Análise Semanal – 01/10/03
1 de outubro de 2003
Rastreabilidade: quando o Brasil vai ter?
3 de outubro de 2003

Estimativas de preços revelam tendência de alta

Analistas indicam preços bons para pecuária e agricultura, e grande elevação no valor das terras

A necessidade de tecnificar a produção tem colocado os pecuaristas diante de uma questão que afeta diretamente a decisão quanto a investir ou não: o preço.

Na opinião de Geide A. Figueiredo Jr., da FNP, a rentabilidade é um fator que salta aos olhos nessa ocupação de área pela agricultura. “O pessoal está sentindo no bolso que é melhor produzir grãos do que continuar na pecuária, inclusive por causa do preço das terras”, constatou. De acordo com sua análise, os preços, tanto para grãos quanto para pecuária, tendem a manter-se bons.

Por outro lado, o valor das áreas agricultáveis tem subido, como informou José Antonio Puschi, analista de terras da FNP, devido, principalmente, a uma transferência de aproximadamente 4 milhões de hectares por ano da pastagem para a agricultura, em especial nos estados pecuários.

Com base em pesquisa que contemplou a variação do preço da terra durante 20 meses, publicada no Anualpec 2003 e no Agrianual 2004, Puschi revelou elevações de mais de 80%, como aconteceu na Região Centro-Oeste – 82,1% -, seguida pela Norte – 55,9% -. Na Região Sul, o aumento chegou a 40,5%; na Sudeste, a 43,8%. O menor índice ficou para estados nordestinos – 34,3% -, com valorização concentrada em Bahia, Maranhão e Piauí. “O sertão não tem valorizado”, afirmou, revelando que, no total, o valor da terra no Brasil cresceu 50,91% nesse período. Os estados que mais se destacaram foram Mato Grosso do Sul – 88,7% -, Mato Grosso – 87,9% -, Goiás – 65,97% -, Pará – 57,89% – e Tocantins – 71,1%.

De acordo com Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, o mercado de boi gordo, nos últimos seis anos, não tem crescido tanto, mas a tendência é os preços continuarem firmes. “Para o produtor investir, tem de sentir que terá reposta financeira. Conforme investe, mais cobra o retorno. Se oferece carne com melhor qualidade, participa de um mercado melhor, diante da remuneração por qualidade da carcaça, assim como acontece com o couro”, acenou, afirmando que o mercado tem acompanhado a evolução da inflação nos últimos seis anos, devido ao aumento das exportações. Dependendo da evolução do câmbio, calculou preços médios entre US$ 22 e 24 a arroba.

Na opinião de Alcides Torres, também da Scot, a diminuição do rebanho terminada na entressafra deverá pressionar os preços para cima – entre R$ 60 e R$ 63 a arroba em outubro ou novembro -. “Pode até passar disso”, animou, afirmando que os produtores que tomaram a decisão de virar lavouristas tiveram dois prejuízos em decorrência da seca: com a agricultura e com o gado.

Torres vê no programa Fome Zero uma pressão adicional, caso tenha sucesso, pois afetará a demanda e manterá o preço fixo. Ele também acenou com a possibilidade de, no ano que vem, a China continental comprar carne de segunda e miúdos, o que poderá exercer nova pressão, além de esse país, junto com os Estados Unidos, importar carne in natura, gerando expectativas positivas para os próximos dez anos. “Foram sete anos seguidos de aumento de exportação. Não fosse, provavelmente, o preço teria caído”, justificou.

“A estimativa é que, na próxima entressafra do boi, a rentabilidade se aproxime um pouco à da agricultura, devido a possíveis altas no preço da arroba. Caso contrário, a área de agricultura continuará crescendo sobre a de pastagens”, projetou Davis Faria da Silva, analista de milho e granjas da FNP.

Os fatores que levariam a esse crescimento maior da área de soja, segundo Puschi, estão ligados à demanda mercado internacional, principalmente de países asiáticos como China, Coréia do Sul e Índia, para utilização em produção de carne de frango e suínos, e, no médio e no longo prazo, ao emprego de biocombustível, já legalizado em alguns países frente à necessidade de diminuição da queima de combustível fóssil.

Como lançou Hugo Droppa Flumian, da Agroconsult, “esse processo de sojificação tende a continuar”.

Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint

Os comentários estão encerrados.