Fim do embargo chinês deve ter impacto no preço da carne
27 de março de 2023
Startups podem se inscrever para participar do Mapa Conecta Proteína Animal
28 de março de 2023

Exportações de carne bovina à China devem crescer em 2023, diz Fávaro

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou neste domingo (26/3) que as exportações brasileiras de carne bovina para a China deverão crescer em 2023, apesar dos 29 dias em que os embarques ficaram suspensos por conta do caso atípico do mal da vaca louca. Ele também disse que a prioridade no momento não é revisar o protocolo sanitário que obrigou a aplicação do autoembargo brasileiro, mas sim gerar confiança na relação comercial para ampliar as vendas aos chineses.

A tendência de crescimento nas exportações de carne bovina para a China se deve às novas habilitações de frigoríficos anunciadas na última quinta-feira, disse ele, mesmo dia em que Pequim pôs fim ao bloqueio gerado pelo caso da vaca louca, que durava desde 23 de fevereiro. No ano passado, o Brasil enviou 1,2 milhão de toneladas da proteína para os chineses, com faturamento próximo de US$ 8 bilhões.

“Ao retomar [as exportações] e com ampliação de plantas habilitadas, para a balança comercial já é um grande indício de que vai ser maior a exportação em 2023 do que foi em 2022. E já pediram novas listas [de frigoríficos] que a gente entregasse, e agora passa pelo crivo chinês”, disse Fávaro em coletiva de imprensa em Pequim.

Habilitações de frigoríficos

Sobre a possibilidade de novas habilitações, o ministro garantiu que o processo é transparente e segue a ordem cronológica das solicitações feitas pelos frigoríficos nacionais para acessar o mercado chinês.

“[O critério para elencar as plantas a serem habilitadas] é a ordem cronológica, mas depois essa ordem sofre alterações à medida que alguém não cumpre [todos os requisitos], esse protocolo fica para trás e alguém passa adiante. É um processo transparente, com total transparência”, disse Fávaro.

Ele ressaltou que a decisão de qual estabelecimento receberá o aval é exclusiva das autoridades chinesas. Não ficou claro se outras plantas poderão ser habilitadas nesta semana ou se o adiamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode mudar os planos. Fávaro cumprirá agenda no país até quinta-feira.

“Em nenhuma missão até hoje houve anúncio de habilitação de novas plantas frigoríficos durante a missão. [Dessa vez], foram quatro habilitações e levantaram duas suspensões, o que já virou seis durante a missão. Olha como [o clima] está amistoso, há uma boa vontade”, disse o ministro.

Fávaro destacou também que houve um pedido dos chineses nas vésperas da viagem da delegação brasileira a Pequim para que mais frigoríficos aptos a buscar a habilitação fossem incluídos no sistema online de informações da China. “Tem um sistema dentro do protocolo em que vai se fazendo avalições, vistorias, para que fique habilitado a entrar no sistema. No fim do ano passado, a China disse para não colocar ninguém no sistema. Nos primeiros dias do ano [2023], falaram para começar a colocar, e foram colocados oito [frigoríficos]. Na véspera da viagem, pediram para colocar todos que estão prontos pelo Brasil, e isso ampliou a fila”, explicou. “Não falaram a justificativa [do pedido]. Tudo que está pronto aí, coloca no sistema. E está no sistema”, concluiu.

Esse pedido recente da China gerou um temor nos empresários do setor de carnes brasileiro de que a ordem cronológica não fosse mais considerada, como mostrou o Valor. Na última quinta-feira, a Administração-Geral de Alfândegas do país asiático (GACC, na sigla em inglês) anunciou a habilitação de quatro frigoríficos. Essas plantas estavam entre os oito frigoríficos listados pelo governo brasileiro em um primeiro lote.

Ao todo, o Brasil informou, ainda em 2021, que 79 estabelecimentos já cumpriam os requisitos chineses e estavam aptos a buscar a habilitação. A lista incluída agora no sistema online a pedido da China já contém um número maior de plantas.

Protocolo sanitário

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou que houve uma sinalização dos chineses para iniciar a revisão do protocolo sanitário para exportação de carne bovina brasileira para lá, mas que a prioridade dele é consolidar a confiança na relação comercial com os chineses.

“Com a credibilidade estabelecida nos casos passados, dá para discutir novo modelo, mas não colocamos como prioridade. O que temos que ter prioridade é a garantia de qualidade dos produtos brasileiros para a China, é isso que garante a abertura, cada vez mais, de mercado. Eles têm que estar confiáveis, tranquilos, seguros de que a carne e todos os outros produtos brasileiros são seguros para a população chinesa”, disse Fávaro.

O acordo, firmado em 2015, prevê o autoembargo preventivo quando é identificado algum caso do mal da vaca louca, a encefalopatia espongiforme bovina (EEB). Na época, não havia distinção entre episódios atípicos, que ocorrem de forma espontânea em animais velhos e não geram riscos à sanidade do rebanho ou à qualidade da carne, e os clássicos.

Até hoje, o Brasil registrou seis casos, todos atípicos. “Todos os casos foram tratados com total disciplina, transparência e ganho de credibilidade que é possível que haja revisão do protocolo (…) só o fato de poder construir, talvez o local propício seja a Cosban [Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação], e terá reunião em agosto. Estamos muito tranquilos com o protocolo”.

Aberturas de mercado

Carlos Fávaro também confirmou protocolos de abertura de mercado que estão em discussão e poderiam ser assinados por Lula na terça-feira. Ele citou estudos de acordos para exportação de sorgo, gergelim, uvas frescas, noz pecã e arroz. Também está em discussão os termos para a venda de farinhas de miudezas de suínos e aves, produtos que são usados na alimentação animal, e também a ampliação das possibilidades de embarques da proteína suína, como miúdos e carne com osso.

O ministro ainda disse que acordos de negócios entre os setores privados do Brasil e da China vão ser anunciados na próxima quarta-feira, dia 29.

Programação

Nesta segunda-feira, Fávaro e a equipe do ministério participam do evento China-Brazil Momentum e do Fórum China – Brasil de Desenvolvimento Sustentável. Na terça-feira, a programação conta com visitas técnicas e na quarta-feira será realizado o Seminário Brasil-China e encontros setoriais.

Fonte: Valor Econômico.

Os comentários estão encerrados.