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Falhas de manejo causam perdas na qualidade da carne bovina

Programas de qualidade de carne devem ter como ênfase mais do que a oferta de produtos seguros, nutritivos e saborosos, devem também ter compromissos com a produção sustentável e a promoção do bem-estar animal e humano, assegurando satisfação do consumidor e renda ao produtor e a indústria.

Programas de qualidade de carne devem ter como ênfase mais do que a oferta de produtos seguros, nutritivos e saborosos, devem também ter compromissos com a produção sustentável e a promoção do bem-estar animal e humano, assegurando satisfação do consumidor e renda ao produtor e a indústria (Paranhos da Costa, 2002).

O manejo pré-abate, por envolver uma série de situações não familiares aos animais, causa estresse aos mesmos. Em geral, é comum a utilização de ferrões e choque elétrico na condução dos animais, o que provoca estresse e aumenta o risco de acidentes, tanto com os animais quanto com as pessoas que realizam o manejo.

Este tipo de manejo, agressivo, leva a perdas quantitativas e qualitativas da carne. As perdas quantitativas são diretamente associadas a ocorrência de contusões (hematomas) e de abscessos, que causam prejuízos diretos ao produtor (com conseqüente queda no rendimento das carcaças) e ao frigorífico, pois muitas dessas contusões são percebidas apenas durante o processo de desossa. Há ainda o risco de que esses problemas sejam detectados na mesa do consumidor, o que é muito grave, pois resulta na depreciação da imagem do produto “carne”.

Neste artigo tratamos das perdas que são detectadas durante o processo de desossa, com foco na ocorrência de contusões e de abscessos (decorrentes da injeção de medicamentos e vacinas). Estas perdas são de extrema relevância, pois podem afetar a classificação e, conseqüentemente, o valor atribuído ao produto. (Faucitano, 2001).

As contusões podem ser provocadas por diversos fatores, dentre eles: o estresse (que pode resultar em aumento da pressão arterial, causando rompimento de vasos debilitados), uso de choque elétrico no manejo, e a mistura de animais que nunca conviveram juntos (Grandin, 1996; FAO, 2004). Os abscessos podem ser decorrentes do tipo de produto injetado, das condições de higiene e da qualidade do manejo durante a aplicação do produto.

Para medir as perdas com contusões e abscessos foi realizada um diagnóstico das causas de desclassificação de peças de contra-filé e coxão mole na desossa. Para tanto foram avaliadas peças originárias de animais de diversas propriedades, variando também distância de transporte, sexo e raça.

As classificações foram definidas com base nas exigências do mercado e nas condições de cada peça avaliada, definindo as peças como de primeira ou de segunda linha. As peças avaliadas como de primeira linha estavam dentro do padrão exigido pelo mercado, atendendo as exigências para exportação. As peças avaliadas como de segunda linha apresentaram algum tipo de problema, dentre eles: acabamento, marmorização, cor, abscesso e contusão, sendo estes últimos o foco da quantificação realizada neste estudo.

As porcentagens de peças de contra-filé e coxão mole classificadas como de primeira e segunda linha são apresentadas na Figura 1. As contusões e abscessos foram responsáveis por porcentagem expressiva dessas perdas (Figura 2).

Contusões e abscessos somados resultaram na desclassificação de 3,84% do total de peças avaliadas. Estima-se uma perda de receita da ordem de 1,1% no contra-filé e 1,7% no coxão mole, uma vez que há redução no valor das peças desclassificadas de aproximadamente 27% e 17% para contra-filé e coxão mole, respectivamente.

Contusões e abscessos são defeitos que podem ser minimizados com a aplicação de técnicas de manejo racional. Isso evidencia a necessidade de treinamento de mão-de-obra para o manejo do gado, assegurando melhores condições de vida para os animais e conseqüente redução de perdas econômicas.

Figura 1. Porcentagem de peças de contra-filé e coxão mole classificadas como de primeira e de segunda linha

Figura 2. Proporção de peças de contra-filé e de coxão mole classificadas como de segunda linha


Bibliografia

Ciocca, J. R. Avaliação da depreciação na classificação de cortes na desossa: estudo de caso, Anais da 42ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Goiânia-GO, 2005.

Faucitano, L. Causes of skin damage to pig carcasses. Canadian Journal of Animal Science vol. 81 (1): p 39-45, 2001.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1994, Disponível em: Acesso em: 04-04-2005.

Grandin, T. El bienestar animal en las plantas de faena. American Association of Bovine Practitioners, Proceedings, p 22-26, 1996.

Paranhos da Costa, M. J. R. Ambiência e qualidade de carne. In: L.A. Josahkian (ed.) Anais do 5º Congresso das Raças Zebuínas, ABCZ: Uberaba-MG pp. 170-174, 2002.

0 Comments

  1. Carlos Henrique disse:

    O criador desse site está de parabéns, pois ele consegue solucionar problemas que surgem durante meu curso que é zootecnia na faculdade Upis em Brasília-DF e cada dia me deixa mais feliz por ver que tudo que estudo tem respaldo na página. Felicidades e um abraço a todos!

  2. André Gusmão da Silva disse:

    Realmente é um assunto de suma importância a questão de manejo para obter uma carne de boa qualidade.

    Eu, como Médico Veterinário e técnico atuante, me vejo numa situação quase que por vencido pelo esgotamento de argumentos para mudarmos essa situação perante a grande maioria de clientes. O pecuarista ainda alimenta a idéia de que o seu produto vale o que pesa, talvez tenha parte da razão, e não o que tem de qualidade.

    A pecuária ainda tem lembranças extrativistas, pelo fato de depararmos com sistemas de produção totalmente desorganizados quanto qualificação de mão-de-obra, melhoramento do rebanho e adoção de manejos modernos. Talvez seja por conseqüência do próprio negócio, baixa rentabilidade. Não podemos esquecer que é ainda um dos investimentos mais seguros do mercado e de tradições.

    Estou apostando no novo Sisbov para mudarmos essa situação.

    O pecuarista terá que se profissionalizar e contratar técnicos competentes para administrar seu negócio,deixarem de ser meros proprietários rurais e passarem a ser “executivos rurais”. Assim poderá sair do sistema extrativista para um sistema de produção tecnificado.

    A mudança é apenas de consciência e conceito!

  3. Rodrigo Bisco Ward disse:

    Levando em conta que quantidade nunca foi sinônimo de qualidade, cada vez mais os pecuaristas organizados e de visão estão percebendo que só tem a ganhar adotando um manejo adequado, pois os grupos frigoríficos estão investindo pesado em qualidade, e cobrando de seus fornecedores um produto de boa qualidade.

  4. Phillipe Mafra Batista disse:

    A produção animal, em seu primeiro tópico já ressalta o bem estar animal. Buscar a produtividade é o que todos produtores visam, mas esquecem que para se atingir esse ponto deve-se tratar bem o animal, visando sua produtividade!

  5. Phillipe Mafra Batista disse:

    Excelente artigo. A produção animal esta totalmente associada ao bem estar animal, onde para se buscar a máxima produção deve se tratar bem o animal.

    O produtor deve acompanhar seu gado não somente dentro da porteira como sua nutrição e saúde, mas também fora da porteira como no transporte até o abate onde as perdas de seu produto são maiores.

  6. João Alberto Haag Luiz disse:

    Estas perdas poderão ser minimizadas quando o produtor sentir no bolso. Se o pecuarista for melhor remunerado por entregar, ao frigorífico, um bom produto: Animal bem cuidado (com bom manejo nutricional e sanitário), com couro sem marcas de lesões e carne sem traumatismos, poderá investir em treinamento dos funcionários, melhorias das instalações. Mas tem que haver um programa integrado entre frigorífico, pecuarista e transportador.

    Em Bagé(RS), o Dr. Rafael Renner (Frigorífico Mercosul)está fazendo um trabalho muito interessante avaliando as carcaças no frigorífico. Ele fotografa aquelas que apresentam lesões. Depois ele mostra aos produtores as imagens e analisa com eles sobre as perdas econômicas.

    Atenciosamente,

  7. Alan Nangi dos Santos disse:

    Tema bastante atual esse artigo, enfatiza a necessidade cada vez maior de melhorar a qualidade do produto entregue ao frigorifico, frisando bem “produto” e não “matéria-prima” como a maioria das empresas frigorificas teimam em classificar o boi gordo.