Até o fim deste mês a maioria dos Estados brasileiros já terá concluído suas campanhas de vacinação contra a febre aftosa do primeiro semestre, quando cerca de 160 milhões, de um rebanho total de quase 170 milhões de bovinos e bubalinos, terão sido imunizados.
Cumpre-se, assim, mais uma etapa do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA), estruturado em 1992 para que o País inteiro adquira, até 2005, o status de zona livre de aftosa, com vacinação, dado pelo Escritório Internacional de Epizootias (OIE), com sede em Paris, França. Adquirir este status significa abrir importantes mercados internacionais para a carne bovina brasileira, como Estados Unidos e Europa.
Atualmente, 42% do território brasileiro, compreendendo 12 Unidades da Federação e 71% do total do rebanho nacional, ou 120 milhões de cabeças, já são consideradas pela OIE como zonas livres da doença, com obrigatoriedade, porém, de continuidade da vacinação. Santa Catarina tem reconhecimento, apenas nacional, como zona livre sem vacinação (pela OIE, RS e SC, pertencentes ao Circuito Sul, estão com o reconhecimento suspenso, pelo fato de doença ter ressurgido no RS no ano passado).
Risco desconhecido
Já a maior parte dos Estados do Norte e Nordeste ainda é infectada pela doença, sendo que 10 Estados, de um total de 13, ainda eram classificados em 2000 como de “risco desconhecido” para a febre aftosa, ou seja, muitos nem sequer concluíram o cadastramento dos rebanhos ou instalaram uma infra-estrutura mínima de vigilância e de barreiras para o trânsito de animais, embora já venham promovendo campanhas de vacinação.
É com otimismo, porém, que a Secretaria de Defesa Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vê a possibilidade de erradicação da doença até o prazo previsto no PNEFA, 2005. “Este prazo será cumprido”, garante o secretário de Defesa Animal, Luiz Carlos de Oliveira. Segundo ele, vários Estados das zonas infectadas estão se mobilizando, entregando seus relatórios de controle da doença, para obter seus certificados até antes do prazo final. “Rondônia, por exemplo, passará por avaliação sorológica até outubro para que, em maio de 2003, durante a reunião da OIE, já seja incorporada à área livre com vacinação”, diz.
“Estamos adiantados”, confirma o presidente do Fundo Emergencial da Febre Aftosa (Fefa) de Rondônia, José Vidal Hilgert, que diz que os benefícios para o Estado serão enormes. “Temos nove frigoríficos autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) que podem, por enquanto, enviar só carne desossada para fora do Circuito Norte”, diz. “Com a obtenção do status de zona livre com vacinação, o Estado poderá, além de exportar, vender gado em pé para outras regiões e o preço da arroba subirá para o produtor. Será uma renda importante, já que entre 60% e 70% da nossa produção pecuária vai para outros Estados.”
Com 7,58 milhões de bovinos, Rondônia é o segundo Estado com maior rebanho do Circuito Pecuário Norte, atrás do Pará, com 10,657 milhões de bovinos. No Pará, segundo a diretora-executiva do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado (Fundepec-PA), veterinária Rosirayna Remor, a obtenção do certificado de zona livre com vacinação deve ser adiantada para 2004, um ano antes do prazo-limite.
O Estado ainda está em plena campanha de vacinação, prorrogada até 30 de junho. Em 2001 o índice de cobertura vacinal chegou a 92% do rebanho, segundo Rosirayna, nas Zonas 1 e 2 (o Estado foi dividido em quatro zonas para efeito de controle da doença). “Solicitamos esta semana, em Brasília, a sorologia para que essas duas zonas do Pará fiquem livres da aftosa com vacinação”, diz o fiscal federal agropecuário do Mapa e consultor para o Programa de Defesa Animal no PA, veterinário Antônio Carlos Mocelim. “Nas zonas 3 e 4, que compreendem criatórios menos tecnificados, incluindo o Arquipélago de Marajó, o cadastramento de animais ainda está sendo concluído e ambas as zonas são consideradas de alto risco”, completa.
Venda restrita
Um dos principais problemas e, de certa maneira, incentivos, para que os Estados infectados por aftosa se estruturem para melhorar os níveis de risco para a doença é a impossibilidade não só de exportar, mas também de vender gado vivo, tanto bovinos, quanto bubalinos, ovinos, caprinos e suínos, para Estados onde a doença já tenha sido erradicada.
Apenas carne desossada em frigoríficos com Selo de Inspeção Federal (SIF) pode passar as fronteiras dos circuitos infectados. Nessas áreas, também, o preço da arroba bovina é sempre menor do que em áreas consideradas livres da doença. “No Pará, por exemplo, a cotação está entre R$ 32,00 e R$ 34,00, quando no Circuito Pecuário Centro-Oeste supera os R$ 40,00”, diz Mocelim.
O Ceará, Estado considerado infectado no Circuito Nordeste, com um rebanho bovino de dois milhões de cabeças, enfrenta problema maior ainda com seu mercado de caprinos e ovinos, cujo rebanho chega a 2,328 milhões de cabeças. “O Estado é o maior fornecedor de caprinos deslanados para corte”, diz o presidente da Associação dos Criadores do CE e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado. “Mas, como os reprodutores não podem ser vendidos nos outros Circuitos Pecuários, a não ser os do Norte e Nordeste, eles valem no máximo R$ 1 mil, quando, em São Paulo, por causa da pouca oferta, chegam a valer R$ 12 mil”, diz.
Embora a infra-estrutura cearense ainda esteja falha o Estado não adota programas de erradicação, só de vacinação. O presidente da Federação da Agricultura do CE, José Ramos Torres de Melo Filho, acredita que até 2005 o Estado obterá o certificado de zona livre com vacinação. “Esses problemas comerciais obrigarão os produtores a se conscientizarem da necessidade de vacinar os rebanhos”, diz Melo Filho, acrescentando, porém, que o Nordeste não tem recebido a mesma atenção que os Circuitos Centro-Oeste e Leste receberam do Mapa. “No 6º Seminário Nordestino de Pecuária, no início do mês, o secretário de Defesa Animal do Mapa havia se comprometido a participar para discutir o programa na região e não apareceu”, diz.
No Maranhão, o maior rebanho do Circuito Nordeste, estimado em 4 milhões de cabeças, a situação está melhor. “Até o fim do ano passaremos de alto risco para médio risco”, diz o diretor-geral da Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão, Sebastião Cardoso de Almeida Filho. “Já dispomos de 18 unidades regionais de Defesa Agropecuária, 89 unidades locais e 128 unidades de apoio e o cadastramento do rebanho será fechado até o mês que vem. Estamos cumprindo à risca as recomendações do ministério”, afirma.
Zonas sanitárias para febre aftosa no país
Fonte: O Estado de São Paulo, Suplemento Agrícola (por Tânia Rabello), adaptado por Equipe BeefPoint