Fechamento 11:55 – 18/10/01
18 de outubro de 2001
Aumento na arroba do boi
22 de outubro de 2001

Fatores antinutricionais da casca e polpa de café

Os ruminantes apresentam algumas diferenças na sua nutrição em relação aos monogástricos, devido à anatomia de seu trato digestivo e da atuação de microrganismos no rúmen, que permitem a absorção de nutrientes a partir alimentos fibrosos com altos níveis de celulose. Devido a essas peculiaridades, o nutricionista deve se preocupar não somente com as exigências dos animais, mas também com as condições do ambiente ruminal que irão afetar a atividade dos microrganismos aí presentes. As características dos alimentos são muito importantes para o ambiente ruminal, sendo que a presença de substâncias antinutricionais devem ser cuidadosamente verificadas pois poderão afetar o metabolismo ruminal.

A utilização de casca e de polpa de café são recomendadas em até 30% e 40% do concentrado, respectivamente, para vacas em lactação e novilhos confinados (até 16 % da MS da dieta), (BARCELOS et al. 2001). Os estudos sobre polpa e casca de café foram desenvolvidos por diversos pesquisadores, que mostraram a presença de alguns componentes que poderiam comprometer a sua utilização na nutrição de ruminantes. Substâncias como os taninos e a cafeína foram encontradas nas concentrações de 2,08 e 0,97%, respectivamente, (RIBEIRO FILHO 1998) citado por BARCELOS, et al. (2001).

Altas concentrações de taninos nos alimentos, levam à diminuição da degradação ruminal, possivelmente devido à ligação cruzada de proteínas e outras moléculas. Devido a essa característica, o tanino pode ser utilizado como proteção da degradação protéica no rúmen, levando a formação de “proteína by-pass”.

O grão de café tem também altas concentrações de ácidos clorogênicos e compostos fenólicos, que são encontrados na parede secundária das gramíneas, em aproximadamente 1%. Esses compostos fenólicos inibem o crescimento de certas bactérias no rúmen, inibindo a digestão da celulose.

VARGAS et al. (1982) estudaram o efeito da cafeína e do tanino presente na polpa desidratada de café, e observaram que ambas as substâncias levaram a queda de consumo e ganho de peso de novilhos.

Segundo BARCELOS et al. (2001), os níveis de cafeína aumentaram e os de tanino diminuíram na casca e polpa de três cultivares de café quando armazenados por um período de 12 meses. Utilizou-se nesse experimento os cultivares Catuaí, Rubi e Mundo Novo. Amostras foram retiradas a cada três meses durante o período de armazenamento para análise bromatológica e determinação das quantidades de cafeína e tanino (% da MS) na casca e polpa desidratada das três cultivares (tabela 1).

Tabela 1. Teores médios de cafeína da casca e polpa de café (% MS)


Fonte: Barcelos et al. 2001

Os teores de tanino apresentaram uma diminuição ao longo do período de armazenamento, levando a uma melhora na qualidade nutritiva do material. Os valores de tanino (%MS) foram, ao final de 12 meses, de 1,70% comparado a 2,77% nos materiais sem armazenamento.

Barcelos et al. (2001) avaliaram também os valores de lignina e sílica. Os teores médios de liginina na MS e na fibra em detergente neutro (FDN) apresentaram uma redução de 2,6% e 5,8% respectivamente (tabela2). A liginina é uma substância fenólica, que faz parte da composição da parede celular das plantas. O processo de lignificação dos polissacarídeos da parede, basicamente celulose, vai indisponibilizar esse polissacarídeo ao ataque bacteriano. A porosidade da parede celular lignificada não permite a difusão de enzimas, principalmente as celulolíticas, impedindo a ação dessas enzimas sobre a superfície celular. Portanto, alimentos com altos teores de liginina, estão com seus carboidratos da parede celular indisponíveis para digestão microbiana e conseqüente utilização pelos ruminantes.

Os teores de sílica não diminuíram durante o período de armazenamento, sendo em média de 1,71% (MS) na casca e 1,57% (MS) na polpa. A sílica é depositada nos pêlos superficiais das plantas e bordas cuticulares como mecanismo de defesa em certas plantas. Em outras, é um elemento estrutural complementando a lignina para fortalecer e enrijecer a parede celular. Isto influencia o metabolismo de carboidratos, reduzindo os conteúdos de proteína e lignina. Os teores de sílica encontrados são baixos, porém somados a taninos, lignina e cafeína poderão interferir na utilização de alguns alimentos pelos ruminantes.

O armazenamento da casca e da polpa de café por um período de 12 meses proporcionou uma melhora na qualidade nutritiva desse material, já que houve redução nos teores de tanino e lignina em todas as cultivares. Os teores de sílica foram semelhantes entre os cultivares e não se alteraram durante o período de armazenamento.

Referências Bibliográficas:

BARCELOS, A.F.; PAIVA, P.C.A.; PÉREZ, J.R.O.; DOS SANTOS, V.B. Fatores antinutricionais da casca e polpa desidratada de café (Coffea arabica L.) armazenadas em diferentes períodos.

VARGAS, E.; CABEZAS, M.T.; MURILO, B.; BRAHAM, E.J. BRESSANI, R. Effecto de altos niveles de pulpa de café deshidratada sobre el crescimento y adaptación de novillos jovenes.Archivos Latinoamericanos de Nutricion, v. 32(4), p. 972-989.

0 Comments

  1. Orlando Rebello Neto disse:

    Boa Tarde! apesar de ser leigo ainda na area achei o artigo muito interessante com otimas infomações, tanto que foi uma das minhas referencias na realização de um seminario de nutrição animal na faculdade.