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Exportação de gado em pé: causa ou sintoma?

A exportação de gado em pé é uma importante discussão do setor atualmente. O volume de animais exportados cresce ano a ano, chegando a 431,8 mil animais em 2007, e já contando com 181,3 mil animais no acumulado de janeiro a junho desse ano. Frigoríficos, em especial os de mercado interno e dos dois estados que mais exportam, reclamam. O setor coureiro, nessa semana, engrossou o coro. A exportação de gado em pé, mais do que uma causa para a baixa rentabilidade dos frigoríficos, é um sintoma de que muito precisa ser aperfeiçoado na cadeia da carne, para garantir maior rentabilidade. Artigo de Miguel Cavalcanti, sócio-diretor do BeefPoint.

A exportação de gado em pé é uma importante discussão do setor atualmente. O volume de animais exportados cresce ano a ano, chegando a 431,8 mil animais em 2007, e já contando com 181,3 mil animais no acumulado de janeiro a junho desse ano. Frigoríficos, em especial os de mercado interno e dos dois estados que mais exportam, reclamam. O setor coureiro, nessa semana, engrossou o coro.

Tabela. Exportação de gado em pé


É preciso colocar esses números em perspectiva. O abate de bovinos no Brasil é de cerca de 40 milhões de cabeças por ano, o que indica um percentual de pouco mais de 1% para o gado exportado em pé (e não abatido aqui no Brasil). A exportação de gado em pé, representa o abate de apenas dois frigoríficos com capacidade de 1.000 cabeças/dia. Estima-se que o abate clandestino seja acima de 30%, o que representa um problema muito maior.

Outro ponto a se analisar são os motivos para que esse negócio exista. O USDA informa que em 2007 foram exportadas, no mundo, 4,39 milhões de cabeças, sendo 2,57 milhões do Canadá e México para os EUA, com transporte terrestre por distâncias mais curtas. O terceiro país é a Austrália, que exportou cerca de 800 mil animais. A Austrália tem um segmento da sua cadeia se dedicando a esse negócio, explorando regiões pouco propícias a produção de animais (e carne) aos principais mercados que o país atende (EUA, Japão, Coréia do Sul). Outro importante exportador é UE, que deve enviar animais a países relativamente próximos.

Transportar um animal vivo, por longas distâncias e muitos dias, para ser abatido no destino final, é muito caro. É preciso ter justificativas que expliquem o que a economia não explica. As principais razões são: 1- motivos religiosos/culturais, transformando o abate em uma cerimônia, 2- ausência de cadeia do frio no país comprador, obrigando levar o animal vivo até muito próximo do local de consumo, para abate, processamento e distribuição imediata, sem resfriamento e 3- formação/recomposição do rebanho no país comprador. O mercado que o Brasil atende não deve crescer muito. Os preços do gado no Brasil estão similares aos da Austrália. E pela questão geográfica, onde é próximo (e barato) do Brasil, é caro (e longe) da Austrália.

A principal crítica a exportação de gado em pé é que o Brasil não agrega valor. A agregação de valor é definida como a disposição do comprador para pagar acima do custo de produção. Ou seja, muda-se de forma que o aumento de custo seja menor que o aumento de preço. A atual situação da exportação de gado em pé, em especial no Pará, mostra que os frigoríficos locais não estão conseguindo agregar mais valor ao produto boi do que os exportadores de gado em pé. Os motivos são vários: status sanitário e impossibilidade de exportar, alta tributação da carne no mercado interno e menor eficiência da indústria.

Até pouco tempo, a pressão por eficiência e competição por gado no Pará eram mais baixos que muitos outros estados, o que era refletido em preços mais baixos do boi gordo. O mesmo aconteceu no RS, onde os preços também já foram os mais baixos do Brasil. Vale lembrar que o boi barato acabou, é preciso ancorar a cada empresa em outras estratégias.

A exportação de gado em pé aconteceu e acontece onde os preços do boi gordo estão baixos. Abrindo-se a exportação, as opções de venda do pecuarista aumentam, a demanda cresce e os preços sobem. Citando as cinco forças de Porter, usada na análise da competição, o poder de barganha do fornecedor do frigorífico aumenta, pois surge um novo comprador: o navio.


Figura 1. Ilustração das cinco forças de Porter. Fonte: Wikipedia

Recentemente, um frigorífico justificou a suspensão dos abates em uma das suas unidades, “Seguindo a estratégia de privilegiar as margens em detrimento ao volume de produção”. O fechamento de uma unidade de abate, mesmo que temporário, é prejudicial aos produtores da região, pois a demanda (e concorrência) pelo seu produto fica menor, reduzindo preços ou impedindo novas altas. No entanto, a empresa precisa primeiramente avaliar a margem de cada uma de suas unidades. Uma planta parada pode representar prejuízo, mas uma planta operando no vermelho é muito pior.

Cada empresa e segmento da cadeia produtiva, tende a agir de forma a maximizar o retorno do seu negócio, no curto e no longo prazo. Propor sobre-taxas a exportação, ou criar mecanismos que impedem a exportação (questão ambiental e social no porto) pode resolver no curto prazo, mas vai gerar um desestímulo a produção. Mais do que soluções artificiais, que buscam a volta ao passado do “boi barato”, essa questão poderia servir para ampliar a discussão de como a cadeia da carne pode se preparar para ser mais competitiva, em todos os segmentos, sem grandes altos e baixos, e constante gangorra entre perde-ganha e ganha-perde.

A exportação de gado em pé, mais do que uma causa para a baixa rentabilidade dos frigoríficos, é um sintoma de que muito precisa ser aperfeiçoado na cadeia da carne, para garantir maior rentabilidade. Basta avaliar os volumes exportados pelo RS. Com preços altos, a exportação deixa praticamente de existir. A maneira mais rápida de se reduzir a exportação de gado em pé, é pagar mais pelo boi a ser abatido no Brasil. Por isso, Antenor Nogueira, da CNA, afirmou ontem ao jornal Folha de SP, “Gostaria muito que Goiás tivesse mar”.

0 Comments

  1. Estêvão Domingos de Oliveira disse:

    Parabéns pelo artigo!

    Esperamos que algum representante do setor frigorífico e do couro tenha acesso a esse material.

  2. Geraldo Perri Morais disse:

    Parabens, é muito comodo para os frigorificos terem mercado cativo.

    Geraldo Perri Morais–Presidente ABRAPEC

  3. Julio M. Tatsch disse:

    Caro Miguel Cavalcanti,

    Cumprimento sua análise pela correção do diagnóstico e síntese. Concordo em gênero, número e grau com a sua exposição.

    Acrescento que no RS, ocorreu exatamente o reportado. A indústria massacrou o pecuarista, propondo preços abaixo do custo de produção, o que obrigou o pecuarista a abater fêmeas aptas a produção, pois a produção de machos e fêmeas descarte não eram suficientes para quitar suas contas.

    Os frigoríficos tinham pleno conhecimento do cenário, pois recebem diarimente o resumo dos seus abates, onde consta o número e percentual de fêmeas abatidas.

    Lembro que no RS chegamos ao índice absurdo de 70% do abate serem de fêmeas, sabendo que para mantermos o rebanho estabilizado não devemos ultrapassar os 40%! E a história dos ciclos pecuários se repetiu, apesar de conhecida e monitorada pelos frigoríficos. A ganância e visão de curto prazo dos frigorícifos falou mais alto. E no final novamente os pecuaristas e agora os consumidores pagam a conta.

    Este quadro de preços baixos somente começou a mudar quando iniciaram as exportações de gado em pé (com peso vivo aproximado entre 150 a 300Kg). Pois os frigoríficos se viram obrigados a elevar os preços do gordo, já que alguns de nossos colegas invernadores (terminadores de bovinos), não conseguiam mais utilizar do caminho confortável de pressionar ao extremo os preços pagos aos pecuaristas criadores (fornecedores de gado magro), como forma de manterem sua viabilidade econômica.

    Neste cenário anterior houve uma desestruturação particulamente do setor da cria de bovinos. O resultado disto é que até hoje a reposição trabalha com preços superiores no quilo ao dos bovinos gordos. Não existe festa de graça.

    Fica ainda uma pegunta, como importadores árabes de bovinos vivos (que sabem fazer conta), conseguem pagar preços superiores aos praticados no mercado local, sendo que a carne resultante desta exportação vai competir em seus mercados de destino, com as carnes bovinas exportadas por nossos frigoríficos. Sem os custos de transporte de mateiral descartado (resíduos estomacais, …), além dos benefícios e créditos fiscais dos frigoríficos exportadores.

    Resposta, o grande problema é que os frigoríficos se acostumaram com margens absurtas (vide seu crescimento) e não querem abdicar de nada.

    O maior benefício das exportações de gado em pé, é ser um “promotor do equílibrio” das margens de lucro praticadas pelos diferentes elos da cadeia produtiva, favorecenbdo particulamente os elos mais fracos e desorganizados, no caso os pecuaristas.

    Vamos ver se a velha máxima dos frigoríficos e varejo do “mercado é mercado” continua valendo sem artificialismos e reservas de mercado.

    Um recado aos curtumes, seria mais produtivo trocar de alvo, e pressionarem os frigoríficos, exigindo que estes remunerem de forma adequada os pecuaristas, além de diferenciar via preços pagos a qualidade do couro.

    Julio M. Tatsch
    Agropecuarista no RS e delegado repres. do Sind. Rural de Caçapava do Sul-RS.

  4. Custodio Luis Moreira Magalhaes disse:

    Também lhe parabenizo pelo artigo!

    Muito bem descrito sobre a situação da exportação de gado em pé, mas para tentar ilustrar um pouco mais, aqui no RS, não só reduziu a exportação, mas ao contrário, os frigorificos presentes na região, passaram a importar gado em pé do Uruguay, pois no país vizinho os preços estavam inferiores aos praticados aqui no estado. Portanto esta modalidade de comercialização, não é somente adotada por produtores, a industria também importa animais em pé, quando o preço fica interessante ao seu negócio e exerce com esta oferta uma pressão no mercado interno da região, pois ocupa parte da sua capacidade de abate com gado produzido em outro pais, remunerando assim a cadeia produtiva dos nossos colegas e vizinhos uruguaios e certamente desgostando os frigorificos e curtumes la estabelecidos também.

    Portanto me parece que bloquear o livre comércio não é a melhor forma de equilibrarmos as etapas desta cadeia, mas sim o controle a sonegação e o abate ilegal que provoca uma concorrência desleal a quem está corretamente estabelecido e também abriga o abigeato, isto sim e prejudicial a toda cadeia produtiva.

    Parabéns a toda equipe BeefPoint, pelas informações de qualidade voltadas ao setor agropecuário que sempre encontro aqui no site.

  5. levino dias parmejiani disse:

    Às custas dos pecuristas os frigorificos brasileiros se tornaram as maiores empresas de carne do mundo aproveitando a crise perfeita que se abateu sobre a pecuária por longo tempo.

    Crise esta que proporcionou aos frigorificos estabelcerem um dos mais cruéis cartel já vivido pelos brasileiros.

    Temos que lembrar que cartel nunca foi bom ao pais e nesse caso desestruturou a pecuaria brasileira.

    A exportaçao do gado em pé é uma consequencia desse cartel.

    É a busca do equilibrio da “lei da oferta e procura”.

    O cartel matou a “galinha dos ovos de ouro”.

    Chega de cartel, viva o mercado.

  6. Alexandre Viedo Rodrigues disse:

    Sou natural do Rio Grande do Sul, São Gabriel, e por inúmeras vezes, ouvi e ouço até hoje do meu pai, para quem vender, se cada frigorífico parece que quer pagar menos que o outro.

    É importante infocar o assunto preço do boi pago para exportação, pois, sabe-se que o produtor mais tecnificado, trabalha em cima de produção de carne, que tambêm, acaba agregando valor ao couro e a matéria prima quando o abate é precoce.

    Se nós fossemos pagos por “qualidade” cuidaríamos mais, com certeza, do carrapato, do berne, das cercas de arame farpado, míiases, marcas a fogo, ect. Mas somos produtores, cada um sabe onde o seu sapato aperta e muitas vezes vendemos o que é bom e ficamos com o refugo dentro da porteira, não sabemos valorizar o que temos e disperdiçamos de vender mais por não atuarmos em coletividade, união com outros produtores.

    Precisamos usar mais a calculadora. Somos uma classe esquecida pelo governo, lembrada apenas no saldo da balança comercial, precisávamos virar este jogo. Espero que o futuro nos ensine como era no tempo do velho fio de bigode, nesse eu posso confiar, nesse eu acredito. Senão, seguiremos como velhos pecuaristas donos de chácaras, onde, o que eu tenho não tem valor para o frigorífico.

  7. Arminia D. S. Barbosa disse:

    Parabéns pelo artigo!

    Todavia gostaría de comentar que sinceramente não acredito que pagar mais pelo boi seja a saída para a crise que estamos enfrentando, quando a mesma foi gerada exatamente por conta da alta de preços.

    Temos ouvido de importadores do mundo todo que a carne brasileira já não é mais competitiva devido ao alto preço. Hoje os importadores estão comprando de outros mercados como a Índia, por exemplo, que oferece preços bem mais acessíveis.

    O principal motivo dessa movimentação de procura pelo boi em pé, na opinião dos importadores, é a necessidade de se refazer os rebanhos nos países estrangeiros, uma vez que isso se torna cada vez mais necessário por não ser mais interessante comprar no Brasil nestes níveis.

    Como podem observar, tivemos uma queda acentuada nas exportações de carne bovina brasileira neste mês de julho. Parece que o mundo resolveu boicotar a nossa carne.

    Claro que há de se levar tempo para que refaçam seus rebanhos, então penso que a solução agora sería o governo entrar com subsídios aos pecuarístas, assim poderíamos ter boi mais barato e consequentemente uma carne também mais barata para continuarmos sendo o maior exportador de carne do mundo, pois potencial nós temos de sobra.

  8. ubirajara simini disse:

    Parabéns ao Miguel e ao Julio pelos artigos,

    Gostaria de salientar, que falta ao pecuarista brasileiro conhecer o real tamanho e potencial do mercado de carne a nível nacional e internacional, e que este mercado está na mão de meia duzia de pessoas aqui no Brasil.

    Em outros paises o comércio da carne é feito pelo próprio pecuarista sempre vinculado a alguma cooperativa ou associação, para agregar valor e nós mesmos comercializarmos nossa carne.

  9. Antonio Carlos Gonçalves disse:

    Já dei muitas vezes,minha posição. O que melhorou a nossa pecuária foi a exportação de gado em pé a partir de 2004.

  10. Péricles Pessoa Salazar disse:

    Já faz alguns meses que a ABRAFRIGO vem se indispondo contra as exportações de boi em pé. Este tema é complexo e exige um razoável senso crítico, postura adequada, conhecimento geral da cadeia produtiva, e, principalmente, raciocínio baseado na razão e não na emoção, no interesse geral e não interesse particular.

    Quando a análise é séria e coerente, isenta de comentários inadequados e de paixões descabidas, como é o caso do artigo do Dr. Miguel da Rocha Cavalcanti, sentimo-nos obrigados a participar do debate e contribuir com nosso ponto de vista.

    Isto não significa, todavia, que estejamos de acordo com todos os comentários proferidos pelo Dr. Miguel. Concordamos em parte, não com o todo. Está correta a avaliação de que se exporta um pouco mais de 1% e que este percentual não deveria incomodar a indústria frigorífica nacional. Correta também é a afirmação de que a alta tributação da carne é uma das principais causas do desajuste dos frigoríficos que vendem sua produção no mercado interno. Perfeita, igualmente, é sua avaliação quanto a fase do “boi barato”, que igualmente acreditamos não terá mais vez no Brasil, pelo menos a curto e médio prazos. No longo prazo, a verdade só a Deus pertence.

    Como afirmado, também somos adeptos da tese de que a exportação de boi em pé não é a causa maior da baixa rentabilidade hoje auferida pelos frigoríficos de mercado interno. Muitos outros fatores a explicam, mas cuja análise não faz parte deste nosso comentário.

    O que preocupa a indústria no caso das exportações de boi em pé não é o volume hoje existente, mas sim a trajetória ascendente que temos observado desde o ano de 2004. Isto sim é preocupante. Qual a indústria, seja de que ramo for, não se preocuparia com a evasão de sua principal matéria-prima, e, principalmente, quando esta tendência aponta para números mais elevados?

    A ABRAFRIGO nunca se posicionou contra a exportação de boi em pé em si, até porque reconhece o nicho de mercado descoberto pelos produtores. Temos reclamado da concorrência desleal que este mercado comprador nos oferece. A indústria brasileira de mercado interno é obrigada a suportar o ônus tributário do ICMS, PIS, COFINS e diversas outras contribuições, quando o mesmo não acontece com os importadores que pagam o preço ao pecuarista brasileiro, mas não se preocupam com os encargos tributários nos seus países de origem.

    A agregação de valor que temos defendido não significa o conceito emitido pelo Dr. Miguel, de que seria “a disposição do comprador para pagar acima do custo de produção”. Confundiu-se o conceito de mark-up com valor agregado. Valor agregado é o montante que se soma em cada uma das etapas da cadeia produtiva, quando cada setor, individualmente, agrega salários, capital e recursos naturais ao montante adquirido da etapa precedente. Diversos são os tipos de indústrias que sentem os reflexos das exportações de boi em pé : couro, calçados, farmacêuticas, ração animal, etc. O que estas indústrias agregam se lhes faltar os insumos oriundos do boi? Se pensarmos globalmente, que vantagem leva o país?

    A ABRAFRIGO, ao contrário do que afirmou o Dr. Miguel, não busca a volta ao passado do “boi barato”, mas sim defende uma política que equacione a falta de competitividade da indústria brasileira que lhe possibilite concorrer em igualdade de condições com os importadores de boi em pé.

    A afirmação ” a maneira mais barata de se reduzir a exportação de boi em pé é pagar mais pelo boi a ser abatido”. Peço desculpas ao Dr. Miguel e a todos aqueles que vêm defendendo esta tese. Basta se conhecer o conjunto da cadeia produtiva, de suas relações e mecanismos de formação de preços, para caracterizar esta afirmação como ingênua e em descompasso com a realidade do dia-a-dia. Nestes mercados ( são vários existentes dentro da cadeia produtiva) os preços de compra e de venda são tomados pelos seus diversos agentes, sem que nenhum deles tenha a menor possibilidade de manipulação. Se fosse possível poder pagar mais ao produtor e cobrar mais do supermercado, por exemplo, seria a condição ideal. Infelizmente, não é assim que as coisas funcionam.

    De qualquer forma, parabenizo o autor pela sua grande contribuição ao debate. O texto é de ótima qualidade, equilibrado e isento de paixões.

    Péricles Pessoa Salazar
    Presidente da ABRAFRIGO

  11. Jose Neuman Miranda Neiva disse:

    Caro Dr Miguel
    Gostaria de parabenizá-lo pelo artigo. Sou professor da Universidade Federal do TOcantins e confesso que o seu texto é o mais bem fundamentado sobre o assunto que já lí.
    Lí vários comentários sobre a matéria e confesso que me preocupa muito o péssimo clima que ainda existe entre o produtor rural e a indústria. Imagino o que seria, por exemplo, da indústria automobilística no mundo se as montadoras tratassem a industria de autopeças da forma que o frigorífico trata o produtor. Na verdade, ínfelizmente o frigorífico trata o produtor com “explorável” e não como um parceiro em uma cadeia produtiva organizada.
    A exportação de gado em pé foi uma pequena válvula de escape para o pecuarísta que já agonizava…. Entretanto é importante que o produtor aproveite o momento e tente modificar a relação com os frigoríficos. Não podemos criar a cultura de que, para “estar bom para o produtor, tem que estar ruim para o frigorífico”. Se todos tiverem juizo, devem criar fóruns de discussão apropriados para o assunto. Acho que a exportação de boi em pé veio em boa hora mas não deve ser um caminho para nossa pecuária… A longo prazo poderá ser bastante danosa eu diria…
    José Neuman Miranda Neiva

  12. Márcia Cabral Dietrich disse:

    Caro Miguel,

    Mais uma vez venho lhe dar parabéns por mais um artigo. Este, reúne todos os elementos realmente importantes para a discussão em torno da exportação de boi em pé, e que, na minha modesta opinião de jornalista, precisa estar mais presente nas pautas da mídia em geral.

    Muito bem fundamentado o seu artigo, conciso, e o que é mais importante, isento de “paixões”, como bem destacou o Sr. Péricles Salazar, presidente da Abrafrigo, que também merece cumprimentos pelas palavras dirigidas a você.

    Forte abraço

    Márcia Dietrich

  13. walterlan rodrigues disse:

    Parabéns Miguel pelo artigo abordando a exportação de gado em pé e parabens para o Pericles da Abrafrigo pela contribuição do seu artigo.

    Diante do comentário dos dois gostaria de dar a minha colaboração comentando uma transação por mim efetuada nesta semana com um Frigorifico de minha região.

    Embarquei 20 novilhas pesando em média 390 kilos peso vivo ao preço de R$ 82,00 a arroba para ser descontado o funrural na ordem de 2,3%, fiz o recolhimento do Icms na ordem de 12% sobre o valor de pauta, que é de R$1.136,00, cujo valor atingiu a soma de R$2.726,40.

    O frigorífico para calcular o valor do funrural, pega o valor de pauta, soma o valor do Icms recolhido e calcula os 2,3% para efetuar o desconto. Assim temos a seguinte equação: 20 x 1.136,00 = 22.720,00 + 2.726,40 = 25.446,40 x 2,3% (funrural) = 585,26.

    Esta é a conta do frigorífico.

    Agora vejam como é o meu acerto com o frigorífico: 13@ x R$82,00 = R$21.320,00 menos R$ 585,26 (funrural calculado sobre o valor de pauta) acabarei recebendo R$20.734,74.

    Uma consideração muito importante que precisa ser feita é que na minha declaração de imposto de renda serei obrigado a contabilizar os valores fornecidos pelos documentos fiscais que não correspondem a realidade do transação realizada.

    Diante do exposto não seria muito melhor para mim vender este gado diretamente para o comprador externo que paga melhor, não me exige icms, funrural. fundersul, taxa de abate, etc, etc.?

    Eu acho que o ideal para quem mora em regiões que existe esta possibilidade de comércio é explorá-lo na sua plenitude.

    A discussão é salutar e muito boa.

  14. Julio M. Tatsch disse:

    Em resposta ao comentário do Dr. Péricles P. Salazar (Pres. Abrafrigo), faço uma pergunta.

    Vou tentar retirar o emocional, lembrando que muitos pecuaristas permaneceram na atividade graças a esta paixão, pois se fosse baseado exclusivamente no retorno financeiro, considerando todo patrimônio envolvido, um número bem maior teria reduzido sua atividade pecuária ou se retirado dela.

    Bem, sendo o Brasil o formador (balizador) dos preços mundiais da carne bovina, por ser o maior exportador e a luz do divulgado aumento médio de 40% nos preços das carnes bovinas, em dólares, somente em 2008, pergunto, por que os frigoríficos não anteciparam estas altas da carne exportada, já em 2006 ou 2007, sendo o Brasil o formador dos preços?

    Foi necessário gerar uma crise no setor produtivo, com o conhecido abate excessivo de fêmeas (monitorado dia a dia através das planilhas de abate dos frigoríficos). Efeito dos preços abaixo do custo de produção, forçando o pecuarista a matar sua máquina de geração de bois.

    Se houvesse racionalidade quanto a todos da cadeia usufruírem de lucro, poderíamos ter economizando muitas vidas de matrizes e estaríamos num patamar quantitativo mais elevados de produção.

    No meu entendimento os frigoríficos optaram pelo caminho cômodo de pressionar para baixo os preços propostos aos pecuaristas ao invés trabalhar por elevações junto aos importadores, para manter ou incrementar suas margens de lucro.

    Em passado recente, frigoríficos e imprensa, alardeavam que o Brasil era o maior produtor de carne bovina e produzia pelos menores preços. Faltou dizer que era a custa do abate de nossas matrizes e da dilapidação do patrimônio dos pecuaristas na razão inversa ao crescimento do patrimônio dos frigoríficos.

    Um amigo que trabalhou em indústria multinacional (exportadora) de outro setor agrícola, me afirmou, não é necessário muita competência para vender produto nobre barato! O difícil é exigir preço. Com o agravante, que na carne bovina somos o maior exportador e não existe quem possa nos substituir em volume. Então por que vender carne barata? Os frigoríficos estavam com suas margens garantidas, mas e o pecuarista?

    Pelo lado dos pecuaristas, tal fato se explica quando temos apaixonados produzindo, dispostos a vender abaixo do custo total de produção e acrescidos da falta de cobrança dos pecuaristas aos seus representantes de classe e omissão de muitos, sejam representantes ou representados.

    Com relação a citada concorrência desleal dos importadores de gado em pé frente aos frigoríficos exportadores, além dos tributos citados, não vamos nos esquecer dos benefícios fiscais e isenções usufruídas por estes. Inclusive com pleitos de equiparação por parte dos frigoríficos de mercado interno.

    Com relação aos subprodutos originários do abate bovino, em especial o couro, séria lógico remunerar de forma diferenciada o pecuarista, segundo sua qualidade e agregação de valor do subproduto. Com o chavão de “está tudo incluído no preço do quilo do boi”, indiferente da qualidade do subproduto, não podemos pretender uma evolução.

    Reafirmo que no RS, os preços ofertados aos pecuaristas somente começaram a sofrer elevação após as primeiras exportações de gado em pé, seguido das evidências de redução de rebanho e oferta, efeito do abate excessivo de fêmeas. Fato evidenciado agora a nível de Brasil, aproximando os preços praticados.

    Finalizando, no relacionado as afirmações do mercado estabelecer livremente os preços dos bovinos, sem interferências, a nível de Brasil, não vamos nos esquecer das condenações de vários frigoríficos pela formação de cartel, segundo parecer do CADE, em passado recente.

    Julio M. Tatsch
    Agropecuarista , Eng.Agr° e delegado repres. Sind.Rural de Caçapava do Sul – RS.

  15. Ricardo Vinhas disse:

    Prezado Miguel,

    Gostaria de comprimentar em teu nome toda a equipe do BeefPoint, pelo belissimo trabalho de analise feito por esta equipe.

    Com relação as cartas escritas concordo com o que foi dito pelos colegas produtores.

    Sobre a posição do Sr. Salazar, lamento a industria estar na posição defensiva, o momento é de reflexão e de busca de saidas inteligentes que visassem a sustentabilidade da cadeia, para tanto os dirigentes deveriam estar mais atentos as colocações dos parceiros que geram sua matéria prima.

    Teriamos muito o que falar sobre o que se passou, mas o momento é de reconstrução, se ficarmos acusando as partes pouco teremos a agregar a nosso sistema, ja vimos muito e se hoje somos mais criticos é devido ao aprendizado imposto pelo sistema e isto ninguem nos tirará, esta etapa já passou, o momento é outro.

    Gostaria sim que tivessemos lideranças de ambos os lados imbuidas de busca de soluções que viessem de encontro a nossos interesses de classe, chegaremos lá é somente uma questão de tempo caso contrario o processo será sempre autofagico.

    Atenciosamente,

    Ricardo Vinhas

  16. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    Parabens pelo seu artigo que contribui para que possamos discutir a exportação de boi em pé e as consequências para o mercado interno e principalmente para os produtores de gado para abate aqui no Brasil.

    A exportação de boi em pé nua e crua se enquadra, no meu ver, totalmente na competividade espúria e fere os interesses da sociedade brasileira na medida que os processos que agregam valor vão ocorrer longe do Brasil e como tal vão resultar em perdas de arrecadação de impostos, perdas de receitas dos derivados.

    O pior é que vários frigorificos estão ativamente exportando parte da sua futuro matéria prima e apesar do fato que os números em si são pequenos, considere que o governo deve simplesmente proibir a exportação de boi em pé.

  17. Ronaldo Mendonça dos Santos disse:

    Parabenizo a todos, autor do artigo e aos autores de comentários, pois isso contribui para o profissionalismo da pecuária brasileira.

    Agradecidamente,

  18. José Reinã do Couto disse:

    Parabéns pelo artigo. Muito oportuno, mostra a realidade da pecuária brasileira, que precisa ser alterada, com mais respeito ao produtor. Todos precisam ganhar, não só os frigoríficos.

  19. Jose Luiz Couto Pedreira disse:

    Parabéns Dr. Miguel,

    O seu artigo como já foi comentado pelos outros produtores e envolvidos na cadeia da carne, é esclarecedor, oportuno e demonstra uma ótima dose de insenção; para que não se diga que este ou aquele setor está fazendo lobby ou corporativismo.

    Bom também, ouvir o representante da Abrafrigo que se mostrou bastante racional, nas suas colocações, mas não convence totalmente os pecuaristas.

    Que bom seria, poder agregar valor ao nosso produto (boi) e sairmos todos satisfeitos no jogo do “ganha-ganha”. Só que fica a pergunta. O que recebe o pecuarista de cada ponto percentual agregado ao seu produto?

    Vejamos o exemplo daqui da Bahia, onde já tivemos a @ mais cara do Brasil, e hoje amargamos a de menor valor.

    Não que eu queira que o nosso preço seja sempre o maior do país. Queremos um preço mais justo.

    Se por aqui a indústria frigorífica não existe, o que piora ainda mais a situação, o advento da exportação do boi em pé pode acabar sendo uma grande saída para o fazendeiro.

    Espero que esta alternativa possa se realizar em breve por aqui. Talvez assim o valor agregado ao boi possa ser melhor distribuido enter os vários elos da cadeia bovina.

    Atenciosamente

  20. Daisy Maria Macedo Sasaki Homrich disse:

    Caros colegas profissionais: médicos veterinários, eng. agrônomos e zootecnistas e criadores.
    Como é do conhecimento de todos do setor, os grandes vilões são os frigoríficos.
    Eu fico realmente surpresa e indignada com a visão estritamente econômica que vocês têm dos animais. Se tiverem o mínimo de perspicápia, notarão que o bem-estar-animal já se tornou uma exigênica para os melhores mercados consumidores.
    A exportação de animais em pé traz um sofrimento intenso, chegando ao óbito de vários deles, sendo, portanto, um ato desumano.
    Acredito, sinceramente, que os criadores e demais envolvidos na cadeia produtiva da carne têm competência suficiente para resolverem os entraves econômicos ao longo da cadeia, sem martirizar os animais, que são o produto principal do negócio e, acima de tudo, merecem nosso profundo respeito.