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EUA é o principal mercado para as carnes uruguaias

A recente missão comercial mista – funcionários públicos e privados – do Uruguai aos Estados Unidos realizada neste mês em Miami, uniu operadores e técnicos de ambos os países em uma intensa agenda de negócios. A delegação uruguaia esteve integrada por cerca de 35 membros, representantes do governo, técnicos e diretores do Instituto Nacional de Carnes (INAC), agentes de frigoríficos, técnicos de organizações de produtores e dirigentes de instituições do setor. Dos EUA, os participantes foram importadores.

Segundo vários participantes da missão, os contatos foram muito úteis e abriram expectativas de aumentar os negócios a este destino. A maior parte da importação dos EUA está concentrada em poucas empresas: quatro delas absorvem 60% da carne, apesar de existir muitos operadores circunstanciais, que participam esporadicamente, realizando algum negócio, que estão agora conhecendo a mercadoria e o país.

A carne uruguaia é um produto de baixa qualidade para os critérios dos consumidores norte-americanos. É relativamente dura (comparada com a deles), tem problemas de cor (da carne e da gordura) e, sobre tudo, é desuniforme. Segundo um especialista no mercado norte-americano, apesar de os preços serem mais altos, os consumidores dos EUA não sacrificam a maciez da carne devido ao preço, preferindo pagar mais por um produto de seu gosto, do que economizar uns centavos e comer o que não apreciam.

A carne uruguaia destinada ao consumo direto nos EUA provém de carcaças que têm uma classificação “Choice”, a qual não é alcançada normalmente pela produção local, exceto, talvez, a proveniente dos confinamentos, que representam uma porcentagem muito pequena da produção total. Por isso, a carne uruguaia vai preponderantemente para a indústria, não necessariamente para ser moída (cerca da metade do consumo de carne nos EUA é na forma de hambúrgueres), mas também, para as modalidades de comidas preparadas, nas diversas formas, que estão crescendo vertiginosamente no mercado.

Os especialistas se mostram muito esperançosos de que a carne uruguaia possa entrar em algum circuito que enfatize os aspectos “ecológicos” ou “naturais”; sua produção sem hormônios nem antibióticos, com alimentação à base de pastagem, e demais características que definem este perfil. Neste sentido, durante a missão foram apresentados trabalhos elaborados pelo INAC, que foram bem recebidos pelos participantes das reuniões. No entanto, as empresas que manejam este tipo de produtos nos EUA são grandes organizações que têm padrões muito rigorosos, protocolos que impõem a seus fornecedores, submetidos a severos controles, sem admitir nenhuma falha. Um simples erro poderia afetar marcas muito valiosas no país e isso não é admissível pelos compradores. Desta forma, os frigoríficos uruguaios que estão envolvidos em projetos de carne “orgânica” ou “ecológica” – Tacuarembó e PUL – realizam gestões para obter o reconhecimento de sua produção certificada, o que implica uma série de passos burocrático-sanitários muito complexos.

Nos EUA, o produtor recebe 5% de sobre-preço se está integrado a uma cadeia de produção de carne orgânica (o que é uma diferença considerável), mas o consumidor paga cerca de 50% a mais pelos produtos certificados.

A evolução dos preços da tonelada de carne in natura exportada aos EUA desde que este mercado se reabriu ao Uruguai, em junho, mostra que, ao longo deste breve período, o aumento foi constante: a média de preços em setembro é 25% maior do que a de junho. O aumento não se deve às diferenças de mercadoria, mas sim, a melhoras nos preços obtidos pelos mesmos produtos. À medida que a porcentagem de vendas dentro da cota aumente nas próximas semanas, os preços refletirão os altos níveis alcançados (o pagamento da taxa simplesmente se expressa como um preço 26,4% menor ao mesmo produto vendido dentro da cota).

O Uruguai tem 20 mil toneladas de cota determinada, que pode entrar nos EUA sem pagar a taxa de 26,4%. São volumes denominados em peso produto – carne in natura, não processada nem cozida, sem osso (devido às restrições sanitárias), resfriada ou congelada -, que correspondem a cerca de 32 mil toneladas de carne com osso ou peso carcaça.

Nestes quatro meses o país já vendeu mais de 22 mil toneladas (quase 36 mil toneladas de equivalente carcaça) aos EUA, mas sendo que 44% deste volume foram vendidos fora da cota; ou seja, pagando os impostos de correspondentes. Ainda assim, os preços dos EUA superam os dos destinos alternativos.

Até o momento, a carne uruguaia já significou cerca de US$ 6 milhões ao tesouro dos EUA, devido às tarifas. O Uruguai pretende tentar aumentar a cota de carnes exportadas sem tarifas. A cota deste ano deverá ser cumprida antes do final do ano, sendo que os últimos embarques deverão ocorrer o mais tardar na primeira semana de dezembro; ou seja, faltam somente dois meses para se completar. Atualmente já foram exportadas 12 mil toneladas, das 20 mil toneladas totais adjudicadas.

Nos EUA, o preço da carne está em um nível excepcionalmente alto, tanto os preços pagos pelo consumidor, como os recebidos pelo produtor. O novilho está com um preço de cerca de US$ o quilo do animal em pé. As perspectivas são de que esta firmeza nos valores continue, pelo menos por mais dois anos, segundo projeções feitas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Desta forma, este cenário favorável não deverá ser passageiro, de forma que o Uruguai pretende aproveitar este fato.

O Canadá sofre a exclusão dos principais mercados devido à sua única “vaca louca” e, retomou depois de muito esforço alguns negócios de carne para os EUA, muito longe das volumosas correntes comerciais que vinculam ambos os países. O desaparecimento da oferta canadense explica em parte o atual aumento dos preços da carne nos EUA.

A Argentina, após o último surgimento de febre aftosa, deverá esperar dois anos e meio para exportar aos EUA, caso não tenha outros contratempos no caminho.

A Austrália, que é o grande fornecedor de produtos que competem com os uruguaios, sofre uma grave redução de seu estoque pecuário devido ao efeito de uma severa seca que afetou zonas produtivas de seu território. A recomposição do estoque não ocorrerá rapidamente.

O Brasil será, certamente, o primeiro a ingressar no mercado dos EUA, com alguma cota, a partir do próximo ano.

Fonte: El País, adptado por Equipe BeefPoint

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