Após quase uma década dependendo de aditivos alimentares para ganhos de peso, alguns dos 75.000 confinadores de gado dos Estados Unidos em locais como Texas e Grandes Planícies, repentinamente precisarão parar de usar um dos principais produtos, o Zilmax – apelidado de “Vitamina Z”.
Após quase uma década dependendo de aditivos alimentares para ganho de peso, alguns dos 75.000 confinadores de gado dos Estados Unidos em locais como Texas e Grandes Planícies, repentinamente precisarão parar de usar um dos principais produtos, o Zilmax – apelidado de “Vitamina Z”.
A Merck & Co anunciou na sexta-feira que suspenderia as vendas de Zilmax nos Estados Unidos e no Canadá, o que surpreendeu muitos pecuaristas e operadores de confinamentos, que disseram que o Zilmax e outros beta-agonistas são uma dádiva para a indústria de carne bovina dos Estados Unidos, que está passando por dificuldade e viu o consumo doméstico cair em mais de 8% entre 2002 e 2011.
Os maiores custos dos alimentos animais devido à pior seca que afetou os Estados Unidos desde o Dust Bowl e a forte demanda por milho pelos fabricantes de etanol resultou nos pecuaristas reduzindo seus rebanhos. Isso levou a muito poucos animais sendo engordados e muitos operadores de confinamentos e de frigoríficos lutando para tê-los. Além disso, os varejistas dos Estados Unidos estão relutantes em aumentar os preços com medo da recessão que preocupa os consumidores, que estão dispostos a mudar para proteínas mais baratas, como frango e carne moída.
Porém, com a ajuda do Zilmax e de seu rival, o Optaflexx, da Elanco Animal Health, unidade da Eli Lilly & Co, muitos confinadores disseram que encontraram uma forma de reduzir os problemas econômicos. Ao serem misturados com a ração nas semanas antes do abate, os beta-agonistas podem adicionar até 30 libras (13,6 quilos) de carne própria para venda à carcaça.
O Centro de Informação de Comercialização Pecuária (LMIC) em Denver calculou que os confinamentos, em julho, perderam em média cerca de US$ 82 por cabeça de gado vendida para companhias de carne, o 27o mês consecutivo de perdas. Cálculos da indústria indicam que o uso de beta-agonistas como o Zilmax e o Optaflexx mitigaram essas perdas em aproximadamente US$ 30 ou US$ 40 por cabeça, disse o diretor do centro, Jim Robb.
A Pratt Feeders, de Kansas, vende bovinos a grandes companhias dos Estados Unidos: Tyson, Cargill, JBS USA e NAtional Beef. Mesmo assim, a Pratt fechou um de seus quatro confinamentos no ano passado devido à seca. As coisas poderiam ter sido piores, disse o gerente geral da Pratt Feeders, Jerry Bohn, que usa Zilmax em alguns de seus animais e Optaflexx em outros.
O gerente da Ordway Cattle Feeders em Colorado, Tyler Karney, disse que sua confiança no produto não mudou por causa dos últimos acontecimentos. Segundo ele a decisão da Merck de parar de vender o Zilmax não mudou sua opinião sobre o produto, ou sobre a Merck.
Nos dias que se seguiram, a Merck disse que suas próprias pesquisas mostraram que o Zilmax não era o culpado pelo que estava acontecendo nas plantas da Tyson. Operadores de confinamentos disseram que não viram os problemas que provocaram a preocupação entre os frigoríficos.
Na sexta-feira, a Merck disse que precisava de tempo para implementar o que chamou de “auditoria” sobre como o Zilmax está sendo usado no campo. A companhia disse que a suspensão era temporária e não ofereceu explicações sobre porque estava a impondo somente nos Estados Unidos e no Canadá, mercados com vendas de US$ 159 milhões.
A decisão da Merck gerou “muitas conversas e muita confusão”, disse o dono da Winter Feed Yard, de Kansas, Ken Winter.
Apesar de relatos dispersos de alguns animais com dificuldade por especialistas em bem-estar animal, a Merck disse que não estava ciente de nenhum problema além daqueles observados, considerando que o Zilmax obteve a aprovação da Administração para Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) em 2006.
O produto representa uma pequena fração das US$ 47,3 bilhões em vendas globais da Merck. As vendas de Zilmax nos Estados Unidos e no Canadá representam menos de 5% dos US$ 3,4 bilhões alcançados pela divisão de saúde animal da Merck no ano passado.
Embora mercados como China e União Europeia (UE) tenham banido as importações de carne de animais que receberam beta-agonistas, nos Estados Unidos, mais de 70% dos gados de corte que vão para o abate passam por um regime de beta-agonistas, de acordo com estimativas da indústria.
O FDA considerou os beta-agonistas seguros para animais de produção e para a saúde humana e não houve sugestões de reguladores ou da indústria de que a segurança alimentar estava em questão. Porém, a indústria de carne bovina aprendeu da maneira mais difícil que as preocupações sobre como nosso alimento é produzido podem se espalhar rapidamente
Insultos surgiram rapidamente no Twitter e outras mídias sociais no ano passado após os consumidores descobrirem que tudo, desde lanches escolares até os hambúrgueres de redes de fast doos, usam a chamada “carne magra de textura fina”, um produto com baixo teor de gordura feito a partir de restos de carne e expostos a pequenas quantidades de hidróxido de amônio para matar E.coli e outros contaminantes. A tempestade resultando disso na mídia, que chamou o produto de “lodo rosa”, quase destruiu o fabricante do mesmo, mesmo com os reguladores de segurança alimentar dos Estados Unidos dizendo que o produto era seguro.
As preocupações com outra reação negativa contra a carne bovina pode ajudar a explicar porque as companhias de carne falaram publicamente sobre suas preocupações sobre os beta-agonistas, disseram especialistas do setor e grupos de defesa do consumidor.
John Nalivka, especialista do setor pecuário e presidente da Sterling Marketing Inc, disse que se os ativistas soubessem do assunto antes da indústria, poderia ocorrer outro caso de “lodo rosa” .
Ao mesmo tempo, os criadores de gado foram deixados navegando nessa nova paisagem sem muita direção pelas companhias que decidem o destino do Zilmax e de outros beta-agonistas.
Anne Burkholder, pecuarista de Nebraska, espera uma mudança para o Optaflexx. Ela nunca teve problemas com o Zilmax e acha que é um bom produto que voltará ao mercado.
O Zilmax estreou nos Estados Unidos em 2007. Os usuários dizem que é mais caro que o Optaflexx, mas produz mais músculos. Eles dizem que os animais precisam parar de usar Zilmax pelo menos três dias antes do abate, o que reduz o tempo que eles têm para encontrar uma boa data de venda.
A Merck e a Elanco disseram que ajudam os criadores de gado a aprender como usar seus produtos de acordo com as determinações do FDA. Existem alguns obstáculos para a mudança entre as marcas, disseram especialistas.
Bohn, da Pratt Feeders, disse que o Zilmax custa aproximadamente US$ 20 por cabeça, enquanto o Optaflexx custa US$ 8 a US$ 10. Ele descobriu que o Zilmax adiciona cerca de US$ 15 a US$ 30 em receita por animal, versus US$ 10 a US$ 12 do Optaflexx, porque o Zilmax coloca mais carne na carcaça.
Winter, que vende quase todo o seu rebanho para a Cargill, disse que os confinadores ainda podem ganhar se o Zilmax continuar fora do mercado. Menos Zilmax pode significar animais levemente mais magros e um pouco menos carne bovina no mercado, o que poderá impulsionar a demanda. Se o produto se mantiver fora do mercado, poderá ser positivo para os preços em longo prazo.
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Merck Animal Health suspende temporariamente vendas de Zilmax nos EUA e Canadá
Fonte: Reuters, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.