Mudando para níveis não registrados desde o início dos anos noventa, o índice internacional de preços da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization – FAO) atingiu a média de 102 pontos em 2004, mais do que a média de 2003, que foi de 90 pontos. As pressões no começo do ano resultaram de preocupações referentes a doenças animais e sanidade alimentar que limitaram a oferta exportável de alguns dos principais mercados da Ásia, afetados tanto pela influenza aviária e da América do Norte, como pela Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). À medida que os mercados se abriram gradualmente durante o curso do ano, os preços internacionais das carnes, particularmente de frango e carne bovina, apresentaram uma certa baixa; entretanto, o preço médio da carne bovina aumentou 14% com relação ao ano anterior.
Índice mensal de preços de carnes (1990-92=100)1
Em 2004, os mercados globais de carnes foram caracterizados por uma considerável instabilidade, à medida que as doenças animais levaram os governos a adotar políticas para proteger seus setores de produção animal, incluindo barreiras de importação, medidas mais rígidas de controle sanitário na fronteira e regulamentações domésticas mais fortes. Com um crescimento de 2% na produção global, o amplo fechamento de mercados levou a uma queda estimada de 1% no comércio global de carnes, o primeiro declínio desde o meio dos anos oitenta. Os surtos de doenças animais, combinados com os movimentos nas taxas de câmbio, estimularam uma significante substituição nos padrões comerciais que favoreceram o aumento do comércio de carnes pela América do Sul.
Em 2005, espera-se certa recuperação no consumo, à medida que os mercados forem se reabrindo e os fornecimentos de carnes exportáveis aumentando, levando a uma potencial redução dos preços de algumas carnes. Entretanto, a previsão para o mercado de carnes em 2005 ainda será bastante influenciada pelo status das preocupações referentes à segurança alimentar devido à EEB e à influenza aviária, levando a mudanças nas taxas de câmbio, produção e desenvolvimentos de políticas comerciais. Em particular, a previsão comercial dependerá da resolução satisfatória de alguns impasses comerciais atuais, que incluem: administração de cotas pela Rússia; regulamentações de risco mínimo pelos EUA, que influenciará o comércio de bovinos na fronteira entre os EUA e o Canadá; e estrutura de regulamentação para a retomada do comércio de carne bovina entre os EUA e o Japão.
Estatísticas mundiais sobre carnes
Apoiados pelos fortes preços das carnes e pelos fracos preços dos alimentos animais, que estão mais de 20% menores do que os níveis do início de 2004, a produção global de carnes deverá aumentar 2,8% em 2005, para 264,7 milhões de toneladas. Enquanto as ofertas de carnes estão projetadas para crescer tanto nos países desenvolvidos como nos em desenvolvimento, cerca de 80% do aumento de 7,2 mil toneladas na produção em 2005 deverão ocorrer nos países em desenvolvimento, principalmente concentrados na Ásia, que representam mais de 40% da produção global de carnes. A participação dos países em desenvolvimento na produção global de carnes deverá aumentar, atingindo 58%, mais que os 43% do início dos anos noventa.
A carne bovina deverá apresentar o maior ganho na produção em 2005, com aumento de 3,1% para 63,5 milhões de toneladas. Este aumento, após a estagnação do crescimento em 2004, é esperado apesar dos estoques baixos em níveis recordes dos países desenvolvidos. Apesar de o número de bovinos permanecer reduzido na América do Norte e na Austrália, os fortes preços deverão estimular uma leve recuperação em seu abate e produção de carne bovina, enquanto a produção na União Européia (UE) deverá declinar devido à reforma da Política Agrícola Comum (PAC) que reduzirá os pagamentos aos produtores. Isso, entretanto, poderá ser parcialmente compensado pela retirada gradativa proposta pela UE do esquema de mais de trinta meses (Over Thirty Months Scheme – OTMS) – proibição da entrada de quaisquer produtos provenientes de bovinos com idade superior a 30 meses em qualquer alimento ou cadeia alimentar – no Reino Unido, o que poderá expandir a produção total em mais de 185 mil toneladas.
Após dois anos de crescimento limitado, o consumo per capita de carnes deverá atingir 41,7 quilos em 2005, apoiado por um crescimento econômico relativamente forte e por uma recuperação na confiança dos consumidores, particularmente nos países em desenvolvimento. Entretanto, existe uma incerteza considerável relacionada às previsões de consumo de carne na Ásia devido à confirmação do primeiro caso da variante humana da doença da ‘vaca louca’ no Japão (variante da doença de Creutzfeldt-Jakob – vCJD).
Comércio deverá se recuperar após primeiro declínio em 25 anos ocorrido em 2004
As previsões para recuperação no consumo de carnes, combinadas com o aumento no acesso a mercados à medida que alguns países gradualmente reabrem suas fronteiras tanto para a carne bovina da América do Norte como para alguns produtos termicamente tratados da Ásia, deverão dar suporte ao comércio global de carnes em 2005. O comércio de carnes deverá crescer 4% para 20,1 milhões de toneladas, após um declínio de 1% em 2004. De forma geral, o intenso impacto no mercado das doenças animais continuará acelerando as mudanças nas participações dos mercados de exportação em direção à América do Sul. Em particular, a contínua suspensão dos produtos de carne bovina da América do Norte (devido à EEB) e aos produtos de frango dos países afetados pela influenza aviária, deverão apoiar essa mudança.
A participação da América do Sul nas exportações de carnes em 2004, após a expansão de 29% (37% de carne bovina e 35% de frango), deverá aumentar um ponto percentual adicional. O Brasil, que representou 24% das exportações globais de carnes em 2004, deverá manter sua posição como maior exportador de carnes, tomando a liderança no setor de carne bovina e competindo com os EUA como o maior exportador de carne de frango.
Apesar da oferta mais reduzida nos países desenvolvidos e das expectativas de continuação da barreira à importação de carne bovina dos EUA pelo Japão, as exportações em 2005 deverão aumentar 5% para 6,3 milhões de toneladas. A maior demanda deverá ser da UE, México, República da Coréia e EUA. Os EUA deverão ser o maior importador de carne bovina do mundo, com mais rápido desenvolvimento, representando quase metade do aumento de 1,3 milhão de toneladas nas importações desde o meio da década de noventa. Apesar de eles serem responsáveis por um quarto das importações globais em 2004 e 2005, são tradicionalmente também o segundo maior exportador, apesar de suas exportações em 2005 estarem a níveis muito baixos, próximos ao recorde, na ausência de um acordo com o Japão no que se refere à idade dos bovinos cuja carne pode ser exportada pelos EUA.
A contínua ausência de competição dos EUA em mercados chave em 2005 deverá, da mesma forma, fortalecer as exportações da Austrália, América do Sul e exportadores menores, como Índia e Nicarágua. Ao mesmo tempo, os altos preços na UE, combinados com um fortalecimento da moeda e com as restritas cotas da Rússia, seu principal mercado, não somente impedirão qualquer recuperação nas exportações, mas também, expandirão sua posição como importador líquido.
A participação dos países em desenvolvimento nas exportações deverá atingir 48% em 2005, quase o dobro da do ano 2000. Entretanto, o aumento projetado nas exportações de 8% é significantemente menor do que o crescimento médio de quase 25% ocorrido nos últimos três anos.
Preços internacionais de carnes
Fonte: Food Outlook, No. 1, Abril de 2005, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization – FAO), adaptado por Equipe BeefPoint