O transporte de animais vivos via oceano pela Austrália vem de longo tempo, especificamente com a chegada de uma esquadra contendo bovinos de corte e leite em janeiro de 1788, em um porto australiano. Esta matéria-prima possibilitou o início do processo de industrialização na Austrália.
Nos anos setenta e oitenta, quando a Austrália começou a exportar gado vivo, os embarques eram compostos basicamente por reprodutores e um pequeno número de animais prontos para o abate, tendo como destino o sudeste da Ásia, nos anos setenta e oitenta.
Na década de oitenta ocorreu um “boom” nas exportações de bovinos vivos, devido ao desenvolvimento de confinamentos no sul da Ásia, particularmente na Indonésia e nas Filipinas, locais onde o gado australiano semi-acabado é exportado e então alimentado com uma grande variedade de alimentos de baixo custo, como polpa de abacaxi, bananas e grãos fermentados. Esses animais são então levados aos mercados locais, açougues ou supermercados. As exportações de gado vivo para o sudeste asiático em 2003 atingiram 595.384 cabeças, 774.226 animais no total. Em 2002 a Austrália atingiu o recorde de animais exportados neste sistema: 971.880 cabeças, que geraram 728,1 milhões de dólares americanos.
Outro fator que impulsionou este mercado é a falta de infra-estrutura para a refrigeração das carcaças e armazenamento das mesmas, principalmente em países asiáticos. Desta forma, muitos animais já acabados, chegam para serem abatidos, e a carne é logo distribuída sem ser refrigerada. Questões religiosas também afetam este mercado, muitas nações importam os animais vivos para abatê-los de acordo com seus costumes religiosos.
A Austrália lidera a exportação de gado vivo mundialmente. De 18 portos australianos saem navios para 44 diferentes destinações.
O aparecimento deste tipo de comércio acarretou significativas mudanças no mercado interno, particularmente no Norte australiano. Produtores, associações de produtores, transportadores e trabalhadores portuários dependem agora deste negócio. Os preços do gado no Norte se igualaram ou até mesmo superaram os preços praticados no sul. Antes disso, geralmente eram mais baixos do que os praticados para carne de hambúrguer.
Aumentos na capacidade de embarques, particularmente em transações de largas distâncias, tem ampliado o número de negócios com o Oriente Médio e regiões norte e leste da África. As exportações para estas regiões cresceram de 2.985 cabeças em 1994 para 271.734 animais em 2003.
Os principais mercados para a exportação de gado vivo em julho de 2004 foram: Indonésia (60%), Malásia (16%), Jordânia (6%), Filipinas (5%) e outros como China, Japão e Vietnam.
Número de animais exportados pela Austrália via oceano, de 1990 a 2003
Como funciona
O gado é transportado por caminhões ou trens até o porto, sendo os navios especialmentes desenhados para o transporte destes animais. Algumas embarcações podem transportar mais de 25.000 cabeças, mas o normal são carregamentos de 1.000 a 6.000 animais.
Dentro do navio os lotes são agrupados em currais ventilados, permitindo que correntes de ar mantenham-nos frescos e confortáveis. Os currais são recobertos por palha ou serragem, que são limpos regularmente. Há água a vontade e a alimentação é feita duas vezes ao dia.
Embarcações bem desenhadas permitem que animais viajem acima do nível da água e abaixo do nível do mar. No momento do carregamento do navio, os animais mais pesados são colocados no deque inferior do navio, para dar estabilidade o barco. Os mais leves vão para o deque de cima.
Cuidado animal é a principal preocupação durante os dias ou semanas em que eles estiverem a bordo. Estresse, por frio ou calor, pode causar doenças. Checar a temperatura, a umidade e ventilação são de suma importância. No deque de cima, sombreamento é usado para manter os animais frescos e secos. No de baixo, ventiladores podem ser utilizados.
A tripulação é formada por: 1) um capitão, responsável pelo navio, 2) chefe de escritório, encarregado em embarcar e desembarcar o gado, assim como gerenciar os estoques de alimento, 3) homem de confiança do exportador, responsável pela saúde e bem estar dos animais durante a viagem, 4) veterinário, 5) trabalhadores para fazer todos os serviços relativos ao manejo do gado,6) líder dos funcionários do navio, 7) cozinheiro.
Especificações
Existe uma grande variação de mercados para a exportação de animais vivos australianos. Para cada um deles existem diferentes especificações. As do Oriente Médio são bastante diferentes das requeridas pelos mercados asiáticos, por exemplo. Para que seja realizada a exportação, é necessário que o exportador siga a risca todos as especificações exigidas. Algumas delas são: sexo, raça, peso, animais prontos para o abate ou não, tipo de alimentação (pastagem ou confinamento), entre outras.
Brasil
Em recente estudo mercadológico realizado pelo MLA (Meat and Livestock Austrália) sobre a possível entrada do Brasil no mercado de exportação de gado vivo, alguns pontos foram abordados, demonstrando dificuldades brasileiras. Mas, a médio prazo, o MLA acredita que o Brasil possa superar estes obstáculos e se tornar um forte competidor. As dificuldades brasileiras são:
Fonte: Equipe BeefPoint com dados do MLA
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Achei bastante interessante esta matéria, pois atuo como engenheiro na navegação fluvial e desenvolvi em meu mestrado, um projeto de transporte rodo-fluvial de gado utilizando a hidrovia Tietê-Paraná.
Nele procurei me atentar as peculiaridades da carga, tais como perda de peso, velocidade ideal dos barcos, condições de acomodação e transbordo e logística de todo o transporte porta-a-porta, ou seja, das fazendas até os frigoríficos, resultando em substancial economia de custos aos frigoríficos com esta multimodalidade.