As exportações brasileiras de carne bovina cresceram 30%, em dólares no primeiro semestre deste ano ante o mesmo período do ano passado. A expansão nas vendas externas também foi observada na quantidade de mercadoria exportada, que teve alta de 31,63% nos primeiros seis meses deste ano. Hoje, o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo.
“A primeira fase foi a abertura de mercados mesmo com sacrifício de preços. Essa etapa já foi superada”, diz Marcus Vinícius Pratini de Moraes, presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) e ex-ministro da Agricultura. Agora, afirma Pratini, a nova etapa é a negociação de preços melhores no mercado internacional.
Nos primeiros seis meses de 2005, o principal destino das exportações brasileiras de carne “in natura” foi a Rússia, seguida pelo Egito. Mas, em termos de taxa de crescimento, foi a Bulgária que teve o maior percentual de aumento. Em toneladas, o volume importado de carne “in natura” pelos búlgaros subiu 531,46%.
As exportações para alguns países do mundo árabe declinaram nos primeiros seis meses deste ano diante de 2004. Para a Arábia Saudita, por exemplo, houve uma retração de 38,89% em quantidade vendida.
No segmento de carne industrializada, os EUA ocupam a liderança da importação com 60.648 toneladas. As compras americanas, porém, caíram 6,06%.
Marketing
“Apesar das dificuldades do câmbio, nos mercados onde o Brasil entrou não saiu mais”, afirma Pratini. As ações de marketing da carne brasileira no exterior, especialmente por meio da promoção de churrascos de degustação, tem sido a estratégia da associação para tentar amealhar novos compradores.
Para 2005, está previsto o desembolso de R$ 6 milhões -numa parceria da Abiec com a Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil)- para promover a carne brasileira em eventos internacionais. Um dos principais eventos promocionais deste ano é um churrasco regado a caipirinha para 8.000 convidados na residência oficial do presidente da França, Jacques Chirac, no feriado francês do 14 de Julho.
Neste ano, a Abiec já organizou um churrasco no Egito e, em julho, haverá dois workshops sobre carne brasileira na Bulgária.
Mercado blindado
Entretanto, há uma fatia significativa de compradores internacionais que não figura do rol de importadores de carne “in natura” do Brasil. De acordo com a Abiec, 60% das importações mundiais de carne mundial estão nas mãos de Coréia, Japão, EUA, Canadá, Taiwan e México, que têm barreiras sanitárias contra o produto brasileiro.
A blindagem tem inibido o aumento da renda da exportação do setor. “Os mercados que não atingimos têm preços até 300% mais altos do que aqueles que nos recebem”, disse Pratini. Segundo Antonio Jorge Camardelli, também da Abiec, outro problema é que as vendas dos cortes mais valorizados estão muito concentradas no mercado europeu.
Quanto à China, a entrada da carne brasileira nesse mercado ainda depende de regulamentações dos agentes sanitários daquele país. A Abiec informou que está prevista uma missão chinesa ao Brasil para dar um aval de exportação definitivo a uma lista de frigoríficos brasileiros.
Uma esperança de abertura dos mercados ainda refratários à carne brasileira está nas negociações multilaterais da Rodada Doha, da OMC (Organização Mundial de Comércio). Amanhã começa em Dalian, China, o encontro miniministerial da organização para preparar a grande reunião dos países-membros da OMC que acontece em Hong Kong, em dezembro.
O setor de carnes, porém, está cético quanto à obtenção de resultados favoráveis para o Brasil e para os demais países exportadores de produtos agrícolas do mundo em desenvolvimento. “Sei das dificuldades de uma negociação dessa natureza. Mas, como está, a OMC é apenas um cartório do colonialismo”, disse Pratini. “Se Hong Kong não trouxer resultados, é melhor partir para negociações bilaterais”, completou.
Fonte: Folha de S.Paulo/AgroFolha (por Cíntia Cardoso), adaptado por Equipe BeefPoint