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Especialistas americanos discutem o desafio de alimentar nove bilhões de pessoas em 2050

Apesar da meta da Cúpula Mundial de Alimentação de reduzir pela metade o número de pessoas com fome no mundo entre 1996 e 2015, o este continua constante. Atualmente, a estimativa oficial de 2010-2012 da Organização para Alimentação e Agricultura (FAO) das Nações Unidas do número de pessoas subnutridas é de 870 milhões e algumas organizações de auxílio terem estimativas maiores.

Ao mesmo tempo, a população mundial deverá crescer dos atuais 7 bilhões de pessoas para cerca de 9 bilhões em 2050. Dessa forma, surge a questão de como alimentaremos 2 bilhões a mais de pessoas até 2050, quando já temos quase 1 bilhão enfrentando fome crônica.

Recentemente, fomos convidados (Daryll Ray e Harwood Schaffer, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos) a participar de um simpósio na reunião anual da Sociedade Entomológica da América em Knoxville chamado: “Alimentando futuras gerações: expandindo a ciência global para responder ao desafio mundial”. O foco do desafio era identificar formas de alimentar 9 bilhões de pessoas em 2050. O que se segue é uma sinopse de nossa apresentação.

Parece que as companhias multinacionais de biotecnologia de sementes e químicos responderam a esse desafio posicionando seus produtos como uma solução primária para cumprir essa meta. Não por acaso, eles estão também usando esse desafio como uma justificativa para pressionar a extensão de seus direitos de propriedade intelectual através de negociações comerciais.

Como resultado de nosso enrendimento e discussões, parece que grande parte da discussão sobre alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050 tem sido capturada por essas firmas, criando uma falsa dicotomia. Por um lado, temos o que podemos chamar de atual modelo de agricultura mecanizada. Nesse modelo, a meta é trazer as últimas tecnologias (leia-se organismos geneticamente modificados e químicos agrícolas) para ajudar a resolver esse problema. Argumenta-se que através do uso de produtos e tecnologias patenteados, os produtores rurais dos Estados Unidos podem impulsionar sua produção para ajudar a suprir a maior demanda por alimentos.

Da mesma forma, os produtores rurais em países em desenvolvimento podem usar as mesmas tecnologias e produtos patenteados para impulsionar sua produção agrícola. Porém, visando tornar essas tecnologias e produtos disponíveis, as companhias de agronegócios precisam se certificar de que sua propriedade intelectual está protegida. Então, estas empresas querem oferecer o uso grátis de seus produtos como a mandioca geneticamente modificada para os produtores do país em troca de sua determinação de direitos de propriedade intelectual e agências reguladoras em seu país. A ideia é remodelar a agricultura de subsistência em produtores empresariais orientados à exportação.

Por outro lado, eles oferecem produção orgânica, vendo isso como uma reação filosófica pós industrial à mecanização da agricultura. Os defensores do modelo de agricultura mecanizada atribuem à produção orgânica menor rendimento e maior exigência de mão-de-obra como resultado de maior pressão de ervas daninhas e insetos. O argumento é frequentemente rebatido dizendo que produzir a atual produção de frangos nos Estados Unidos com frangos caipiras (animais criados soltos), não haveria espaço suficiente disponível para fazer isso – nós nunca tentamos fazer esse cálculo.

Ao posicionar os orgânicos como única alternativa ao uso pleno de seus produtos, eles esperam anular qualquer desafio à sua visão. Eles também ignoram muitas outras ações que poderiam ser úteis para combater o desafio de alimentar 2 bilhões a mais de pessoas até 2050 – um aumento de 28% em um período de 38 anos.

Ao assumir esse desafio, precisamos lembrar que fomos capazes de alimentar uma população de 4 bilhões de pessoas em 1974 e 7 bilhões em 2012 – um aumento de 75% em um período de 38 anos. No nosso ponto de vista, uma ação necessária é reduzir as perdas pós colheita, que chegam até 30%. Para fazer isso, tecnologias de armazenamento de baixo custo precisam ser implementadas usando os recursos que estão disponíveis às famílias de agricultores e que possam ser mantidas a longo prazo pelos menos desenvolvidos.

Precisamos de financiamento de longo prazo para programas de melhoramento genético que produzirão variedades públicas do que o Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos chamou de “culturas perdidas”. Muitas dessas colheitas atualmente rendem cerca de 1 tonelada por hectare – comparado com 10 toneladas de milho por hectare nos Estados Unidos -, enquanto pesquisas identificaram variedades dessas colheitas que podem render o triplo ou o quádruplo.

Embora a integração pudesse ser um problema para os produtores que usam tratores, isso é mais comum entre os produtores que dependem de mão de obra para sua produção. E este sistema tem potencial para aumentar a produção total de alimentos através de técnicas como sucessão de plantio – que é o que fazemos quando plantamos sementes de rabanete e cenoura na mesma linha na primavera. Na Colômbia, há agricultores que plantam abóbora entre o milho. Com pesquisas orientadas, os sistemas de integração que aumentam a produção total nutricional por unidade de terra podem ser identificados usando colheitas produzidas localmente.

Como um estudo recente no estado de Iowa mostrou, rotações de quatro anos que incluem colheitas agrícolas e gado podem reduzir a necessidade de fertilizantes sintéticos de nitrogênio e herbicidas. Em alguns casos, a tarefa será ajudar os produtores de subsistência a recuperar as rotações tradicionais que usavam culturas e variedades locais.

Precisamos também prestar atenção à biologia e estrutura do solo. Fazendo isso, pode-se reduzir o escoamento de água, aumentar a sua infiltração e melhorar a disponibilidade de nutrientes às plantas. Nada disso é difícil. A ciência é relativamente fácil. O que é preciso é vontade política para financiar programas nessa área.

Dito isso, não estamos argumentando que o papel da agricultura mecanizada no Norte global não tem um papel para se cumprir essa meta; tem. Mas há mais a se fazer que isso.

O real desafio em alimentar todas as 9 bilhões de pessoas em 2050 não é a produção; é a distribuição. Lembram de 1998-2001? O preço do milho era US$ 1,85 por bushel e tínhamos 800 milhões de pessoas com fome no mundo. Mas, por causa do pequeno poder de compra, estas 800 milhões de pessoas passaramfome, enquanto os produtores dos Estados Unidos ouviram que os baixos preços eram causados pelo “excesso de produção”.

O primeiro passo para cumprir esse desafio é permitir que os produtores que estão entre os menos preparados produzam seu próprio alimento usando tecnologias sustentáveis que estão dentro de seus recursos de base.

Fonte: Drovers, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

2 Comments

  1. Hélcio sabatke disse:

    gostaria que fosse mais abrangente esse assunto pois não é só o planeta que não esta aguentando o nosso bolso também não aguenta mais com os custos de produção. Trabalhamos cada vez mais aumentamos a produção e ganhamos menos, é banco é revenda de insumos etc…

  2. Ricardo Pinto disse:

    Não sou nenhum extremista do tal sistema organico, mas concordo com o artigo.
    Acho que muitas metodologias de produção nao são pesquisadas ou difundidas porque dariam certo sem levar nenhum lucro as multinacionais.
    Logo como consequencia , mesmo estando em um bioma totalmente diferente daquele onde foi gerada a tecnologia, acabamos por seguir de uma forma globalizada e ficamos dependentes disso dali por diante