vidros e sacos plásticos, observando após um mês de estocagem, que as características visuais do material e os seus teores de matéria seca e pH permaneciam inalterados. A densidade média nos silos de vidro foi de 650 kg por metro cúbico após a compactação.
Utilizando-se barricas de 200 l, verificou-se que a deterioração superficial do farelo úmido já é visualmente detectada nos dois primeiros dias para temperaturas acima de 17oC, mas esta parece não ultrapassar os 15 cm de profundidade superficiais até os 21 e 28 dias respectivamente para cada autor, mas ambos não especificaram a densidade obtida. A adição de preservativos ácidos foi efetiva na preservação com diferentes concentrações e ácidos utilizados. Os ácidos fórmico e formaldeído a partir de 0,5% (base úmida) já foram efetivos na conservação do farelo úmido por períodos superiores a 21 dias e o ácido propiônico foi igualmente efetivo a partir de 1,0% (base úmida). Também verificou-se que temperaturas ambientes próximas de 6oC impedem a deterioração por períodos de até 21 dias. A conservação na forma de silagem com ou sem melaço (4,8 e 12% na MS), grãos de milho moídos (20,35 e 50% na MS) e com feno de alfafa moído (20, 35 e 50% na MS) mostraram que o melaço foi mais efetivo para redução da produção de amônia total (menor degradação das proteínas) e manter o pH final da massa ensilada semelhante ao farelo isolado.
Nos trabalhos revisados, além das características visuais, o pH se mostrou um excelente indicador da deterioração. A elevação da temperatura, as porcentagens de amônia e ácido lático foram utilizados como indicadores do estado de conservação do farelo úmido.
Apresentação e logística de entrega
O farelo de milho úmido é entregue pelos moinhos a granel, e possui a cor amarelo-claro, com leve sabor adocicado e suave cheiro de milho fermentado, sendo esta apresentação muito estável e estandartizada em termos de composição nutricional, sendo de grande palatabilidade para o gado.
O fornecimento pelas fábricas tem bastante regularidade durante o ano, uma de suas vantagens sobre outros produtos similares, podendo ser transportado em caminhões basculantes de 10 a 25 toneladas, sendo importante que a programação de entrega atenda um planejamento adequado da demanda (Figura 1). Deve haver uma preocupação por parte da transportadora no sentido de evitar que a água de maceração adicionada escorra para fora do caminhão, já que a umidade do produto é alta (aproximadamente 60%). A movimentação ou manejo do produto em seu estado natural é fácil, podendo ser feita com o uso de pá carregadeiras ou manualmente, dependo do volume.
Ensilagem
Como discutido na introdução, não existe inconveniente na ensilagem do farelo de milho, podendo ser feita por qualquer processo tradicional de boa qualidade, em que se garanta, principalmente, a condição anaeróbia para uma fermentação adequada. Qualquer tipo de silo pode ser utilizado, tanto silos tipo poço, tipo bunker, trincheira, superfície (Figura 2) ou até os novos sistemas “Silo-Press” ou silos tipo tubo, não só pela garantia da qualidade da silagem, como pela facilidade de ensilar o material. O importante é reduzir ao máximo a superfície exposta, como por exemplo, preferindo-se silos tipo trincheira altos e estreitos, respeitando-se sempre um dimensionamento da fatia a ser retirada diariamente.
O manuseio e a conservação do produto em nossas condições climáticas foi testado no Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, São Paulo. Nesse trabalho o produto foi conservado em silos tipo “bunker” (trincheira acima da superfície) dentro de galpão coberto e ao ar livre, ambos construídos com tábuas de eucalipto não tratado. Concluiu-se que:
1. O produto apresentou composição química de acordo com as especificações e níveis de garantia preconizadas pela fábrica (ver composição no artigo anterior);
2. O produto pode ser armazenado por período de até 43 dias sem perda de qualidade, desde que abrigado da chuva e infiltrações de água, podendo ser coberto por lona plástica. Ambos os tipos de armazenamento foram adequados;
3. O pH é uma análise rápida, barata e de fácil execução para avaliar as deteriorações no produto armazenado. Produto em ótima condição deve apresentar pH inferior a 4,2;
Comentário BeefPoint: Não podemos esquecer que o uso de mais de um produto úmido, além do volumoso, ou de mais de um volumoso, exige do proprietário a adoção, na maioria dos casos, do esquema de manejo da alimentação denominado de Ração Total ou Total Mix Ration, pois os misturadores, com ou sem balança, possibilitam agilidade e uniformidade na mistura antes do fornecimento aos animais, o que garantirá redução ou até ausência de seleção do alimento por parte dos animais. Propriedades pequenas podem adotar o uso de múltiplos alimentos úmidos desde que haja mão-de-obra suficiente para esse trabalho, além da garantia de uma mistura manual bem feita no cocho antes do consumo animal. A conservação do farelo de milho úmido na propriedade é fácil pela sua acidez natural e fácil compactação, procurando-se utilizar a estrutura de silos disponível já na propriedade, desde os princípios básicos do processo de ensilagem sejam respeitados. Na elaboração das dietas, colocar sempre o custo final do produto colocado na fazenda, inclusive incluindo possíveis custos deste armazenamento na forma de silagem (lonas plásticas, tábuas, mão-de-obra, etc.).
FONTES: DEMARCHI, J. J. A. A.; POZZI, C. R.; ARCARO JÚNIOR, I.; GERDES, L. e SOUZA, E. F. Análise qualitativa e de conservação do farelo de milho úmido (wet conr gluten feed). In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 35, Botucatu, 1998. Anais… Botucatu, 1998, p.275-77.
GÓMEZ, J. C. A. Revolução Forrageira. Livraria e Editora Agropecuária, Guaíba, 1998, 96 p.