Evaristo de Miranda diz que agricultura não é vilã

Doutor em ecologia pela Universidade de Montpellier, na França, e pesquisador há três décadas da estatal Embrapa, Evaristo de Miranda propõe a aposta na tecnologia. É a inovação que pode permitir ao Brasil um futuro sustentável, que combine preservação ambiental e exploração racional das fontes naturais. "A produção de alimentos está aumentando há trinta anos principalmente devido ao aumento da tecnologia, e não à expansão de novas áreas de plantio", diz Miranda. Ele defende o agronegócio, comenta o projeto do novo Código Florestal, que deverá mexer na produção vinda do campo, critica os números que colocam o Brasil entre os maiores poluidores do planeta e surpreende: para ele, o maior desafio brasileiro no campo ambiental é ampliar e melhorar o saneamento básico nas áreas urbanas e rurais.

Doutor em ecologia pela Universidade de Montpellier, na França, e pesquisador há três décadas da estatal Embrapa, Evaristo de Miranda, qualifica as queimadas na Amazônia e cerrado de “prática do Neolítico”. Quer dizer com isso, claro, que essas são técnicas primitivas para um país que quer e precisa se modernizar. Por isso, o especialista propõe a aposta na tecnologia. É a inovação que pode permitir ao Brasil um futuro sustentável, que combine preservação ambiental e exploração racional das fontes naturais.

A boa notícia é que parte disso já é realidade. “A produção de alimentos está aumentando há trinta anos principalmente devido ao aumento da tecnologia, e não à expansão de novas áreas de plantio”, diz Miranda. Em entrevista à revista Veja, ele defende o agronegócio, comenta o projeto do novo Código Florestal, que deverá mexer na produção vinda do campo, critica os números que colocam o Brasil entre os maiores poluidores do planeta e surpreende: para ele, o maior desafio brasileiro no campo ambiental é ampliar e melhorar o saneamento básico nas áreas urbanas e rurais.

“A falta de coleta e tratamento de esgoto. Segundo dados do IBGE, quase 100 milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto, que contamina os solos, corre a céu aberto e é fonte de graves doenças, responsáveis por 30% de nossa mortalidade. Do esgoto coletado, o Brasil trata apenas 10%. O resto vai direto para os rios”.

Para Miranda, a prioridade deveria ser o saneamento básico, ampliando e melhorando a coleta e o tratamento do lixo e do esgoto, sobretudo na Amazônia e no Nordeste. “Isso levaria a uma recuperação extraordinária dos rios e do litoral, de seus peixes, da flora e da fauna. Ainda garantiria a redução da mortalidade infantil e a melhoria da saúde para mais de 100 milhões de pessoas. Quantas ONGs internacionais interessadas no meio ambiente militam por essa causa ou financiam projetos de saneamento no Brasil?”.

Quando questionado sobre o problema das emissões brasileiras, o pesquisador afirmou que para comparar emissões totais, seria necessário incluir os dados de desmatamentos e queimadas dos outros países, e não só do Brasil. “Se não for assim, é uma comparação desonesta. Será que os russos vão incluir no cálculo de suas emissões os atuais incêndios florestais, por exemplo? E os Estados Unidos incluem os desmatamentos do estado de Washington e as emissões resultantes da queima das florestas da Califórnia? Entre 2000 e 2005, o desmatamento total do Brasil foi de 165.000 km2, o do Canadá de 160.000 km2 e o dos Estados Unidos de 120.000 km2. Esses dados foram publicados pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos”.

“Grande parte das queimadas brasileiras não contribui para o acúmulo de CO2 na atmosfera. Em termos de CO2 de origem fóssil, pelos dados de 2008 da EIA (Energy Information Administration, órgão americano que coleta e analisa dados sobre energia), o Brasil ocupava a 17ª posição – após China, Estados Unidos, Rússia, Índia, Japão e outros. Se levar em conta o consumo per capita, caímos ainda mais, para a 123ª posição. Quando o capim ou a cana-de-açúcar voltam a crescer, eles retiram da atmosfera a mesma quantidade de carbono emitida na queima. De qualquer forma, nada justifica essa prática do Neolítico, a ser banida da agricultura. Há vinte anos eu pesquiso e monitoro as queimadas por satélite. O uso agrícola do fogo deve ser substituído por tecnologia moderna”, completa Miranda.

Segundo ele, o Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 47% de energia renovável, em que 29,5% vêm da agricultura. A cana-de-açúcar gera hoje mais energia – graças ao etanol e à produção de energia elétrica nas usinas com o bagaço – que todas as hidrelétricas juntas. “A produção de alimentos está aumentando há trinta anos principalmente devido ao aumento da tecnologia e não à expansão de novas áreas de plantio”. Na sua opinião, as cidades, sobretudo as grandes, são as maiores vilãs do meio ambiente, por sua demanda de recursos, pelo consumismo, pelo desperdício e por todos os impactos qualitativos e quantitativos que geram.

Falando sobre o novo Código Florestal, Miranda acredita que “ele procura compatibilizar a proteção dos biomas com a legítima e necessária exploração do território nacional, em benefício do povo brasileiro. Ele incorpora novos conhecimentos científicos e reconhece as particularidades de nossos biomas e das diversas agriculturas existentes no Brasil. Ele respeita as áreas agrícolas consolidadas em conformidade com a legislação de seu tempo”.

Para que consigamos promover um desenvolvimento sustentável é preciso inovação. “Inovando na forma de produzir, na gestão da energia e dos resíduos, no uso de tecnologias modernas, nas parcerias, no consumo consciente e buscando sempre soluções de longo prazo. A pesquisa científica tem um papel fundamental no desenvolvimento da inovação para os processos produtivos, tanto na agricultura como na indústria. Infelizmente, ainda existe muita gente especializada em planejar o que não executa para depois avaliar o que não fez. Eles só atrapalham na busca dessa sustentabilidade”.

As informações são da revista Veja, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

0 Comments

  1. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    É sempre reconfortante para o ser humano ver que outros pensam parecido com ele. Foi como me senti com esta matéria.

    Só um cego não vê que a grande pressão sobre o meio ambiente é industrial e urbana.

    Queima de combustível fossil poluindo o ar do planeta, esgotos sendo despejados em nossos mares e rios sem tratamento, afetando a saude humana e animal, o licxo urbano, resíduos quimicos e nucleares, consumismo, crescimento populacional, etc deveriam ser as principais preocupações e não o campo.

    Além disto é preciso entender melhor a posição da agropecuária brasileira no cenário mundial. Certamente somos um dos paises com maior percentual de vegetação original preservada e não é justo sermos transformados nos vilões do planeta. Simplesmente a ocupação do nosso território, especialmente Centro-Oeste e Norte, ocorreu tardiamente em relação a outras nações.

    Mesmo assim temos, especialmente nos últimos anos, multiplicado a produção de alimentos e energia no país com aumentos de produtividade, basicamente sem expansão de área. Sejam o pulo que demos nos últimos dez anos.

    E, se entre 2000 e 2005 a área desmatata no Brasil foi similar a área desmatada de grandes paises como USA e Canada, certamente surpreendendo muita gente, acredito que entre 2005 e 2010 a área desmatada no Brasil tenha sido inferior a área desmatada por estes paises, afinal reduzimos drasticamente os desmates desde a conscientização dos impactos ambientais e do crescimento da pressão preservacionista.

    Agrobrasil, sinônimo de produção sustentável.

    Att,

  2. Iria Maria Davanse Pieroni disse:

    Ufa! Até que enfim encontrei alguém que comunda de idéia parecidas com a minha!!!

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