Nos últimos anos, tem crescido a apreensão de pecuaristas e técnicos nas regiões Norte e Centro-Oeste do País com respeito a síndrome da morte do capim-marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu). Esse fenômeno tem afetado pastagens no Acre, Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, estados que abrigam cerca de 42% das áreas de pastagens e 35% do rebanho bovino nacional (Dias-Filho & Andrade, 2005; IBGE, 2005).
O problema tem sido particularmente grave no Acre, onde já é uma das principais causas de degradação de pastagens naquele estado (Dias-Filho & Andrade, 2005). No nordeste e sul do Pará e norte do Tocantins, a síndrome da morte do capim-marandu, também, já atinge proporções preocupantes.
Essa síndrome manifesta-se durante a época chuvosa, principalmente em áreas que apresentam solos com drenagem deficiente, situadas em regiões com períodos chuvosos intensos e com altas temperaturas e níveis de umidade do ar (Dias-Filho, 2005a; b; c).
Inicialmente, aparece em áreas isoladas (manchas ou reboleiras), expandindo-se, posteriormente, para o restante da pastagem. As plantas atingidas por esse problema, normalmente morrem, adquirindo aspecto de “fenadas”.
De 6 a 7 de dezembro de 2005, em Cuiabá, MT, a síndrome da morte do capim-marandu foi tema de um workshop pioneiro, organizado pela Embrapa Gado de Corte. Nesse evento científico, sete especialistas de quatro unidades de pesquisa da Embrapa e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, apresentaram palestras, sobre assuntos ligados ao problema, para um público formado por pecuaristas, pesquisadores, técnicos, professores e estudantes.
Resultados de estudos morfofisiológicos apresentados durante o evento (Dias-Filho, 2005c), mostraram que a síndrome da morte do capim-marandu teria a sua origem a partir de alterações fisiológicas e morfológicas sofridas por esse capim, quando exposto a períodos de excesso de água no solo.
Essas alterações, afetariam o metabolismo do capim-marandu, tornando-o mais suscetível a ataques oportunistas de fungos patogênicos, os quais, em condições normais, não seriam capazes de causar danos sérios à planta.
Assim, a exposição do capim-marandu ao excesso de água no solo, mesmo que por curtos períodos de tempo, poderia aumentar a sua predisposição para infecções, ou mesmo causar regeneração insuficiente das raízes já infectadas por patógenos, ou outros agentes bióticos.
Por outro lado, seria possível supor que estresses adicionais, como o superpastejo e os baixos níveis de determinados nutrientes no solo, como o fósforo e o potássio, devido à influência que teriam no comportamento morfofisiológico da planta e particularmente das raízes, poderiam agir sinergicamente para potencializar os efeitos causados pela síndrome da morte do capim-marandu.
No momento, a alternativa recomendada para lidar com o problema é a substituição do capim-marandu, nas áreas já afetadas e áreas de risco, por capins relativamente mais tolerantes a solos com drenagem deficiente (Andrade et al. 2005; Dias-Filho, 2005a; b), evitando, assim, a monocultura dessa gramínea.
A síndrome da morte do capim-marandu, além de ser um desafio agronômico para pesquisadores, técnicos e pecuaristas, constitui-se, também, em um alerta para o perigo da monocultura.
Cabe a pesquisa, a busca constante de alternativas forrageiras para diversificar as pastagens, enquanto que pecuaristas e técnicos devem ver na diversificação das pastagens uma forma inteligente de planejamento estratégico, que resguardaria a propriedade rural contra eventuais fatalidades biológicas dessa natureza.
Literatura citada
ANDRADE, C.M.S de; VALEMTIM, J.F. Soluções tecnológicas para a síndrome da morte do capim-marandu. In: WORKSHOP “MORTE DE CAPIM-MARANDU”, 2005. Cuiabá: Embrapa Gado de Corte, 2005. 1 CD-ROM.
DIAS-FILHO, M.B. Degradação de pastagens: processos, causas e estratégias de recuperação. 2. ed. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2005a. 173p.
DIAS-FILHO, M.B. Opções forrageiras para áreas sujeitas a inundação ou alagamento temporário. In: PEDREIRA, C.G.S.; MOURA, J.C. de; DA SILVA, S.C.; FARIA, V.P. de (Ed.). 22o Simpósio sobre manejo de pastagem. Teoria e prática da produção animal em pastagens. Piracicaba: FEALQ, 2005b, p.71-93.
DIAS-FILHO, M.B. Respostas morfofisiológicas de Brachiaria spp. ao alagamento do solo e a síndrome da morte do capim-marandu. In: WORKSHOP “MORTE DE CAPIM-MARANDU”, 2005. Cuiabá: Embrapa Gado de Corte, 2005c. 1 CD-ROM.
DIAS-FILHO, M.B.; ANDRADE, C.M.S de. Pastagens no ecossistema do trópico úmido. In: SIMPÓSIO SOBRE PASTAGENS NOS ECOSSISTEMAS BRASILEIROS, 2, 2005, Goiânia, Anais.Goiânia: SBZ. p. 95-104.
IBGE. Produção da pecuária municipal, Rio de Janeiro: IBGE, v. 32, p.1-35, 2005.
________________________________
Moacyr B. Dias Filho é Engenheiro Agrônomo, M.Sc. em Pastagens pela ESALQ/USP, Ph.D. em Ecofisiologia Vegetal pela Cornell University e pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA
0 Comments
Prezado Dr. Alejandro Hipólito Pabón Valverde,
Obrigado pelos comentários e perguntas sobre o meu artigo intitulado “Entendendo a síndrome da morte do capim-marandú”, veiculado no site BeefPoint,
Com relação às tuas perguntas, tenho os seguintes esclarecimentos:
1. As cigarrinhas-das-pastagens não são mencionadas, pois o problema da “Síndrome da morte do capim-marandú” não está relacionado com ataques desses insetos e sim com os fatores que mencionei no artigo.
2. Durante o Simpósio sobre síndrome da morte do capim-marandú, também mencionado em meu artigo, reuniram-se pesquisadores em entomologia, fitopatologia, ecofisiologia e solos da Embrapa. Os resultados discutidos por esses especialistas indicam que problemas de ordem entomológica, como a ataques de cigarrinha-das-pastagens e percevejo castanho não estão relacionados ao problema específico da “Síndrome da morte do capim-marandú”, sendo, portanto, problema distinto, mas que também causam a morte do capim. Em breve estarei escrevendo um artigo para o site do BeefPoint onde será discutido o problema de ataques de cigarrinha-das-pastagens em capim-marandú.
3. No momento, não existe disponível no mercado cultivar de Brachiaria brizantha com tolerância ao alagamento do solo superior ao cultivar marandú (que é muito baixa). Para 2006, está programado o lançamento pela Embrapa de uma cultivar de B. brizantha (Piatã) que, segundo meus estudos, tem tolerância ao excesso de água no solo relativamente superior a da cultivar Marandú. Existe uma outra cultivar, em fase de estudo (Arapoty), que tem se mostrado relativamente bem mais tolerante ao alagamento do solo. No entanto, parece ter problemas de baixa tolerância à cigarrinha, o que poderá inviabilizar o seu lançamento pela Embrapa. Com certeza a tolerância de capins à ataques de cigarrinha tem sido uma característica de grande importância na avaliação de cultivares em fase de pré-lançamento pela Embrapa.
Espero ter esclarecido às tuas dúvidas, mais informações podem ser encontradas em outros artigos de minha autoria disponíveis no site:
http://www.freewebs.com/moacyr/publications.htm
Atenciosamente,
Moacyr