Por José Roberto Puoli, mais conhecido como Limão, é Engenheiro Agrônomo e consultor em produção de gado de corte. Atualmente também é pecuarista no Paraguai.
Caro Miguel,
Boa tarde. Como estão todos por aí?
Faz tempo que estou querendo escrever um pouco para você, e agora que baixou a inspiração. Já te mandei um artigo uma vez, falando das mudanças estruturais que acredito estão acontecendo na pecuária brasileira. Gostaria de insistir um pouco mais nisso, com mais informações (IBGE). Vamos lá:
Este primeiro quadro mostra o abate no Brasil. Coloquei ele somente para as pessoas perceberem como teve uma mudança grande nas quantidades com o passar dos anos.
O que fiz, então. Separei o abate de machos e fêmeas e coloquei a partir de 2006. Veja que interessante. O abate dos machos é praticamente estável, e o das fêmeas, após o pico de 2007, também, mostrando até um pequeno aumento outra vez em 2012.
As pessoas gostam muito de falar na proporção do abate, que é as fêmeas, aí está, no gráfico abaixo. Esta informação é bem relevante quando o rebanho está estável ou próximo disso. Que acredito é o ponto em que estamos. Já o número absoluto é muito importante, pois não fica interpretação alguma.
O que vejo de extrema importancia neste gráfico é que ele mostra, pelo menos para mim, que o rebanho do Brasil amadureceu (+-45% do abate é fêmea), ou seja, se crescer será de forma bem tímida. Podendo até diminuir, também de forma tímida.
Na minha opinião, este gráfico é que melhor explica tudo isso que mencionei. Está em espanhol, pois apresentei isso na Argentina. Com o fim das fronteiras agrícolas e este aumento de área plantada, fica claro que os pastos estão diminuindo. Acredito que o rebanho não diminuiu junto simplesmente por conta da melhora tecnológica da pecuária.
Minha única finalidade com estas informações é compartilhar este sentimento de mudança estrutural da pecuária com as pessoas. E, obviamente, estas mudanças trazem outras consequêncas para quem olha a pecuaria como um todo, inclusive os preços do boi.
Tenho ouvido, insistentemente, falarem de ciclos de baixa, alta………… etc.
Tentei fazer varias correlações, e a que me pareceu mais significativa foi essa. Os preços do boi, da vaca e da tonelada exportada (ABIEC). As pessoas podem dizer que não existe qualquer influência, mas que elas andam juntas, andam.
Vou te ser bem sincero, neste período todo, e ai podemos falar de 1997 até hoje (gráfico original), só vejo um ciclo, este de alta que começou no final de 2007. Ninguém pode dizer que este vale de 2008 até 2010 é efeito de ciclo pecuário. Tem que estar desconectado do mundo para concluir isso. Se não fosse a crise mundial, este vale não existiria.
Abaixo está outra lição de casa que fui fazer e mostrar na Argentina. É a relação do abate com a quantidade exportada. É praticamente paralelo. Ou seja, se não abatermos mais não vamos exportar mais. E esta é mina conclusão, pois como não acredito que vamos crescer muito no rebanho e no abate, também não acredito que vamos crescer na exportação.
Concluindo meu caro Miguel, continuo acreditando, e cada vez mais, que nossa pecuária sofreu mudanças estruturais importantes e a forma de analisa-la deveria mudar também.
Assim, acredito que poderíamos entende-la melhor.
Abração
Limão
12 Comments
Ótima análise. Parabéns!
Limão , que bom ouvir você , clareza e objetividade . Concordo com tudo , e agora com dados concretos deixamos as opiniões empíricas . Muito bom ! Abs Clélia
Limão
Quando leio um artigo assim fico feliz por ver que visões diferentes são possiveis, e interessantes, eu como pecuarista na região norte do país sinto e vejo isso, queria me expressar da mesma forma que você, pois por estar fora dos centros produtores tradicionais do sul, parece que estamos em outro país como Paraguai e Bolívia. Feliz pelo seu artigo.
Caro José Roberto Puoli,
Parabéns pelo trabalho. E essa relação abate/exportação sempre foi direta. Hoje em dia será mais pois a proliferação de estabelecimentos com inspeções sanitárias estaduais e municipais tendem a interferir significativamente no volume abatido. Fora os abates clandestinos.
Muitos estão esquecendo de avaliar essa realidade que está sendo construída.
Acredito que as pequenas e médias empresas deverão ter problemas sérios para continuarem no mercado interno. Mas, a qualidade heterogênea da carne embalada (sabor a fígado e outros) a vácuo poderá favorecer esses estabelecimentos.
Att. Prof. Wagner / Veterinária UFMG
Caro José Roberto, o 5º graf. que apresenta no seu artigo, foi que tbem me motivou a estudar o ciclo pecuário, algo que não fazia desde 2008. Esse estudo resultou em artigo publicado na revista Agro em Foco (ed. set/out). Concordo contigo, temos de mudar a ótica de analise da pecuária nacional. Dizer que a maior oferta de fêmeas é fator determinante, é algo que ficou pra tras. Áreas de grãos e mesmo cana, avançam em áreas de pastagem em velocidade e isso reflete na otimização de resultados da engorda de bois.É sensível ver que áreas de boa qualidade estão diminuindo para engorda. No entanto, há uma “conta” que não consigo resultar ainda: Rebanho é grande e consumo ao parece estabilizado, mesmo com a melhora da renda da pop. E tem ainda o mercado informal, que é deficil de mensurar. Sobre exportações, tenho viés mais positivo, acredito que podem apresentar expansão, motivados pela demanda internacional e o alto custo da produção norte-americano por exemplo. Independente de ciclo de alta ou baixa, vejo de forma otmista a pecuária. Mas a conta de investimentos e retorno tem de fechar, não é mesmo? Planejamento com profissionalização é ordem do dia a dia. Um abraço. Marco
Achei a análise e o comentário muito simplistas!Temos de lembrar-nos que dados históricos são história e não são previsões! O mercado dirá o que acontecerá! O __Crescimento__do mercado de carnes está sujeito à outras nuances…
Caro José Roberto
Entendo a dificuldade em analizar números absolutos, e qual a real dimensão estatística destes valores, quando dependemos de órgãos governamentais que não compartilham ou não têm um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo para o setor produtivo.
O Estado não é, e ao meu ver nunca foi nosso parceiro, quando da elaboração dos planejamentos, o que é lamentável, haja visto a quantidade de pessoas com alto nível de capacitação em gestão na iniciativa privada , que muito poderiam contribuir para o sucesso deste setor que, históricamente tem suportado muitos desaforos.
Artigos como o seu nos ajudam a entender melhor as tendências desta plataforma de negócios, e planejar nossas ações de maneira mais otimizada .
Bom trabalho
Caros amigos
Boa Tarde
Brilhantes comentários.
No entanto, estes dados necessitam ser correlacionados com a remuneração ao produtor e como esta, digamos, variável influência e é influenciada por estes dados/análise que estamos discutindo neste artigo. Outro aspecto que necessita de intensa, profunda e permanente análise é a influência exercida no mercado pela concentração de frigoríficos. Nunca na nossa atividade existiu tamanho monopólio.
Grande abraço a todos.
egberto barros
Gostei muito da análise feita pelo Limão que retrata a mudança estrutural da pecuária de corte nos últimos anos. Talvez sua vivência na pecuária de corte no Paraguai, o tenha ajudado em suas conclusões, uma vez que aquele país depende muito da exportação de carne bovina, e com a interrupção das exportações no ano passado, em razão dos focos de febre aftosa, ocorreu uma queda significativa dos preços internos, que estão se recuperando rapidamente com o reinício dos embarques para o exterior.
Obrigado a todos que comentaram. Acredito que uma das maiores contribuições do Beefpoint, é permitir esta troca de idéias/opiniões…… entre as pessoas.
Egberto,
Voce está corretíssimo. Faz muito tempo que luto para que as pessoas apontem os custos da pecuária, e aqueles que o faz, que os tornem públicos. Se vc usar um sojeiro como exemplo, eles sabem até as vírgulas do custo da tonelada da soja deles. Isso não é um bicho de 7 cabeças para fazer. Quando trabalhava no Campanário, eles tinham, e ainda tem, estes custos super bem apontados. Então, é possível fazer.
Infelizmente…………
Existem algumas pessoas que escrevem sobre ciclos da pecuária, mas, ou não leram ou não se interessaram de contrapor as idéias. É uma pena, pois eles têm opiniões um pouco diferente das que expus. Seria enriquecedor se pudéssemos trocar um pouco de idéias.
Abração
limão
Que facilitade de interpretação!!! Parabéns pelo artigo!!!! Excelente!
Parabéns José Roberto, pelo belo e detalhado estudo.
Concordo com você sobre o amadurecimento da pecuária brasileira
Não precisamos abrir mais fronteiras de produção.
Precisamos aprimorar as técnicas de produção e trabalhar mais a produtividade. Como é feito na agricultura.
Deve-se mudar também a consciência do nosso pecuarista no sentido de acompanhar a evolução da atividade.
Brigar por preços melhores apenas, não sei se seria a melhor saída.
Brigar sim,por preços melhores sobre a qualidade do produto produzido como um todo, incluindo o couro.
Att.
George Adriano
Médico veterinário
Barra do Garças-MT