Com exceção de representantes da indústria, a maioria dos participantes da audiência pública realizada na manhã de sexta-feira, na Câmara de Vereadores de Pelotas (RS), concordou com a exportação de gado vivo para o Oriente Médio como alternativa emergencial para suprir a descapitalização do pecuarista gaúcho. Além de sofrer com os baixos preços pagos pelo quilo do boi gordo, o produtor teve sua situação agravada pela estiagem que atingiu o território gaúcho durante o verão deste ano.
Até mesmo o representante do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussale, admitiu se tratar de um comércio que não pode ser impedido. “A preocupação do sindicato é com o aumento da ociosidade dos frigoríficos e curtumes”, destacou. Segundo ele, de cada animal que sai em pé do estado, R$ 160 deixa de circular na economia gaúcha, sem contar o valor do bovino.
O presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação do RS, Darci Pires da Rocha, foi enfático ao afirmar que a entidade é contra a exportação de qualquer produto in natura do país, pois além da redução do gado gera a precariedade do emprego. “O produto deixa de ser industrializado aqui e por isso não gera emprego e renda”.
Os representantes dos produtores defenderam a exportação como uma saída à crise anunciada em outubro do ano passado. “Se o preço pago é inferior ao custo não há pecuária que dê resultados”, afirmou o representante do Grupo de Trabalho Autônomo de Produtores Rurais de Pelotas (GT Pel), Henrique Costa. Segundo ele, o produtor sabe produzir e espera que seja pago o preço correto. “O gado está pronto e tem que sair, não há como colocá-lo em prateleira”, alfinetou.
O presidente da Associação Rural de Pelotas (ARP), Elmar Hadler, admitiu que a exportação do animal vivo não agrega valor, mas surgiu em momento extremamente propício diante do que vinha sofrendo o produtor rural. Segundo ele, os primeiros impactos da exportação foram superiores a R$ 4,5 milhões e beneficiaram produtores de toda a Metade Sul. Além disso, foram gerados mais de 100 empregos diretos e diversos indiretos, provocando reflexos também em outros setores como comércio e transporte.
O superintendente do Mapa, Francisco Signor, lembrou que o RS é tradicional exportador de boi em pé para abate em outros estados, o que não vinha ocorrendo nos últimos anos. Ele mencionou ainda a necessidade de estabelecer comprometimento da empresa exportadora por prazo definido, dando garantias de futuro ao produtor.
A audiência pública foi proposta pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa, que tem como presidente o deputado Elvino Bohn Gass (PT). A intenção foi ouvir todos os segmentos da cadeia produtiva da pecuária de corte e buscar soluções para o segmento.
Fonte: Diário Popular/RS (por Luciara Schneid), adaptado por Equipe BeefPoint
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Analisando a atualidade da pecuária gaúcha, o mercado futuro do boi gordo da BM&F, não seria uma alternativa viável para proteção contra a flutuação do preço para nós pecuaristas?
Interessante a situação em que a pecuária gaúcha está!
O que eu achei mais interessante é que as indústrias estão “preocupadas” com a futura ociosidade dos frigoríficos gaúchos, como se já não fossem suficientemente ociosos…
Era só o que faltava o sindicato das indústrias da carne dizer que vamos deixar de produzir R$160,00 na economia por cada animal vendido.
O sindicarne tem é que se preocupar com qualidade de serviço. Tem que lutar por condições de mercado onde possa ter afiliados que paguem suas contas em dia e não criando a cada ano que passa novos vilões que ajudam a calotear os pecuaristas que além de desunidos são incrivelmente coniventes com a situação histórica de calotes.
Hoje mesmo no estado temos frigoríficos, que se não calotearam, já estão em atraso com os seus “parceiros” pecuaristas, que não recebem.
Precisamos organizar no estado e no Brasil, toda a cadeia de carne, de maneira, a saber, o que estamos fazendo em cada setor da cadeia e que todos possam ser auto-sustentáveis.
Estamos na eminência de exceder no volume de produção e corremos o sério risco de não termos pra quem vender o excedente.
Imaginem o nosso país, hoje, com um foco de aftosa, ou vaca louca, ou seja, lá o que for que inventem.
Estamos exportando uns 20% da produção, onde nós iríamos desovar isso? O que aconteceria com o preço do gado? O dólar já está complicando o mercado…