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Escalada do boi gordo encontra seu limite e preço começa a cair

A escalada do boi gordo encontrou um limite. Depois de atingir o maior nível da história em 11 de novembro, o preço do gado começou a ceder. Em meio à queda sazonal da demanda chinesa e aos sinais de preocupação com o consumo no mercado doméstico – o que afeta a demanda de varejistas e restaurantes -, o movimento de queda das cotações do boi gordo se intensificou. 

Em dezembro, o preço do boi gordo no Estado de São Paulo já caiu 4,76%, para R$ 270,25 por arroba. Desde o pico histórico, em meados de novembro, a cotação recuou 7,4%, de acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). 

Entre executivos de frigoríficos, a avaliação é que a trajetória de queda deve continuar – o pior da entressafra de pasto já passou. “Veremos um boi de R$ 250 mais ou menos em dezembro. Posso errar por uma semana ou dez dias, mas não tem como não caminhar para isso”, afirmou ao Valor um dirigente de uma das principais indústrias de carne bovina do país. 

Se chegar no nível projetado – e desejado – por esse executivo, o preço do boi gordo cairá 14,4% desde o recorde de 11 de novembro. Ainda assim, o preço estará bem mais alto na comparação anual. No último mês de 2019, o indicador Cepea/Esalq ficou, em média, a R$ 211. Em doze meses, portanto, a alta seria de 15% mesmo com a retração prevista pelo executivo. 

Tradicionalmente, os pedidos da China arrefecem no último mês do ano porque os importadores já formaram os estoques para o Ano Novo Lunar, em 12 de fevereiro. Sem o voraz apetite da China, que responde por 41% das exportações brasileiras de carne bovina, o preço do gado perde suporte – o país asiático absorve cerca de 10% da produção de carne do Brasil. 

O forte controle de importações de alimentos feito pela China para evitar a covid-19 também é um motivo que pode ajudar a reduzir as cotações, destacou o mesmo executivo. Em recente relatório, a publicação especializada Faxcarne informou que há 10 mil contêineres de carne parados no porto de Tianjin. Importadores vêm retirando cargas lentamente, e só quando necessitam.

“Estão implementando o sistema de desinfecção peça por peça e rastreabilidade dos produtores que estão livres de covid-19 em todos os portos”, disse um trader à publicação. Além disso, a intensa depreciação do dólar das últimas semanas prejudica a receita em real dos frigoríficos exportadores. Nesse quadro, só com boi mais barato para fechar as contas no setor. 

No Brasil, a demanda não está aquecida, o que reforça a pressão que a indústria frigorífica vem fazendo para reduzir os preços do gado e, assim, recompor as margens. Na última semana, as vendas de carne bovina para o food service foram muito ruins, apurou o Valor. “Com essas notícias da pandemia e medo de restrições a restaurantes, os clientes baixaram o estoque. Ninguém quer ser pego cheio de carne se o governo decidir fechar o comércio”, afirmou uma fonte. 

Nas varejistas, o clima de cautela também afeta o mercado de carne e, consequentemente, as estratégias dos frigoríficos para a compra do boi que será abatido neste fim de ano, afirmou outro executivo da indústria. As grandes varejistas costumam reservar antecipadamente uma parte da produção dos grandes frigoríficos para ter suprimento para as festas de fim de ano. Neste ano, o temor com a demanda é tão grande que isso não está ocorrendo como se esperava. 

“Está todo mundo vendendo o almoço para comprar o jantar”, comparou uma fonte. Quando se olha para a demanda do mercado doméstico, o único alento talvez seja o menor número de viagens esperado para Natal e Ano Novo. Com mais gente em casa, o consumo de churrasco pode aumentar, disse a fonte. 

Fonte: Valor Econômico.

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