A cadeia produtiva do couro deve fechar 2005 com um novo recorde histórico. Depois de embarcar US$ 4 bilhões em 2004, o setor aposta em um crescimento de 15% para este ano, com expectativa de alcançar US$ 4,6 bilhões em receitas com vendas externas.
O desempenho em 2005, no entanto, tem uma condicionante importante: o dólar. Segundo Amadeu Pedrosa Fernandes, presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), a receita com exportações do setor poderá ser comprometida caso o câmbio não fique ao redor de R$ 2,90. “Com os atuais níveis, o faturamento com os embarques internacionais poderá ter um crescimento de apenas 5%, sendo muito otimista”, acredita o executivo.
Independente do cenário para a moeda americana, para este e os próximos anos, o potencial do setor ainda está longe de ser alcançado. Segundo Fernandes, as indústrias de couro poderiam atingir a marca de US$ 10 bilhões em receita de exportação nos próximos cinco anos, prevê o executivo.
A aposta é sustentada no grande potencial brasileiro na produção couro. Segundo Fernandes, a produção nacional é de 39,5 milhões de peças, das quais 22 milhões foram exportadas no ano passado.
A meta é audaciosa. Além de enfrentar a valorização do real ante o dólar – especialistas do mercado consideram remota a possibilidade da moeda americana voltar à casa dos R$ 3 -, o setor precisaria registrar um crescimento médio anual ao redor de 30%, durante os próximos cinco anos, para que seu objetivo seja alcançado.
Uma das apostas para que os US$ 10 bilhões sejam alcançados é o aumento da participação dos produtos acabados brasileiros no mercado europeu. Com a forte valorização que o euro obteve nos últimos anos, as indústrias européias, principalmente da Itália, Espanha e Portugal, perderam competitividade diante de alguns concorrentes. “A China seria a mais indicada para ocupar esse espaço, mas os consumidores da Europa fazem algumas exigências no que se refere ao estilo e design que os chineses não conseguem atender”, diz Fernandes.
Mais do que atender simplesmente o gosto europeu, as indústrias brasileiras estão interessadas nas cifras que aquele mercado pode oferecer. “Nos Estados Unidos, o preço médio de um par de sapatos nacional é comercializado a US$ 10. Já na Europa, o produto consegue obter uma cotação que varia de US$ 15 a US$ 20 o par”, diz Fernandes. Com isso, um sapato brasileiro pode ter uma valorização que vai de 50% a 100% em comparação com o mercado americano.
De acordo com o executivo, a participação dos produtos brasileiros poderiam aumentar na Europa. Atualmente, o continente representa apenas 10% das exportações brasileiras do setor calçadista. “Os americanos, por exemplo, detêm uma fatia de 70% dos nossos embarques”, explica Fernandes.
Além de combater a queda do dólar as indústrias de couro nacional pretendem realizar investimentos em 2005. A expectativa do setor é que sejam aplicados US$ 100 milhões, praticamente a mesma verba destinada no ano passado.
O segmento do couro no Brasil se divide entre a indústria calçadista e a indústria curtidora. Dentro das exportações, a primeira possui uma fatia de 45%, ou US$ 1,8 bilhão em 2004. Já a segunda detém 35%, ou US$ 1,4 bilhão dos embarques. Os 20% restantes, ou o correspondente a US$ 800 milhões, ficam com componentes de couro para produtos acabados, como solados e cadarços.
Fonte: Gazeta Mercantil (por Alexandre Inacio), adaptado por Equipe BeefPoint