Em 14 de abril deste ano, o Laboratório Nacional Agropecuário em Pernambuco (Lanagro-PE), referência nacional para o diagnóstico de Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis, emitiu laudo positivo para marcação priônica em amostra de tecido nervoso bovino oriunda do Estado do Mato Grosso.
Imediatamente, o serviço veterinário oficial do Brasil iniciou as investigações de campo e providências para o envio da amostra ao laboratório de referência da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em Weybridge, Reino Unido – Animal Health and Veterinary Laboratories Agency (AHVLA), para teste confirmatório e demais testes complementares que permitam a sua tipificação, conforme os protocolos estabelecidos.
As averiguações indicaram tratar-se de uma vaca de 12 anos de idade, nascida e criada na mesma fazenda, em sistema extensivo de produção a pasto e sal mineral, e enviada para abate no dia 19 de março, devido a problemas reprodutivos ocasionados pela idade avançada.
A vaca chegou ao matadouro em decúbito esternal e com sinais de fadiga muscular, devido ao longo tempo de viagem em função das condições inadequadas da estrada. Com esse quadro, o animal foi direcionado ao abate de emergência e submetido à colheita de amostras para teste laboratorial no Lanagro-PE, conforme protocolo de vigilância para Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB).
A carne e outros produtos do animal não ingressaram na cadeia alimentar e o material de risco específico foi incinerado no matadouro.
Investigações complementares de campo, envolvendo 11 propriedades com vínculo de movimentação animal, permitiram identificar 49 animais do “coorte” (nascidos um ano antes e um ano depois do nascimento do caso). Esses animais foram examinados, sem constatação de quaisquer alterações clínicas, sendo então sacrificados e completamente destruídos. Amostras de tecido nervoso desses animais foram submetidas ao teste para EEB no Lanagro-PE e resultaram todas negativas no dia 30 de abril.
Isso demonstra de forma inequívoca que o animal identificado é um caso isolado e não representa risco algum para a sanidade animal e à saúde pública.
Em relação à amostra enviada ao Reino Unido, o AHVLA confirmou o resultado positivo na prova de imunohistoquímica, sendo a OIE e, consequentemente, seus 178 países membros, informados oficialmente pelo delegado do Brasil perante aquela organização.
A confirmação da tipicidade da forma da doença deverá ocorrer no dia 8 de maio, data prevista pelo AHVLA para conclusão dos testes complementares. Entretanto, as evidências epidemiológicas apontam para um caso atípico de EEB, que ocorre de forma esporádica e espontânea, não relacionada à ingestão de alimentos contaminados.
Não serão adotadas outras ações em nível de campo, pois segundo o MAPA, todas as medidas inerentes ao caso já foram tomadas, conforme as recomendações do Código Sanitário de Animais Terrestres da OIE, visando cumprir com os seus dispostos, mantendo assim o Brasil com a melhor classificação mundial sanitária para a EEB, que é de risco insignificante para essa doença.
Sobre a doença
A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) é uma enfermidade degenerativa não-contagiosa que afeta o sistema nervoso central de bovinos, causada por uma proteína infectante chamada “príon”.
Existem dois tipos conhecidos de EEB em bovinos, que são as formas clássica e atípica. É importante distinguir estes dois tipos, devido às diferentes características epidemiológicas de cada uma.
EBB clássica: é transmitida por alimentos contaminados com o príon por terem sido confeccionados com produtos obtidos a partir de animais infectados.
Os sinais clínicos da enfermidade são nervosismo, reação exagerada a estímulos externos e dificuldade de locomoção, queda na produção de leite e diminuição de apetite.
É uma doença crônica, cujos sinais clínicos se ag ravam com o passar do tempo, podendo perdurar por meses. Além disso, a situação clássica apresenta longo período de incubação (tempo entre o momento da infecção e o início da doença), que em média é de 4 a 5 anos.
EEB atípica: é causada por príons ligeiramente diferentes da causa clássica. A diferença é relacionada à massa molecular do príon, que pode ser menor (conhecido como L-EEB) ou maior (H-EEB). Ocorre em animais mais velhos acima de 9 anos.
Trata-se de uma manifestação rara, cuja origem não está totalmente esclarecida. Ainda assim, a teoria mais aceita é que esta apresentação é uma forma espontânea da doença, não sendo relacionada com a ingestão de alimentos contaminados.
Segundo a OIE, no entanto, o leite, a gelatina e a carne produzida, não apresentam risco de transmissão.
Fonte: MAPA, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint