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22 de abril de 2002

Fatores nutricionais relacionados à gestação em fêmeas de corte

Após a concepção, várias alterações metabólicas acontecem no organismo animal. Essas mudanças ocorrem em resposta aos estímulos hormonais, e influenciam diretamente o metabolismo energético e protéico de fêmeas prenhes.

Os tecidos viscerais representam aproximadamente 6% do peso do corpo vazio em bovinos, porém são responsáveis por 41% do gasto energético do animal. Nas fêmeas prenhes o gasto energético diário sobe de 644 Kcal/dia, no início da gestação, para 3572 Kcal/dia no terço final (Ferrel et al. 1976). Acredita-se que o aumento no custo energético relacionado à gestação é devido principalmente ao aumento dos batimentos cardíacos, funções renais e hepáticas. Para suprir o aumento da demanda energética, o animal aumenta a ingestão, diminui a mantença e a perda de energia nas excreções.

Scheaffer et al. (2001) avaliaram o impacto da concepção e avanço da gestação sobre peso corporal, fermentação ruminal e tamanho de vísceras em fêmeas de corte. A avaliação foi feita em 100 animais de aproximadamente 2 anos de idade e peso aproximado de 378 kg. As fêmeas foram confinadas, sendo arraçoadas com ração para ganhos de 0,45 kg/dia. Os cios foram observados através da utilização de machos com buçal marcador, e, assim que detectado cio, as fêmeas eram colocadas junto com touros aprovados em exames andrológicos.

Após o período de cobertura, as fêmeas foram separadas e a gestação diagnosticada através de palpação retal ou retorno ao cio. Posteriormente, as fêmeas foram agrupadas aleatoriamente de acordo com os dias após a concepção e abatidas com 40, 120, 200 e 270 dias de gestação. Da mesma forma, fêmeas vazias foram abatidas nos mesmos períodos para comparação.

Os autores não observaram diferença na ingestão de matéria seca para fêmeas gestantes e não gestantes. Em relação ao enchimento ruminal, os valores observados foram maiores para fêmeas prenhes aos 40 dias, diminuindo significativamente com o decorrer da gestação, sendo maior para as fêmeas vazias aos 200 e 270 dias de avaliação (Tabela 1). A diminuição do enchimento ruminal está relacionada à porção líquida do conteúdo ruminal, pois a ingestão de matéria seca não se alterou. O menor enchimento ruminal no terço final da gestação está relacionado ao espaço ocupado pelo útero gravídico dentro da cavidade abdominal.

As fêmeas prenhes tiveram maior peso vivo final, como já era esperado, devido ao desenvolvimento fetal (Tabela 2). Para peso de carcaça e peso do corpo vazio, foi observada interação tempo x tratamento, sendo os maiores valores para as fêmeas prenhes no dia 200. O peso de carcaça tendeu a ser menor para as fêmeas prenhes no dia 270. A resposta em relação ao peso de carcaça foi quadrática para fêmeas vazias e cúbica para fêmeas prenhes. No entanto, quando comparados os rendimentos de carcaça, não foi observada interação tempo x tratamento, com maiores rendimentos para as fêmeas vazias. Os rendimentos de carcaça das fêmeas prenhes diminuíram linearmente em relação ao período de abate, indicando uma mobilização de reservas para atender aos requerimentos do desenvolvimento fetal e da glândula mamária.

Tabela 1. Ingestão de matéria seca e enchimento ruminal para fêmeas prenhes e vazias em diferentes fases.

O tamanho dos órgãos internos é de extrema importância em relação ao metabolismo energético, pelo fato desses órgãos utilizarem grande parte dessa energia. O peso do coração variou de forma diferente para fêmeas prenhes e vazias. Houve redução do peso do coração para as fêmeas vazias com o avançar do período de abate. Já as fêmeas prenhes apresentaram menor peso do coração no dia 120 e maior no dia 200. Essas alterações na massa do coração são devidas, provavelmente, ao aumento na demanda de nutrientes, forçando aumento no ritmo cardíaco (Tabela 2).

Não houve diferença no tamanho de fígado e rins em resposta à gestação. O intestino delgado mostrou grande plasticidade em relação ao plano nutricional, aumentando junto com o desenvolvimento da gestação (Tabela 2).

Tabela 2. Peso vivo, carcaça, corpo vazio, coração, fígado e rins de fêmeas prenhes e vazias em diferentes fases.

O peso de intestino delgado aumentou com o avanço do período de abate, devido ao aumento do duodeno. As porções do jejuno e íleo não apresentaram diferenças no peso em relação ao dia de abate. O aumento da massa de intestino delgado nas fêmeas prenhes está ligado tanto ao aumento de tamanho corporal, como ao avanço da gestação. Quando os valores de intestino delgado foram relacionados com o peso corporal, nenhuma diferença foi observada, evidenciando o fato do desenvolvimento do intestino delgado estar relacionado ao aumento do peso corporal.

O intestino grosso não apresentou alterações devido à gestação.

Ao redor de 50% do aumento da produção de calor em resposta a gestação é explicado pela presença do útero gravídico. As respostas em relação ao peso vivo e de carcaça indicam uma inversão no metabolismo, passando de anabolismo para catabolismo por volta do dia 100 de gestação.

Dentro da perspectiva de manejo nutricional para gestação, o ponto crítico a ser observado seria a fase de anabolismo no terço final da gestação.

Referências bibliográficas:

FERREL, C.L.; GARRET, W.N.; HINMAN, N.; GRITCHING, G. Energy utilization by pregnant and non pregnant heifers. J. Anim. Sci., v. 42, p. 937-950, 1976.

SCHEAFFER, A.N.; CATON, J.S.; BAUER, M.L.; REYNOLDS, L.P. Influencen of pregnancy on body weight, ruminal characteristics, and visceral organ mass in beef heifers. J. Anim. Sci., v. 79, p. 2481-2490, 2001.

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