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Falta de habilidade digital é gargalo no uso de tecnologias na zona rural latina, diz estudo

O simples acesso à internet não será suficiente para prover às populações da zona rural da América Latina e do Caribe condições de usufruir dos benefícios da tecnologia no campo. É o que indica estudo do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), da Microsoft e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Divulgado hoje, o estudo “Habilidades Digitais no Meio Rural” trata da importância de educar essas populações sobre o uso de tecnologia.

Em pesquisa conduzida em 2017 com o público da América Latina e do Caribe, o IICA verificou que conhecimentos básicos de informática entre a população urbana e rural diferem de forma considerável. Copiar ou mover um arquivo de uma pasta no computador, por exemplo, é uma prática dominada por 31,7% dos entrevistados na zona urbana e apenas 17% na zona rural. Quanto ao envio de mensagens de e-mail com arquivos anexos, os percentuais foram de 30,5% e 14%, respectivamente. Sobre a busca e instalação de programas, o resutlado foi 21,3% contra 10%. Conexão de dispositivos eletrônicos, 19,5% versus 7,7%.

O estudo informa que, de acordo com uma pesquisa do Google, de 2019 — intitulada “Os velocistas digitais: impulsionando o crescimento em mercados emergentes” (tradução livre) —, os países emergentes não vão participar da economia digital global a menos que sua mão de obra tenha qualificação nesse sentido. Segundo o Google, em uma escala de 0 a 6 para as habilidades digitais da população, países como Brasil (3,1), África do Sul (3,3), Peru (3,4) e Colômbia (3,8) ainda figuram com notas baixas em relação a Israel (5,5) e Arábia Saudita (5,3), que lideram o ranking. Na América Latina, Argentina (4) e Chile (4,3) são os mais bem posicionados.

Para evoluir nessa agenda, a prioridade apontada são investimentos em educação. O manuseio de dispositivos digitais, frisa o estudo, exige alfabetização, leitura e escrita fluentes, além de conhecimentos matemáticos básicos. A falta de oportunidades educacionais limita o aproveitamento das tecnologias, atesta a socióloga Sandra Ziegler, autora do estudo. Entre a população adulta e rural da região, apenas pouco mais de 2 em cada 10 habitantes concluiu o ensino secundário, ou seja, oferecido aos adolescentes, segundo dados da Unesco de 2018. No Brasil, enquanto a população urbana passava em média 9,8 anos na escola em 2018, a rural frequentava o colégio por 5,8 anos.

“A falta de habilidades digitais é uma grande limitação entre quem manifesta não empregar novas tecnologias (além de razões de infraestrutura e custo), pesando também o desconhecimento até da existência dessas ferramentas”, diz o estudo.

Para educar mais pessoas sobre o uso de tecnologias no campo, as pontes mais comuns têm sido: fortalecimento comunitário; contato com o comércio eletrônico de bens agropecuários; formação de pessoas na indústria 4.0 tendo em vista o aumento da empregabilidade; uso de ferramentas inteligentes nas fazendas; ações de consultorias especializadas e maratonas de desenvolvimento de soluções específicas para o meio rural (“hackatons”).

Com base em estudos anteriores, o novo levantamento aponta que fica evidente o maior acesso à internet quanto maior a escolaridade do público; que é mais prematuro o acesso masculino a ferramentas digitais do que feminino; que a juventude cumpre papel fundamental no fomento a novas tecnologias no campo, e também as escolas.

No caso da conectividade, trabalho anterior do IICA, apresentado no ano passado, já havia concluído que 77 milhões de habitantes das áreas rurais dos 24 países da América Latina e do Caribe não têm acesso à internet com padrões mínimos de qualidade para acessar serviços de educação ou medicina. Isto significa que apenas 36,8% da zona rural da região está conectada, ante 71% da população urbana.

Em 2020, a empresa de pesquisa After Access apontou que a população rural da América Latina não usava internet por três fatores principais: falta de conhecimento sobre como fazer uso (37,6%), falta de conhecimento sobre do que se tratava (26,2%) e, em terceiro lugar, falta de acesso a um dispositivo (13,5%). Na sequência apareciam: falta de interesse (12,4%), custo (3,8%), falta de tempo (3,8%), indisponibilidade (1,8%), além de questões de privacidade e ausência de referência entre amigos.

Fonte: Valor Econômico.

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