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Estação de monta

Por Pedro Luiz Bastos Araújo1

No sistema operacional em que os touros são mantidos durante todo o ano com as vacas não é possível se estabelecer um controle da reprodução e assim, as parições ocorrem de acordo com as leis da natureza.

A estação de monta é uma prática indispensável por todos aqueles que pretendem desenvolver um programa ambicioso de produção animal. A estação de monta é indicada, sobretudo para a pecuária de corte embora na pecuária leiteira seja de grande utilidade porque permite uma programação correta da produção na safra e entressafra.

Estabelecimento da estação de monta

Para o estabelecimento da estação de monta (E.M.) para rebanhos de corte, quatro fatores básicos devem ser considerados:

1- Condições fisiológicas da vaca para o exercício da função reprodutiva;
2- Época de nascimento das crias;
3- Época de desmame das crias;
4- Época de abate das crias e descartes das matrizes.

Para as condições de Brasil o fator predominante a ser considerado é o número um, pois de acordo com os conhecimentos atuais, o aproveitamento de boas condições naturais para a vaca reproduzir é elemento de grande importância no custo final do produto.

Sabe-se que nos meses de chuvas é que as vacas encontram as melhores condições para reproduzirem, embora uma E.M. nesta época acarrete uma estação de nascimento em período úmido e a desmama no início ou durante a seca. Entretanto estes fatores são fáceis de serem contornados através de boas instalações e manejo correto, incluindo, inclusive suplementação das crias logo após a desmama com o uso de sal proteinado ou misturas múltiplas, ponderando sempre o custo benefício.

O que não se pode admitir, pelo menos em pecuária mais ou menos extensiva, é estabelecer a E.M. em época seca, visando o nascimento no início da seca e a desmama no começo das águas, pois esta mediada acarretaria prejuízos extremos para a fazenda, pois ou teria de suplementar o rebanho de vacas o que, em condições de Brasil, é inviável.

Assim conclui-se que a E.M. deve ser aquela que aproveita as condições naturais do clima, por exemplo, entre novembro e março.

Quando iniciar a estação de monta?

– Quando em média 20% do rebanho estiver em cio;
– 45-60 dias após o início da estação chuvosa, porque o animal ganha peso e melhora condição corporal para cobertura;

Nós esperamos 40 dias após o início das chuvas para iniciarmos nossa estação de monta.

Duração da estação de monta

Durante a E.M. os touros ficam juntos das vacas, sendo posteriormente retirados deste convívio.

Uma estação de monta, segundo Fonseca (1982), teoricamente deveria durar um tempo tal que permitisse o nascimento de uma cria por ano, com um índice de 100% de nascimento no rebanho.

Duração da E.M. = Duração do ano – (Duração da gestação + Período puerperal).
Exemplo: E.M. = 365 – (290 + 40).
E.M. = 35 dias.

Com uma E.M. de 35 dias de duração não se observaria superposição entre E.M., estação de nascimento (E.N.) e puerpério, pois ao iniciar a nova estação, todas as vacas já estariam paridas.

Fazendas que estão começando a adotar esta prática devem ter uma E.M. de 180 dias, e reduzir anualmente o período em 30 dias, até chegar ao ideal ou próximo do ideal.

Nós observamos alguns fundamentos para aumentar a eficiência da E.M., os principais são:

1 – A taxa de prenhez pode ser aumentada se:

– 90 a 95% das vacas apresentarem estro nos primeiros 20 dias da E.M.;
– 70 a 80% das vacas apresentarem prenhez positiva no primeiro serviço;

2 – Noventa por cento das vacas estarão em estro nos 20 primeiros dias da E.M. se:

– Vacas parirem no prazo de 60 dias e novilhas em 45 dias;
– Vacas deverão estar em moderada condição corporal durante a E.N.
– Novilhas de primeiro parto deverão ser separadas das vacas velhas.

3 – 70 a 80% das vacas deverão conceber no primeiro serviço se:

– As vacas estão ganhando peso durante a E.M.;
– A cobrição das vacas é feita por touros de comprovada fertilidade.

4 – As vacas deverão parir em um período curto e concentrado.

5 – Utilizar os princípios e desenvolver um plano para melhorar a produção em seu rebanho.

A-Vacas:

– Períodos curtos de E.M. e E.N. (E.M. máximo de 90 dias);
– Retirar os bezerros 48 horas antes de iniciar a E.M.;
– Condição corporal moderada durante o parto;
– Verificar se os animais estão gestando e a condição corporal ao parto;
– Alimentar animais magros;
– Eliminar vacas vazias.

B-Novilhas:

– Antecipar o acasalamento das novilhas;
– Ter o peso de 300 kg ao início da E.M. ou 60 a 65% de peso vivo dos animais adultos;
– Testar prenhez, eliminar novilhas vazias, alimentar novilhas magras;
– Manejá-las separadas de vacas velhas.

C-Touros:

– Testar a fertilidade antes do início da E.M.;
– Estabelecer relação touro/vaca.

6 – Avalie economicamente seu plano usando os recursos disponíveis:

– Performance reprodutiva;
– Inventário dos recursos disponíveis.

7 – Modificar o plano para torna-lo viável e fisicamente possível na fazenda em questão.

8 – Desenvolva um calendário para que seu plano seja executado, observe os resultados e modifique-os se necessário.

Vantagens da estação de monta

Muito se tem a respeito das vantagens da E.M., onde se verifica as principais:

– Estabelece uma estação de nascimentos.
– Estabelece uma estação de desmama (E.D.).
– Forma lotes uniformes.
– Facilita o manejo, pela concentração de certas tarefas em determinadas épocas, liberando mão-de-obra para outras tarefas.
– Em 45 dias após o término da E.M. já se sabe quais animais estão com prenhez positiva e com isto fazendo uma pressão de seleção no rebanho.

Ao final de cada E.M. as vacas falhadas que apresentarem as características abaixo deverão ser descartadas do rebanho:

– Reprodutoras velhas;
– Pequenas ou muito grandes, com defeitos de aprumos e genitália externa pouco desenvolvida;
– Vacas que apresentam anormalidades uterinas e ovarianas após levantamento ginecológico;
– A de pequena habilidade materna, como as que abandonam as crias, perderam ou desmamaram bezerros com desenvolvimento inferior ao do grupo.

As demais falhadas que não se enquadram no grupo descrito anteriormente, serão identificadas e mantidas no rebanho aguardando a próxima E.M. As que não conseguirem a gestação farão parte do lote de descarte.

Bibliografia

FONSECA, V.O. Reprodução em bovinos. Informe Agropecuário. Belo Horizonte, v8, N 89, p 70-80. 1982

MARQUES, D.C. Criação de Bovinos. Nobel, São Paulo, 1988, 6 ed., 479 p.

PEIXOTO, A.M.; MOURA, J.C. e FARIA, V.P. Bovinocultura de corte – fundamentos da exploração racional. FEALQ, Piracicaba, 1986. 345 p.

REZENDE, C.A.P. e ANDRADE, I.F. Bovinocultura de Corte. FAEPE, Lavras, 1997, 100p.
______________________
1Por Pedro Luiz Bastos Araújo é médico veterinário formado pela Universidade de Alfenas em 1992, especialista em produção de ruminantes pela Universidade Federal de Lavras em 1997 e consultor veterinário da São Francisco Consultoria Veterinária.

2 Comments

  1. Fernando R. Pereira disse:

    Parabenizo a equipe do BeefPoint pelo artigo tão bem colocado, procurando esclarecer aos pecuaristas que ainda não despertaram para esta importante técnica de manejo.

  2. Marcia Maia disse:

    Estava realizando uma pesquisa sobre estação de monta e encontrei este artigo, que apesar do tempo (2003) está mais atual do que nunca, perfeito, prático e funcional. Parabéns ao autor do artigo.

    Marcia Maia
    Zootecnista e Médica Veterinária