Fatores que influem na seleção dos alimentos de bovinos em pastejo

Os bovinos selecionam sua dieta de uma variedade de espécies de plantas, que ficam a disposição permanentemente nas pastagens. Essa seleção de alimentos é questão de estudos há muitos anos, porém nenhuma teoria está totalmente descoberta e aceita.

Uma teoria, diz que os animais selecionam os alimentos pela quantidade de toxinas presentes nas plantas, e com isso estariam se defendendo de intoxicações. Outra teoria se baseia no fato de os animais escolherem os alimentos para suprir suas necessidades de nutrientes. Nenhuma dessas teorias puderam ser comprovadas, pois ruminantes tendem a consumir grande diversidade de alimentos, mesmo com a presença de toxinas e suas necessidades nutricionais supridas. Portanto, não será somente a presença de toxinas ou a falta de nutrientes na dieta que irá influir na seleção de alimentos pelos bovinos.

Uma outra teoria leva em consideração a aversão, que é a diminuição da preferência por determinado alimento ingerido anteriormente, devido a fatores sensoriais e fatores de sensação pós-ingestiva. No processo de “desenvolvimento” da aversão estão envolvidas mudanças fisiológicas, neurológicas e morfológicas.

A dinâmica das interações sabor-resposta na preferência por determinado alimento, envolve o sabor no momento da ingestão e fatores pós-ingestivos, que são resultado das características químicas do alimento e das condições fisiológicas de digestão do animal. Os fatores pós-ingestivos vão calibrar o fator sabor para a utilidade homeostática. Com isso os animais identificam alimentos adequados nutricionalmente e outros com maiores quantidades de toxinas, aumentando ou diminuindo a preferência por um ou outro.

As interações sabor-resposta ocorrem automaticamente em todo momento durante a alimentação, sem o desenvolvimento de memória ou associações cognativas. Essas interações ocorrem mesmo com o animal estando profundamente anestesiado (Provenza, 1996). Isso mostra que a preferência envolve a avaliação da informação no cérebro e resposta de preferência, sem a necessidade de consciência ou “inteligência”.

A experiência prévia exerce grande influência na preferência. Os animais adquirem preferências por alimentos familiares, sendo relutantes em aceitar novos alimentos ou alimentos familiares que apresentam mudanças no gosto. Animais rejeitam alimentos ingeridos antes de ficarem doentes. Quando a dieta apresenta alimentos novos e após a ingestão, os animais apresentam problemas digestivos e, imediatamente eles param de ingerir os novos alimentos. E, se houver mais de um alimento como novidade na dieta, o animal rejeitará o último incluído (Provenza, 1996).

A aversão a determinado alimento pode ocorrer em alguns minutos de ingestão ou durante dias de ingestão. É um processo que envolve o fator sabor no momento da ingestão e fatores pós-absortivos, nutricionais e toxicológicos. Uma cascata química de eventos, que envolve sinais fisiológicos ao longo do trato digestivo, é convertida em informações ao cérebro. Lesões nessas vias de transmissão de informações tiram a capacidade do animal desenvolver aversões. Tanto toxinas como nutrientes podem causar o desenvolvimento de aversões, porém as toxinas deprimem mais a ingestão.

O animal apresenta resposta específica sensorial, nutricional ou toxicológica no desenvolvimento da aversão a alimentos. A resposta sensorial específica ocorre com a informação obtida em receptores orais, aumentando a preferência por determinados sabores nos alimentos. Os animais preferem alimentos ou uma combinação destes que possuam melhor balanço nutricional, presumivelmente por esses alimentos promoverem maior saciedade. Fatores pós-ingestivos podem desenvolver aversões mesmo quando o alimento ingerido tem bom balanço nutricional. A idéia principal da resposta nutricional na preferência por determinado alimento, depende da condição fisiológica digestiva do animal relacionada a características químicas do alimento. Há preferência clara dos bovinos por alimentos mais digestíveis, porém com o aumento acentuado da digestibilidade do alimento, o animal terá problemas metabólicos (aumento acentuado da fermentação ruminal) e passará a dar preferência por outros alimentos disponíveis (Provenza, 1996).

Resposta “tóxico específica” causa diminuição na preferência por determinado alimento, devido as concentrações de toxinas, mas não necessariamente previne os animais de ingerirem esses alimentos, principalmente se a concentração de nutrientes estiver equilibrada (Provenza, 1996).

Os herbívoros possuem vários mecanismos de desintoxicação. Isso permite a ingestão de uma grande variedade de alimentos, sendo que, se a ingestão de toxinas não for maior do que a capacidade de desintoxicação do animal, ele poderá ter uma dieta bem variada, permitindo o acerto de suas necessidades nutricionais. Por exemplo, toxinas como os taninos, estão presentes em diversas plantas afetando principalmente a digestibilidade desses alimentos, porém com boa aceitação pelos bovinos devido à rápida desintoxicação desse componente.

As aversões desenvolvidas devido às respostas específicas vão depender da quantidade da toxina, do sabor, ou do nutriente presente no alimento e da freqüência de ingestão do alimento.

Sabor e freqüência de alimentação:

A preferência por sabor de determinado alimento diminui quando o mesmo é ingerido repetidamente, provavelmente devido ao sabor tornar-se menos prazeroso ao animal. Quando um alimento é fornecido constantemente diminui a preferência do animal por esse alimento.

Sabor e quantidade de ingestão:

Quanto maior a quantidade de determinado alimento ingerido, maior será a aversão desenvolvida a esse alimento. Por exemplo, ratos consumindo diferentes soluções de diferentes sabores com posterior problemas metabólicos, desenvolvem maior aversão à solução ingerida em maiores quantidades. O mesmo ocorreu com caprinos pastando diferentes gramíneas (Provenza, 1996).

Vários fatores discutidos acima nos mostram a complexidade envolvida no desenvolvimento de preferência pelos animais por determinados alimentos, e a forma exata de como esses processos ocorrem ainda não está muito clara.

Com o conhecimento das causas do desenvolvimento de preferência dos animais por determinados alimentos, podemos influir nas mesmas, aplicando-as nos sistemas de pastejo com o intuito de aumentar as ingestões de matéria seca dos animais. As pastagens normalmente são compostas de monoculturas com boa qualidade nutricional ou simplesmente de melhor adaptação local.

Baseados na importância de variedade de ingestão pelos ruminantes, a ingestão de matéria seca pode ser drasticamente aumentada com a disponibilização de várias espécies forrageiras para bovinos em pastejo (Parsons et al., (1994) citados por Provenza, (1996)). Uma forma de se amenizar as aversões e aumentar a ingestão de forragem de bovino em pastejo, seria o pastejo numa sequência crescente de preferência dos animais pelas forrageiras (Meuret, et al. (1994) citados por Provenza (1996)). A disponibilização de diferentes variedades forrageiras aos animais em pastejo, permite um menor nível de aversões, com aumento da ingestão de matéria seca.

A aplicação de conhecimentos básicos sobre os diferentes fatores que afetam a ingestão é necessária para aumentar a ingestão total e conseqüentemente a produtividade dos animais.

Referência Bibliográfica:

PROVENZA, F.D. Acquired aversions as the basis for varied diets of ruminants foraging on rangelands. J. Anim. Sci., v. 74, p. 2010-2020, 1996.

1. Curso de Mestrado, Ciência Animal e Pastagens, ESALQ/USP
2. Celso Boin, Eng. Agr., PhD, Prof. Convidado, ESALQ/USP, Consultor

Os comentários estão encerrados.

Fechamento 12:01 – 04/10/01
4 de outubro de 2001
Frigorífico gaúcho está prestes a exportar carne bovina para a Bélgica
8 de outubro de 2001