Apesar das melhores previsões econômicas em 2010, o setor de carne bovina pode se manter sob pressão, com a previsão preliminar da produção global sendo de uma leve queda para 64 milhões de toneladas. A previsão para o comércio global de carne bovina em 2010 é levemente mais positiva. De forma geral, as exportações de carne bovina mundiais poderão se recuperar em 2%, para 6,8 milhões de toneladas. De fato, o comércio no próximo ano deverá ser contraído pela menor disponibilidade em vários dos principais mercados fornecedores. Grande parte desse aumento provavelmente dependerá do Brasil.
De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre previsões para o mercado de carnes, a recessão econômica desencadeada pela crise financeira no meio de 2008 teve um impacto severo no setor de carnes em 2009, apesar de um declínio nos preços dos principais ingredientes da dieta animal. De acordo com isso, a FAO revisou para baixo suas estimativas de produção mundial de carnes em 2009 para 282 milhões de toneladas, que é levemente a mais do que o nível de 2008.
O comércio global de carnes também foi muito afetado pelo ambiente econômico desfavorável e agora deverá cair em 6%, para 23,1 milhões de toneladas, com todos os mercados de carnes devendo se contrair.
O consumo per capita de carnes em 2009 está agora estimado em menos de 41,7 quilos, levemente menor que em 2008, com um pequeno aumento na Ásia, mas caindo a ingestão na maioria das outras regiões.
As previsões para o setor de carnes em 2010 são melhores, à medida que as principais economias estão retornando a um caminho positivo de crescimento. Os melhores retornos aos produtores deverão impulsionar a produção global de carnes para 286 milhões de toneladas. À medida que a demanda dos vários tipos de carnes se recupera, o comércio global deverá se recuperar em 2,5%, para 23,7 milhões de toneladas no próximo ano. Da mesma forma, o consumo per capita de carnes pode aumentar levemente em 2010, consistente com suas melhores previsões de renda.
Tabela 1. Mercados mundiais de carne
Carne Bovina
Produção
2009
A queda na demanda dos consumidores, as más condições das pastagens e o acesso mais difícil ao crédito prejudicaram seriamente o setor de carne bovina no principais países produtores em 2009. Como resultado disso, as previsões iniciais para uma produção estável de carne bovina mundialmente em 2009 provavelmente não se materializarão. Ao invés disso, a produção deverá cair pelo segundo ano consecutivo, para 64,4 milhões de toneladas, principalmente devido à queda na Austrália, Brasil, China, União Europeia (UE), Rússia, Ucrânia e Estados Unidos.
A produção de carne bovina na América do Norte deverá declinar em 2,5% em 2009, para 13,1 milhões de toneladas, refletindo uma contração nos Estados Unidos. Na primeira metade de 2009, as colocações em estabelecimentos de engorda no país caíram para o nível mais baixo dos últimos dez anos à medida que os preços da dieta animal continuaram altos com relação à carne. Apesar de as colocações em confinamentos terem aumentado na segunda metade de 2009, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ainda mantém sua previsão de queda de 3% na produção. A produção de carne bovina no Canadá deverá se manter sem mudanças, em 1,3 milhão de toneladas.
A produção de carne bovina na América do Sul deverá cair em quase 2%, para 14,4 milhões de toneladas. A maior parte do declínio deverá surgir de uma contração esperada de 3% no Brasil, por causa da situação financeira difícil dos frigoríficos que reduziram os abates, principalmente devido à queda nas exportações à UE e à Rússia.
Na Argentina e no Uruguai, a baixa lucratividade e a seca tiveram grandes influências nos setores de carne bovina. Especialmente na Argentina, essas condições levaram os produtores a liquidar seus rebanhos, mas devido às más condições dos animais, a produção total deverá permanecer na ordem de 3,1 milhões de toneladas. No Uruguai, os números de abates não mudaram com relação a 2008, mas uma participação relativamente grande de animais abatidos correspondeu a vacas e novilhas. Os menores pesos das carcaças deverão direcionar a produção para baixo esse ano, para 520.000 toneladas. Na Colômbia, a produção deverá permanecer sem mudanças em 2009, em 900.000 toneladas após cinco anos de expansão.
Na Oceania, a produção agregada de carne bovina está provisoriamente estimada em 2,81 milhões de toneladas, ou um leve decréscimo. Na Austrália, as chuvas abundantes em setembro e outubro trouxeram algum alívio após três anos consecutivos de seca, mas vieram tarde demais para compensar os danos iniciais. Como resultado disso, a produção de carne bovina deverá cair em 2,5%. Na Nova Zelândia, as más condições das pastagens e os baixos retornos com leite induziram abates e liquidação de rebanhos leiteiros, o que limitou o declínio na produção de carne bovina esse ano.
Na Europa, a produção em 2009 na UE está estimada em 7,9 milhões de toneladas, que representa uma queda de 1,1% à medida que o setor foi afetado pela crise financeira. Os baixos preços do gado e as pressões no fluxo de caixa estão por trás dos menores pesos das carcaças e números de abates, comparado com 2008. Na Rússia, a produção de carne bovina deverá cair em 3%, apesar da atual liquidação do rebanho, que sugere que a produtividade caiu substancialmente esse ano.
Na Ásia, a produção de carne bovina deverá cair marginalmente em 2009, para 16 milhões de toneladas, à medida que os declínios na China foram bastante afetados por ganhos moderados na Índia e no Paquistão. Na China, a produção deverá cair em 6%, marcando o terceiro ano consecutivo de declínios. Por outro lado, na Índia, a produção deverá crescer em cerca de 5%. A carne bovina não é consumida na Índia, mas a produção de carne de búfalo, um subproduto da indústria leiteira, deverá expandir somente de forma modesta em 2009 devido à estação de monções menos satisfatória. No Paquistão, entretanto, a produção deverá crescer mais rápido, em 5%, após condições de bom clima e pastagens.
Na África, a produção de carne bovina deverá aumentar em 2%, chegando a 4,86 milhões de toneladas. Na África Ocidental, o gado tem sido afetado pelas persistentes condições de seca em vários países, notavelmente em Chade, Mali e Níger, onde foram reportadas mortes de gado. Na África Oriental, a escassez de pastagens adequadas e água levaram a importantes perdas e pioraram as condições do gado em regiões pastoris da Etiópia, Quênia, Sudão e Tanzânia, com um impacto negativo na renda dos produtores e em sua capacidade de ter acesso a alimentos importantes. As taxas de reprodução dos animais têm sofrido com estações fracas de chuvas sucessivas desde 2007, tornando a recuperação agropastoril e os sistemas pastoris de sustento mais difíceis e ameaçando a segurança alimentar em longo prazo.
2010
Apesar das melhores previsões econômicas em 2010, o setor de carne bovina pode se manter sob pressão, com a previsão preliminar da produção global sendo de uma leve queda para 64 milhões de toneladas.
As previsões são negativas para o Canadá e os Estados Unidos, refletindo os menores estoques de gado bovino.
Na América do Sul, a produção na Argentina e no Uruguai poderá ser menor pelas perdas ocorridas em 2009. Entretanto, o Brasil, onde os rebanhos não têm diminuído, está em boa posição para expandir a produção.
A produção na Oceania deverá se recuperar apenas parcialmente em 2010, sustentada por modestos ganhos na Austrália, enquanto o crescimento será reduzido na Nova Zelândia, à medida que os produtores estão esperando aproveitar as melhores pastagens para reconstruir seus rebanhos.
Na Rússia, o rebanho bovino nacional em setembro de 2009 estava 2,3% menor, o que deverá resultar em uma redução de 1% na produção no próximo ano. A previsão para a Ásia em 2010 é de nova queda, refletindo as expectativas de uma maior contração na China, à medida que os menores retornos deverão desestimular a produção, especialmente entre produtores e menor escala. Por outro lado, o crescimento na Índia e Paquistão deverá permanecer na ordem de 5%.
Comércio
2009
As exportações mundiais de carne bovina em 2009 deverão cair, com as previsões atuais sendo de queda de 4,5%, para 6,7 milhões de toneladas. Grande parte do declínio nas exportações globais reflete as más previsões no Brasil, o maior exportador mundial, onde as vendas estão provisoriamente estimadas a cair em 14%, refletindo os menores preços mundiais, o forte valor do Real e, até começo de 2009, a baixa demanda em mercados tradicionais, incluindo UE e Rússia.
As exportações de carne bovina da Austrália, totalizando 1,27 milhão de toneladas, também enfrentaram dificuldades em 2009, com a menor demanda do Japão e maior competição com Brasil e Estados Unidos.
As previsões de exportações de carne bovina dos Estados Unidos em 2009 foram revisadas para baixo e essas deverão cair em 8%, para 700.000 toneladas, à medida que maiores exportações aos países da Ásia foram mais do que compensadas por um forte declínio nas vendas ao México.
Em contraste, as exportações da Argentina deverão aumentar em quase 33% com relação ao baixo nível de 2008, principalmente refletindo as concessões por parte do Governo do país de maiores autorizações para exportar.
As más condições econômicas deverão reduzir severamente as importações de carne bovina em 2009 em vários dos principais mercados, em particular, Egito, México, Coreia, Rússia e Venezuela. Apesar de que parte das reduções deverem ser compensadas pelo aumento nas entregas à América do Norte e Hong Kong, isso provavelmente não será suficiente para evitar a queda nas importações mundiais.
2010
A previsão para o comércio global de carne bovina em 2010 é levemente mais positiva. De forma geral, as exportações de carne bovina mundiais poderão se recuperar em 2%, para 6,8 milhões de toneladas, ainda pouco perto das 7 milhões de toneladas comercializadas entre 2006 e 2008.
De fato, o comércio no próximo ano deverá ser contraído pela menor disponibilidade em vários dos principais mercados fornecedores. Grande parte desse aumento provavelmente dependerá do Brasil, onde o amplo número de animais deverá permitir que os produtores respondam positivamente às melhores condições de preços aumentando os abates e as exportações.
A recuperação na demanda mundial de importações também poderá aumentar as exportações do Canadá, Paraguai, Estados Unidos e Uruguai. Em contraste, as exportações da Austrália poderão cair mais, contraídas pela menor produção, à medida que os produtores tradicionalmente reconstroem seus rebanhos após a seca. Os menores estoques também deverão reduzir as exportações da Argentina.
Quanto às importações mundiais de carne bovina em 2010, a recuperação econômica global deverá aumentar a demanda dos consumidores e as importações no Canadá, México, Estados Unidos e Vietnã. As compras poderão também se recuperar na Rússia.
Preços
Os preços internacionais da carne bovina, expressos em dólares dos Estados Unidos, caíram em 2009. Eles caíram consistentemente na segunda metade de 2008 e primeiro trimestre de 2009. Desde então, eles se estabilizaram em 18% a menos que os níveis médios de 2008.
Apesar da desvalorização do dólar norte-americano, os preços de exportação na Argentina caíram pela metade durante o ano. Os preços da carne bovina deverão apresentar algum ganho moderado em 2010, à medida que a oferta pode não acompanhar a maior demanda de compra com a melhora na economia mundial.
As informações são da FAO (http://www.fao.org/docrep/012/ak341e/ak341e09.htm), traduzidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.
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Parabéns à equipe por nos trazer informações muito valiosas.É muito importante para as tomadas de decisões do setor pecuarista, sobretudo num momento de expectativas positivas, é crucial para o pecuarista informações deste calibre, para que suas atividades sejam baseadas em dados de instituições competentes.