Mais do que qualquer movimento de pressão por parte dos frigoríficos, a estiagem é o principal motivo para a queda brusca dos preços do boi gordo neste mês. Desde o início de abril, a queda acumulada da arroba do boi em São Paulo é de 5,31%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). Ontem o indicador diário de preços a prazo fechou em R$ 41,58 em São Paulo.
Segundo analistas, o recuo da arroba é comum nesta época do ano, quando a safra de boi está quase no pico. O que está surpreendendo é a intensidade da queda. “Cair é normal, mas não com essa força”, lamenta o pecuarista Carlos Eduardo Vieira, da fazenda Palmares, em Jaborandi (SP).
O consultor da corretora Lucra, Sérgio Galiano, afirma que o mercado esperava uma queda mais gradativa. No entanto, a estiagem em São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul fez com que os criadores ofertassem mais animais, uma vez que as pastagens foram afetadas pelo clima. “Até março o pasto estava em condições excelentes e o pecuarista estava retendo o gado. Agora, com algumas regiões sem chuvas há 60 dias, o animal perde capacidade de engorda”, concorda o consultor da Hencorp Commcor, Élio Michelloni Júnior.
Na verdade, a estiagem antecipada pegou o pecuarista de surpresa. Normalmente o clima se torna mais seco a partir de maio, e abril costuma registrar chuvas de forma distribuída, lembram Michelloni e Galiano.
Mas o clima não é o único vilão. A volta da Argentina ao mercado europeu fez os frigoríficos brasileiros colocarem o pé no freio porque perderam competitividade diante do país vizinho após a desvalorização do peso. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), os frigoríficos chegaram a reduzir o abate em 30% no começo do mês. Hoje, ainda estão produzindo 20% a menos, afirma o presidente da Abiec, Edivar Vilela.
De acordo com Galiano, com a volta da Argentina, os importadores europeus pressionam para derrubar os preços da carne brasileira. O efeito desse movimento deve ser sentido nas exportações de abril, acredita Edivar Vilela. Em março, as exportações brasileiras de carne bovina cresceram 25% em volume, para 73,7 mil toneladas (equivalente-carcaça) e 24% em receita, para US$ 92,5 milhões sobre igual mês de 2001, segundo dados da Secex compilados pela FNP Consultoria. “Os volumes e a receita devem cair em relação a março e também a abril do ano passado”, prevê o presidente da Abiec.
Além da Argentina, a valorização do real em relação ao dólar também tirou a competitividade da carne brasileira na exportação, segundo Vilela. Hoje, a arroba do boi em São Paulo equivale a US$ 17,50. Na Argentina, está entre US$ 10 e US$ 12.
O mercado interno de carne também não está ajudando porque o consumo de carne é fraco, segundo os analistas. Para Sérgio De Zen, do Cepea, uma reorganização do mercado explicaria a pressão. Segundo ele, a instalação de novos frigoríficos no Norte do País aumentou a oferta de carne da região para o Sudeste, aumentando a competição.
Para os analistas, o clima seguirá ditando o comportamento do mercado no segundo semestre. Se a estiagem continuar, explica José Vicente Ferraz, os pastos não vão se recuperar antes da chegada do inverno. Assim, a criador pode ser obrigado a continuar ofertando animais no curto prazo. Contudo, isso pode significar menor oferta de bois na entressafra.
Fonte: Valor On Line (por Alda do Amaral Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint