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Fatores que influem na ingestão de forragens de animais a pasto

A nutrição animal apresenta diversos tópicos a ser considerados, quando tentamos adequar os nutrientes contidos na ração às exigências nutricionais dos animais. Muitos desses fatores foram estudados, através de observações, desmembrados e adequados às diversas situações. Porém, características como a ingestão ainda estão pouco “dominadas” pela ciência animal, devido aos diversos itens que vão influir nessa característica, tornando difícil a sua predição. Por ser o principal componente na dieta de animais a pasto, a predição da ingestão de forragens se torna essencial para programas de suplemetação ou adequação da lotação nas diferentes estações do ano.

A ingestão de forragens de animais a pasto apresenta grandes variações devido a fatores como: quantidade, qualidade e maturidade fisiológica da forragem, ambiente, suplementos, tamanho, condição corporal e aptidão animal. Normalmente, considera-se que um bovino em pastejo consome aproximadamente 2% do seu peso vivo (PV), e essa ingestão estaria relacionada à satisfação das necessidades em energia do animal. Porém, sabemos hoje que a necessidade de ingestão do animal só será limitada pela satisfação das exigências em energia, quando a disponibilidade e a qualidade da forragem forem adequadas.

Disponibilidade de forragem

A disponibilidade de forragem tem grande influência na ingestão de forragens, sendo necessários ajustes na capacidade de suporte das pastagens durante o ano, visando a maximização da ingestão pelos animais. Em alguns casos, o fornecimento de feno durante o período seco pode ser uma alternativa para melhora na ingestão total de forragens de animais a pasto. Deve-se levar em conta os custos de suplementação. A máxima ingestão poderá ser alcançada só com as pastagens, se as exigências em energia do animal estiverem sendo supridas através da mesma. Por outro lado, é necessário uma mínima quantidade de forragem disponível, para evitar que o animal gaste energia extra para conseguir atingir seus requerimentos em energia. Nesse mesmo sentido, algumas pesquisas mostraram que não somente a disponibilidade total e a altura da forragem, mas a quantidade de matéria verde influirão na ingestão.

O NRC considera que para maximizar a ingestão deve-se ter, no mínimo, 2300 kg de forragem disponível por hectare (forragens temperadas). Outro componente importante que influencia a ingestão de forragem de animais em pastejo é a disponibilidade de matéria seca por kg de peso vivo, normalmente expressa em percentagem do peso vivo. O valor recomendado para não limitar a ingestão está na ordem de 10%. Valores de um desses parâmetros abaixo dos indicados podem limitar a ingestão potencial do animal. Por exemplo, pode-se estimar que a diminuição da disponibilidade de forragem para 500 Kg/ha pode provocar uma queda de 60% na ingestão total de forragem. Portanto, nos períodos de menor disponibilidade de forragens (inverno) deve haver ajuste das lotações das pastagens visando maximizar a ingestão.

Qualidade da forragem disponível

A qualidade da forragem pode ser um bom preditor para a ingestão, quando a quantidade de forragem não é um fator limitante. A relação entre nutrientes digestíveis totais (NDT) e proteína bruta (PB), apresenta boa correlação com os valores de ingestão. Uma relação 7/1 entre NDT e PB é necessária para manter níveis de ingestão de aproximadamente 2% PV. Se os valores dessa relação chegarem acima de 7, ocorrerá queda nos valores de ingestão. Já se os valores da relação diminuírem abaixo de 7, ocorrerá pequeno aumento na ingestão.

De forma geral, a relação NDT/PB apresentará bons níveis de ingestão quando os níveis de PB estiverem no mínimo em 7%. Com o avanço da maturidade fisiológica, ocorrerá diminuição das quantidades de PB e da digestibilidade da forragem. A ingestão pode ser considerada função da digestão de fibra em ruminantes. Adequada digestão das fibras ocorre com dietas com no mínimo 7% de PB. Quando a dieta chega a níveis abaixo de 7% de PB, ocorrerá deficiência de proteína degradável no rúmen para manter a atividade da população microbiana capaz da digestão das fibras no rúmen. Nesses casos, pode-se lançar mão da suplementação protéica para correção da relação NDT/PB, estimulando o crescimento microbiano e, consequentemente, a digestão microbiana das fibras.

Uso de suplementos

O impacto dos suplementos sobre a ingestão vai depender do tipo de suplemento e da forragem utilizada. Suplementos normalmente são utilizados para estimular a ingestão de forragem e o desempenho de animais em pastejo. Em alguns casos, os suplementos também podem ser utilizados para diminuir a ingestão de forragens, e, consequentemente, manter o peso dos animais nos períodos de escassez forrageira. A quantidade de proteína no suplemento também influi na ingestão, aumentando ao redor de 15% com suplementos ao redor de 20-25% de PB, chegando próximo de 60% de aumento com suplementos de 30-40% de PB. O nível de resposta vai depender do nível de proteína da forragem ingerida.

Ambiente

A temperatura pode influir na ingestão quando a mesma passar a alterar o conforto térmico do animal. Temperaturas amenas tendem a aumentar o consumo, devido a maior motilidade ruminal e aumento da passagem da digesta. Já temperaturas elevadas tendem a diminuir a ingestão total de forragens.

Tamanho e condição corporal

Animais de maior tamanho corporal obviamente necessitam de uma maior quantidade de forragem para atingir suas necessidades, porém, isso não representa maior nível de ingestão em relação ao peso vivo. Segundo o NRC (1996), animais cruzados holandês apresentam maior ingestão de matéria em termos de peso vivo do que animais de corte, sugerindo um ajuste de 8% para animais puros da raça holandesa e 4% para animais cruzados dessa mesma raça.

Em relação à condição corporal, há diminuição na ingestão de forragens, estimando-se uma queda de 2,7% na ingestão para cada 1% de aumento na gordura corporal, na faixa de 21 para 31% da gordura corporal.

Referências bibliográficas:

TEXAS A&M UNIVERSITY. Estimating forage intake in beef cattle. 1998.

0 Comments

  1. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Caro Prof.Boin:

    Em seu ótimo artigo sobre ingestão de forragens a pasto, encontro esta lição:

    “De forma geral, a relação NDT/PB apresentará bons níveis de ingestão quando os níveis de PB estiverem no mínimo em 7%. Com o avanço da maturidade fisiológica, ocorrerá diminuição das quantidades de PB e da digestibilidade da forragem .”

    Quero lembrar o recurso de paralisar a vegetação pouco antes do florescimento com uma subdose de glifosato (0.4 l/ha), para prolongar o estágio de alta qualidade, seja para continuar o pastoreio, seja para aguardar a redução das chuvas para fenar e assim preservar a qualidade durante toda a estiagem, ficando os rolões “in loco” até serem consumidos no mesmo pasto.

    Há um grande futuro desse procedimento em nosso clima de outono de chuvas decrescentes, após um verão quente e úmido. Justificam-se experimentos e observações do método para ajustá-lo às diversas espécies de capins. O custo é módico por não envolver transporte e o glifosato pode ser aplicado rapidamente por avião em grandes áreas.

    Cordial abraço

    Fernando Penteado Cardoso
    eng. agr. sênior