A Pecuária Brasileira, pressionada por uma nova realidade, tem passado nos últimos anos, por uma evolução significativa. Dois movimentos dessa evolução merecem destaque: 1º) A conquista do mercado externo e, 2º) O aumento da produtividade.
A Pecuária Brasileira, pressionada por uma nova realidade, tem passado nos últimos anos, por uma evolução significativa. Dois movimentos dessa evolução merecem destaque: 1º) A conquista do mercado externo e, 2º) O aumento da produtividade.
Todos conhecem a vertiginosa ascensão da carne bovina exportada nos últimos anos. Isto se deveu ao novo cenário do mercado internacional, no qual o Brasil se inseriu com a abertura econômica implantada com o plano Real, e evidentemente à competência dos frigoríficos que souberam aproveitar a oportunidade. A exportação cresceu no período de 2000 a 2006, 270% em volume, e 350% em faturamento.
Atualmente nos perguntamos; porque esta conquista, não beneficiou o produtor? E, será que um dia irá nos beneficiar?
Para tentar entender é preciso primeiro ver que neste mesmo período, entre 2000/2006 houve um grande crescimento da oferta, a produção brasileira de carne bovina cresceu 34% passou de 6.650 (mil ton.) para 8.900 (mil ton.), um crescimento de 2.250 (mil ton.).
O mercado interno absorveu apenas 30% deste crescimento 590 (mil ton.), praticamente apenas por conta do crescimento populacional, pois o consumo continuou os mesmos 36 kg per capita. Os restantes 70%; 1.660 (mil ton.) foram absorvidos pelo mercado externo.
Mas de qualquer forma então houve demanda para consumir o aumento da oferta; então porque, alem de os preços não ficarem estabilizados, eles inclusive se desvalorizaram neste período?
Seria necessário pesquisar um pouco para comprovar com exatidão. Porém, como eu acredito no mercado, acho que talvez não tenha sido suficiente para enxugar o mercado, que continuou ofertado devido à falta de reação do mercado interno que consome 80% da produção.
Mais ainda há um senão: porque os frigoríficos exportadores uma vez que a exportação os remunera melhor, não pagam melhor ao produtor?
Como pode ser observado em vários estudos e publicações, o lucro dos frigoríficos, daqueles que operam no mercado interno, em valores percentuais é baixo.
Como o preço pago pelo boi representa 70% do custo do frigorífico, este preço passa a ser determinante para o lucro ou prejuízo de qualquer frigorífico que venda a carne no mercado interno.
Para não ficarmos com pena destes frigoríficos, vale ressaltar também que, como boi representa 70% do custo do frigorífico, e boa parte deste dinheiro não é capital do frigorífico e sim dinheiro do giro. Ele está recebendo e pagando ao mesmo tempo; desta forma então, apesar da estreita margem sobre o custo total, caso o frigorífico seja bem gerenciado e tenha um bom volume de abate, ele pode ganhar um bom volume de dinheiro, da mesma maneira, pode também perder um bom volume de dinheiro.
Os frigoríficos habilitados a exportar, se balizam por este mercado para comprar o boi. Porque iriam pagar mais pelo boi exportado do que aquilo que pode ser pago aos 80% da produção vendida no mercado interno? A margem maior obtida com a exportação é fruto de uma competência própria, e que os outros não tem. Tiveram para isto que contratar profissionais estruturar um departamento de mercado externo, investir na modernização da indústria, em conjunto organizaram uma associação, contratando como presidente um ex-ministro da República. Eles têm um mérito diferente dos outros frigoríficos que não exportam. Então estão errados em pagar o boi como se fosse vendê-lo no mercado interno? Acredito que não.
Alguns podem pensar: de que lado este cara está? Estou do lado do produtor lógico, pois também sou um. Mas só conseguiremos enxergar um caminho para sairmos desta penúria em que nos encontramos, se tivermos consciência da realidade que nos cerca.
Como a oferta não irá ceder facilmente, pois o rebanho cresceu e a produtividade também, só nos resta o caminho do aumento da demanda. Do mercado interno não podemos esperar este aumento, pois; o país não cresce; a renda per capita não cresce; o povo tem carência de muitos produtos hoje facilmente financiados, etc. etc. etc.
Onde hoje há uma enorme demanda é no mercado externo, e vários fatores indicam isto; o crescimento dos países em desenvolvimento; a BSE (vaca louca) e a queda da produção na UE; a BSE nos EUA; seca na Austrália; os atributos naturais da nossa carne; o nosso custo. Isto tudo faz com que os compradores internacionais queiram comprar nossa carne, este mercado pode se tornar nossa tábua de salvação, basta que nos empenhemos para isto.
Com o aumento da exportação, não é que os frigoríficos exportadores vão pagar mais, como acabamos de ver, isto não acontece assim. A questão é que com o potencial crescimento do mercado externo, o mercado interno enxugaria. E é isto que fará os preços subirem.
Porém, para isto temos um trabalho a realizar, e ele não é confortável. Precisamos primeiro parar de olhar para nosso umbigo, somos uma “classe” de produtores e precisamos pensar como tal: como diz o ditado: uma andorinha sozinha não faz verão.
Todos nós participamos de alguma Associação; Sindicato; Cooperativa, temos levar este assunto para a pauta da reunião, e discutirmos o assunto com responsabilidade e seriedade, com objetivo único de atender as exigências que o mercado externo precisa para comprar nosso produto.
Vamos de uma vez por todas, resolver aquelas pequenas coisas do dia a dia em nossas fazendas que sabemos relacionadas a estas exigências. As novidades costumam incomodar, mas assim que começamos a fazê-las o incomodo passa.
Se fizermos isto não há duvida que iremos inundar o mundo com nossa carne, ninguém será mais eficiente que nós. Somos um povo criativo, nosso maior problema é o individualismo, mas sozinhos, falta-nos coragem.
O segundo grande movimento como disse no início que queria comentar, foi o aumento ocorrido na produtividade. E isto como acabamos de ver, é importante, pois faz parte do aumento da oferta.
As melhorias nos manejos; e não preciso aqui relacioná-los, pois todos os conhecem, propiciaram um aumento na oferta. Na cria foram responsáveis pelo aumento das taxas de nascimento e de desmame, que geraram uma maior oferta de bezerros, e na engorda foram responsáveis pela redução da idade ao abate dos animais.
Na busca do lucro, a produtividade “pode”, se for bem gerenciada, fazer a diferença: pois pode diminuir o custo de produção da @, e gerar mais lucro.
O problema é que um aumento da produtividade sem a diminuição do rebanho gera um aumento de oferta. E, se não houver aumento na demanda e os preços continuarem deprimidos, ou ainda, se deprimirem-se ainda mais, o oferta será diminuída por conta da saída de produtores da atividade.
Um fator que também pode auxiliar na redução da oferta é o Biocombustivel, caso confirmar-se as expectativas deste mercado. A renda oferecida pelas usinas que estão instalando-se nas novas regiões aos donos das terras, não é alcançada nem pela maioria dos sojicultores, quiçá então pelos pecuaristas. Muitos pecuaristas deixaram de criar para arrendar suas terras, e nem todos irão criar em outra região.
Não resta a menor duvida de que a produtividade continuará crescendo. Primeiro pela relação com a rentabilidade, e segundo porque ainda existem muitas técnicas pouco exploradas, que permitem a intensificação da produção: como, por exemplo; o confinamento que vem crescendo significativamente; a integração lavoura-pecuária que tem grande sinergia, e um potencial de produção fantástico; as melhorias nas pastagens através da correção e adubação; o pastejo rotacionado; na área da genética, outra técnica pouco utilizada o “cruzamento inter-racial”, tem um enorme impacto na produtividade.
Meu desejo com este artigo foi o de refletir. Assim como a maioria de nós, não sou um especialista, e com certeza alguma coisa pode estar errada ou ter escapado ao meu raciocínio; porém estou aberto e até desejando por correções ou complementações.
Como disse Confúcio numa frase que li aqui mesmo no BeefPoint; “O que destrói a criatividade é o senso do ridículo”.
0 Comments
Tudo certo nas coisas que você falou, concordo com elas. Porém, venho batendo na tecla que a grande ferramenta que nos falta para entender melhor nossa atividade é estatística confiável. E,como já disse antes, fui atrás do IBGE checar o que poderia achar la. Muito se fala em aumento de produtividade etc, concordo que tem melhorado muito. Mas veja pelos números abaixo (IBGE) o astronômico aumento no abate de fêmeas e o grande aumento no abate de machos.
Isto é totalmente insustentável. Pois, como todos sabem, aumento de abate de macho só ocorre se segurarmos a bezerra, que vira novilha, que vira vaca, que só 80% pari e assim por diante. Então, de novo, este aumento no abate de macho pode e deve ter sido decorrente de redução de idade de abate. Mas já reduziu, não tem mais como reduzir.
Veja bem, aumentamos em duas vezes e meia a quantidade de fêmeas abatidas e em 50% a de machos. Isto não é sustentável. E, também, não acredito, baseado nestes números que o rebanho brasileiro tenha crescido. Talvez seja somente minha total ignorância, mas não consigo enxergar crescimento matando esta quantidade de vacas.
Outro dia uma pessoa que conheço em Campo Grande disse que a pecuária só melhoraria daqui a 5 anos, pois tinhamos que matar 20 milhões de vacas. Eu disse, meu caro amigo, nós últimos 5 anos já matamos 35 milhões, ou 15 milhões a mais que a média que vinhamos matando normalmente (4.3 milhões por ano).
Enfim, só tentei contribuir com um pouco de informação oficial sobre as estatísticas da nossa atividade. E continuo achando que esta situação é insustentável. E só está sendo mantida por que nossa indústria não tem uma representação digna como é o MLA na Austrália.
Abraço grande.
Limão
…………Abate de vacas………Abate de bois
1999…….4.444.432…………….12.321.001
2000…….4.438.977…………….12.626.974
2001…….4.185.805…………….14.227.073
2002…….4.769.140…………….15.128.762
2003…….6.726.737…………….14.875.182
2004…….8.952.791…………….17.026.231
2005…….10.224.713…………..17.781.300
Parabéns pelo excelente artigo.
Existem outros, como eu, que empunham esta mesma bandeira.
A nossa classe deve seguir diplomaticamente os exemplos de montadoras de veículos, que muitas vezes descem de seus pedestais e “choram” chantagiando nossos governantes com demissões em massa.
Ou até mesmo as badernas de MST e todos “sem qualquer coisa” de nossa sociedade.
Não esperemos que nos pague o que acreditamos, pois infelizmente a pecuária não é feita apenas de aumentos de produção.
Devemos entender a pecuária como uma cadeia de produção, pois onde culminam nossos esforços e suor, infelizmente também estamos sangrando.
E que nos agilizemos, pois o profissionalismo da indústria frigorífica já dá sinais, com a compra de unidades internacionais.
Será que exímios profissionais dos frigoríficos já visualizaram a pouca oferta de gado gordo que culminará no próximo semestre, e mais intensamente nos próximos anos, comportamento oriundo do grande abate de fêmeas nos últimos anos.
Um Abraço.
Josmar Almeida Junior
Li o artigo com a atenção possível. Tem um conteúdo parcialmente correto, a meu juízo. Discordo de que continuará havendo aumento da produtividade com base na rentabilidade do negócio. Aqui no Rio Grande do Sul, o custo médio de produção de 1 quilo de boi gordo, está em torno de R$2,10, enquanto que o mercado paga entre 1,90 e 1,95. Ou seja, estamos trabalhando com prejuízo! Assim, não encontro a propalada rentabilidade do negócio.
Por outro lado, o frigorífico paga pouco ao produtor mesmo quando exporta por ótimos preços para ele, mas baixa o preço do boi diante de qualquer problema. Na verdade somos reféns da indústria. Precisamos é de união e organização, como eles. Aí concordo com o articulista, pois somos desunidos, individualistas e presunçosos.
De qualquer forma me causa surpresa este tipo de manifestação do Presidente de uma Associação de raça. Quem deve explicar e justificar as razões de pagar pouco pela carne são os frigoríficos, enquanto os produtores devem é cobrar preços justos e organização do setor.
Atenciosamente,
José Roberto Pires Weber
Excelentes as colocações do Sr. Daniel…o ponto que me chamou mais atenção; foi a união ou ausência dela, dentro da nossa “classe” de produtores/Carne. Vejo que o maior problema de nós (produtores) não é o de produzir…todavia, nunca produzimos tanto e com qualidade, como nos últimos anos.
Quanto à comercialização dos nossos produtos que está sendo a maior barreira no momento. Estamos muito preocupados “da porteira para dentro”, deixamos a desejar “da porteira” para fora. Esquecemos que esse mesmo produto produzido com ótima qualidade e eficiência, necessita, também de ser comercializado.
Deixa vir o aumento da produtividade!!! Como disse com sabedoria acima o Sr. Daniel: “o nosso maior problema, é o individualismo”…
Parabéns Sr Daniel!!
Prezado DANIEL,
Muito bom artigo. Ao mesmo tempo sucinto e abrangente. Qualidades raras de redação e de raciocínio. Parabéns.
Carlos Arthur Ortenblad
Rio de Janeiro RJ
Parabéns Daniel pelo bem elaborado artigo.
Não vejo problema em tentar compreender a situação da indústria, afinal não falamos tanto em cadeia produtiva, então temos que compreendê-la para saber onde nos situamos e o que se espera de nós. A esse respeito tem uma historinha interessante contada por quem esteve estudando há pouco tempo na Austrália. Dizem que lá todos os tradicionalistas do setor da carne gostariam de abater sem insensibilização cada brasileiro que aparece querendo aprender algo com eles, enquanto os mais modernos (ínfima minoria) pensam que o mais importante é que o setor da carne vermelha do mundo todo vá bem e que a Austrália, o Brasil etc. possam juntos desfrutar disso.
Então, por que não participar desse esforço de entendimento proposto pelo Daniel, para sabermos os motivos que levam só os exportadores à desejável rentabilidade?
Concordo com você também quanto a aumentos de produtividade. Ainda há muito por reduzir na idade de abate dos novilhos no Centro Oeste e Sudeste. Tem muito gado de seis e oito dentes permanentes. Será possível reduzir para quatro sem baixar a média de peso de abate, que tem conseqüências diretas no peso dos cortes de exportação? Será preciso suplementar, confinar? E aí perderemos o charme do “natural”, “boi verde”, “produzido a pasto” numa época em que a cabeça dos europeus está sendo feita para só se alimentarem do que é produzido naturalmente, muito longe do conceito de “animal machine”?
Entendo o artigo do Daniel de Stéfani como uma convocação para se fazer planejamento estratégico na pecuária de corte, como se faz em outros países. Poderíamos começar pelos debates que nos levassem a definir cinco prioridades para os próximos três anos. Sanidade tem que ser a primeira…Em 2010 faríamos uma série de eventos para definir prioridades para mais cinco anos. Quem sabe o Daniel possa com a ajuda do BeefPoint liderar esse movimento.
Abraços
Pedro Eduardo de Felício
Unicamp
Produccion y productividade
Vale a pena pensar em ângulos diferentes para estabelecer os preços do bezerro e o do novilho gordo???
Se de alguma forma se risca uma delineia entre a indústria do bezerro e a indústria da engorda, os resultados aceleram o propósito dos objetivos. Bezerros de qualidade e novilhos gordo jovens disponíveis para a tarefa.
Brasil deve maturar muito bem estes conceitos, que em definitiva fazem pela eficiência do setor.
Na medida que o frigorífico pague pelo Kg. e não por carne jovem e tenra, o setor seguirá em um custo acima permanente, sencuillamente enquanto não se valorem e diferenciem “muito claramente” diferencia por precocidade dos animais bem terminados, a dinâmica do circuito cárnico brasileiro, se enlentece e os objetivos e resultado em matéria de “qualidade” se apagam.
Ricardo Eirea
Prezado Daniel Stéfani
Alguns problemas brasileiros passam a ser tão presentes, tão corriqueiros que se amoldam ao cotidiano, desaparecem dos debates e deixam de ser notícia. Não podemos permitir que esse fato lamentável ocorra na pecuária de corte.
Todos nós, produtores rurais, independente do porte, temos não só o direito mas, também, o dever de expressarmos a nossa opinião, contribuindo dessa forma para o pleno exercício da cidadania. O seu artigo é um exemplo. Continue.
A exportação é necessária, fundamental e importante para a pecuária de corte no Brasil, porém não é suficiente para enxugar o excesso de oferta resultante do aumento na produtividade.
É indispensável a luta pela continuidade do desenvolvimento e viabilidade do nosso setor produtivo que, vale a pena frisar, impulsiona a economia brasileira e, mais importante, gera emprego e renda no interior, restringindo, dessa forma, o êxodo rural que leva ao inchamento urbano.
Tornam-se mais do que necessárias atitudes de cooperação, parceria e associativismo. Nesses momentos de crise devemos ter atitudes corajosas para discussão e intercâmbio de idéias inovadoras, pragmáticas e sintonizadas com a realidade global e competitiva. Quem só vê a crise não enxerga as oportunidades.
Paulo Cesar Bastos
Engenheiro civil e pecuarista
Muito oportuno e válido o seu artigo. Você coloca que…” o problema é que um aumento da produtividade sem a diminuição do rebanho gera um aumento de oferta… e se não houver aumento na demanda……” Corretíssima esta colocação; eu iria um pouco mais longe e afirmaria: Para que os preços voltem a se manter em níveis remuneradores será necessário estabilizar o rebanho e não aumentá-lo indefinidamente. Para tanto dimimuir o número de fêmeas do nosso rebanho parece ser a curto/médio prazo a solução (infelizmente).
Ao Sr Daniel de Stéfani
Gostei muito do artigo, e aproveito a oportunidade oferecida pelo Sr., para tirar algumas dúvidas.
– Conquistamos o mercado externo pela qualidade ou pelo preço da nossa carne?
– Alguns anos atrás quando as exportações eram insignificantes, um salário mínimo comprava no máximo 3@ de boi, hoje está comprando 7@, isto não é renda per capita?
– Se os frigoríficos podem perder dinheiro nos 75% que o mercado interno consome, qual será então o lucro dos 25% exportado?
– A rastreabilidade é uma exigência para exportar,ou foi uma forma, que o ex Ministro, hoje funcionário dos frigoríficos, encontrou para abrir o nosso maior segredo que era a quantidade boi pronto para o abate?
– Sabendo que os frigoríficos tem o poder de pagar mais, ou menos pela @, o Sr não acha que o mercado futuro está sendo manipulado?
– O Sr compraria, ou venderia contratos futuros, sabendo que estava apostando contra o frigorífico?
– Conquistando mais mercado externo, o Sr não acha que vai abrir mais o leque para a venda da carne e afunilar a venda do boi?
– Por que existe períodos de safra e de entressafra para o boi,e o da carne não existe?
– No Mato Grosso do Sul existem duas áreas definidas com relação às exportações. A área 1, exporta, a área 2, que é uma área de risco de aftosa, não exporta. Por que nunca deu aftosa nos animais da área 2?
– Por que a aftosa só aparece quando a @ está custando de R$ 60,00 para cima?
– Quando surgiu o boato que a Rússia estava devolvendo um navio de carne, porque havia comprado outra carne mais barata, não era para ser desmentido na hora, já que a nossa carne é a mais barata do mundo? Comprar de quem?
Vou parando por aqui, mas ainda ficaram muitas dúvidas perto de algumas certezas:
– Quem manda no mundo é o dinheiro e não a comida.
– Quem produz o primário, e consome o industrializado está morto.
– Existem três poderes no mundo, o político, o econômico e a mídia, os três ganham enfraquecendo o produtor.
– Este quadro só vai mudar no dia que os homens sérios e honestos tiverem a mesma audácia dos velhacos.
Um abraço e obrigado pela oportunidade.
Prezado sr. De Stéfani,
O sr. Antonio Pereira Lima, de Campo Grande-MS, tem ótima pontaria. Acertou na mosca. São os argumentos a meu ver mais convincentes e objetivos.
Filme exibido na mídia mostrou evidencias de cartel. E o que aconteceu? Nada!
Manipulação de informações de mercado são freqüentemente percebidas. A estória da devolução de carne da Rússia é exemplo recente.
A nossa desunião não justifica a ambição desmedida do outro lado da cadeia. Não podemos ser ingênuos a tal ponto. Como falar em produtividade sem falar em rentabilidade. Aos preços atuais, estamos trabalhando no vermelho. Façamos uma avaliação entre percentual de aumento da arroba comparando com insumos etc. nos últimos 10 anos e veremos a real situação da pecuária.
Como falar em rastreabilidade sem falar em classificação de carcaças? A qualidade da carne não esta no código de barras. Recentemente produtor alertou neste mesmo BeefPoint que, ao solicitar a identificação de vaca rastreada abatida em frigorífico, por problema sanitário (brucelose), ouviu a resposta de que seria impossível a identificação, pois a carcaça já estava “sem a orelha”, não podendo pois ser identificado animal pois não mais tinha o brinco.
Porque frigoríficos não tem interesse em couro de melhor qualidade e não remuneram para tal?
Porque não simplificamos a comercialização vendendo por quilo vivo, ao invés de sermos submetidos a toda sorte de arbitrariedades ao acompanharmos o abate de animais?
Porque carne de vaca vira boi na gôndola do supermercado e não no gancho do frigorífico? Porque ao consumidor não é dada a opção de escolha entre carne de novilho precoce e de vaca, com preços diferenciados como o são no abate?
Certamente temos nossa parcela de culpa e omissão. O pior inimigo do pecuarista é o pecuarista desinformado, como diz Julio Brissac.
Mas, se mensaleiros e sanguessugas estão sendo inocentados pura e simplesmente, não seremos nós, reles pecuaristas, quem conseguirá virar a mesa, enquanto magistrados das mais altas cortes no país são classificados de “fura-tetos”, aumentando os próprios salários à revelia do bom senso e da ética, usando as brechas da constituição.
Ao Senhores Antonio Pereira Lima e Jose Luiz G. de Andrade.
As duvidas dos Srs. são várias, e como disse, não sou tão preparado, quis apenas, com meu artigo refletir um pouco sobre nossos problemas.
Mas da para esclarecer mais algumas das duvidas.
A primeira coisa é que quando escrevi o artigo, ele ficou um pouco extenso, daí cortei coisas que não devia. Num destes cortes eu dizia que, acredito que em alguns momentos o frigoríficos manipulem os preços, mas apenas em alguns momentos, pois senão ele sai fora do mercado, porém em compensação os pecuaristas também manipulam em outros momentos: por exemplo quando fica claro que há falta de boi, nós os seguramos ainda mais, pois sabemos que assim os preços podem subir mais. Lógico que não estou comparando a força de cada parte, mas isto também é manipular, ou não é? Não quero parecer ingênuo, sei que a concentração na indústria da margem a alguma manipulação, mas o que eu acho, e foi isto que eu quis dizer no artigo, é que nem tudo é manipulação: o mercado desempenha neste caso o papel de protagonista. A pequena margem na venda no mercado interno, a quantidade de indústrias que quebraram, são indícios de que o mercado é apertado.
Eu não afirmei Antonio, que 75% da carne vendida no mercado interno da prejuízo; como podemos ver nos sites das empresas que fazem estes levantamentos, ela também da lucro, mas não é nada que demonstre, que esta havendo um achatamento descabido no preço pago ao produtor.
Quanto ao rastreamento, eu acredito que seja uma exigência apenas do mercado europeu. Por que rastreabilidade compulsória, não sei dizer. Agora se o maior segredo era eles não saberem quantos bois prontos para abate existiam, nós também não sabíamos, e se agora eles podem saber, nós também podemos, e isto será uma boa informação para ambos.
O Sr pergunta que se exportarmos mais não vai abrir mais o leque para a venda. Não entendi isto; creio que se exportarmos mais, será necessário mais boi, e dependendo para que mercado, também mais qualidade. E isto deve ser bom para quem tem boi. Se vai afunilar mais a venda do boi como o Sr diz; não sei, talvez se formos grandes exportadores, e o negócio for realmente bom, atrairemos mais investidores, como esta acontecendo hoje com a indústria de álcool e açúcar.
Quanto à questão do achatamento dos preços nos últimos anos, recomendo ao Sr. e a todos, lerem o artigo “Margem bruta na reposição: o que mudou na pecuária?” de 30/11 na sessão de “Conjuntura de Mercado” do BeefPoint neste artigo, trecho que reproduzo a seguir, cita com mais propiedade aquilo que quis dizer com aumento da produtividade – “A compensação (da desvalorização de nosso produto) teria que vir do aumento da produção e eficiência produtiva. Ou seja, com uso de tecnologia e conhecimento, conseguir produzir cada vez mais com a mesma quantidade de insumos.
Quanto a questão da manipulação do Mercado Futuro, isto é impossível, este mercado é lincado no físico, se o frigorífico manipula tem que ser no físico, neste mercado existem muitos investidores, tanto comprando como vendendo.
Quanto à safra e entressafra de carne e de boi, me parece evidente a existência delas. Não entendi sua colocação.
Capitalismo é isto, todos querem ganhar, o que é preciso, são órgãos reguladores capazes de coibirem excessos quando estes existirem.
Sr. José, acredito que o inimigo do pecuarista não é apenas aquele desinformado, mas também o mal informado.
Agradeço a oportunidade de esclarecer alguns pontos que podem ter ficado obscuros no meu artigo.
Obrigado
Daniel De Stefani