Programa de melhoramento passou a ser imprescindível ao pecuarista, diz o produtor e consultor
Engenheiro Agrônomo, pós-graduado e doutor pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) em Piracicaba, SP, Fausto Pereira Lima está na seleção dos grandes nomes da pecuária brasileira. Sua colaboração para a formação de plantéis, por meio da inserção de touros destacados em centrais de inseminação, é reconhecida por pecuaristas de diversas localidades brasileiras.
Dr. Fausto, como é chamado, construiu uma vida de vitórias na raça Nelore. Seu currículo reúne sua atuação como professor de bovinocultura de corte na Unesp, Campus Jaboticabal, na década de 1960; jurado de exposições de zebuínos no Brasil, México, Costa Rica e Paraguai; coordenador do Projeto de Melhoramento Animal do IZ, de Sertãozinho, SP; diretor-superintendente da Central de Inseminação Lagoa da Serra; membro do conselho técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e responsável técnico do Programa de Melhoramento Genético da USP (Ribeirão Preto, SP).
Sua trajetória na pecuária é longa e produtiva, tanto que, em 1995, recebeu o diploma do Mérito Pecuário da ABCZ, por sua contribuição ao aprimoramento genético e produtivo da raça Nelore. Hoje, é pecuarista em Itapirapuã, GO, e consultor, e reside em Ribeirão Preto, SP.
A história do Nelore no país, de acordo com ele, registrou maior desenvolvimento a partir de 1975. “Foi quando ele começou a ser notado. De lá para cá, especialmente do início deste milênio até hoje, pegou a todo vapor, desenvolvendo-se, crescendo e melhorando”, contou, dizendo que “até os técnicos que faziam análise de carcaça e não eram muito chegados ao zebuíno se renderam ao Nelore, que tem carne de excelente qualidade”.
Lima trabalhou com melhoramento de Nelore desde 1960, realizando prova de ganho de peso, mas, segundo ele, nunca caía na simpatia do criador. Em contrapartida, hoje, “qualquer projeto de melhoramento é visto como aliado para poder vender um produto melhor, pois animais que têm números melhores no que diz respeito a melhoramento são mais bem-vendidos também. Todo criador aderiu. É imprescindível”.Em sua opinião, isso talvez tenha ajudado a desenvolver a raça.
Segundo ele, anos atrás, os programas de seleção, principalmente nos Estados Unidos, empregavam com mais afinco a matemática, a estatística, por meio de medições e cruzamentos. “Eles sempre desenvolveram tecnologia”, comentou. No Brasil, há certo tempo, começou-se a trabalhar da mesma forma. Hoje, informou Lima, há vários programas, todos com a mesma finalidade. “Não existe país no mundo que faça igual ao que o Brasil tem feito. São vários os que aderiram: o Paraguai foi um dos primeiros, a América Central também. Os projetos de melhoramento aqui no Brasil têm-se desenvolvido bastante, como o da ABCZ, Embrapa, USP, o do Rio Grande do Sul com zebuíno, todos com a mesma finalidade, melhorar o desempenho da vaca e dos touros no que são prepotentes. A partir disso, têm incrementado altos índices de ganho de peso”, avaliou.
Entretanto, Lima faz um alerta: “Peso ao nascer alto é um erro muito grande, porque bezerro que nasce muito grande judia muito da vaca, e ela custa a se recompor para conceber novamente, pois dilata as articulações para que nasça. O período de recomposição de bacia e do útero fica demorado. Conseqüentemente, o intervalo entre partos aumenta. A média é 450 dias no Brasil, mas, desse jeito, passa a ser dois anos. Além do transtorno para a vaca, que não consegue parir, tem a dificuldade do parto, sendo necessário buscar assistência do veterinário. Ás vezes, perde-se o bezerro; outras, o bezerro e a vaca”. O ideal, ensinou, é nascer pequeno, com até 30 kg. Dessa forma, a vaca não tem problemas, e dois meses depois, no máximo, já se pode enxertar novamente. Isso, para ele, é lucratividade.
A seleção para peso, de acordo com o produtor, objetiva um peso com idade jovem para abate, em torno de 500 kg ou 17 @. “Quanto mais cedo chegar, melhor para a pecuária, para o Brasil, para o pecuarista”, incentivou, comentando que se deve aliar o peso na desmama, pois, quanto mais pesado desmamar, mais perto dos 500 kg estará. “Agora, depois de adulto, se uma vaca fica com 600 kg e um touro com mil quilos, é normal”, complementou.
No caso do novilho precoce, que atinge peso de abate mais depressa, Lima afirmou que há controvérsias. “Às vezes, pode-se pensar que terá desperdício de potencial da carcaça. Chegar a 17 @ aos 12 meses, só o animal de exposição”, afirmou. Em sua opinião, há duas pecuárias: uma seletiva, dentro da cocheira; outra de pasto, que gera volume de carne exportada, fornecendo para grandes cidades. Nesta, o gado leva 30 meses para atingir 17 @, alguns animais, até 36 meses. Por outro lado, ele disse que tudo que melhore o ganho de peso – suplementação na seca, mineral, pastagem – deve ser feito, mas sem gastar muito, pois “o preço não é tão lucrativo assim”. Para remunerar, calculou, a arroba tem de receber US$ 22 dólares. Ele informou que, hoje, são US$ 20 dólares, e há épocas em que fica em US$ 18, US$ 17 e até US$ 15. “Se o produtor investe muito no boi, não é remunerado. Tem de ser bem dosado para dar tudo certo”.
A pasto, em 24 meses, o gado pode chegar a 15 a 16 @, casos excepcionais difíceis em termos de Brasil. Para Lima, pode acontecer em fazenda privilegiada, com terra de cultura, capim privilegiado, mas não é regra. “Quem consegue sai falando como se fosse regra, mas tem fazenda com terra muito fértil, não é regra geral, principalmente no Brasil central. Aqui, o gado, aos 34 meses de idade, chega a 15 a 16 @ com braquiária, regime de chuva, longe de suplemento, de resíduos de indústria. É preciso levar isso em consideração. A situação mais encontrada é assim. Além disso, é preciso respeitar condições naturais, a ecologia, aproveitar a sombra”, rebateu.
Para os criadores da raça pura, ele deixou um conselho: “Não podem desprezar as características da raça, porque são atributos que a natureza fez e nas quais o ser humano não pode mexer. Aliado a habilidade materna da vaca, desenho da cabeça, sistema auditivo, a natureza agiu de maneira adequada para a vaca dar toda proteção ao bezerro. Se alterar, pode prejudicar. O pessoal diz: ‘Ah, eu quero é peso’. Tudo bem, mas garantindo o que a natureza fez”.
Em sua opinião, como os programas indicam bom desempenho de matrizes e reprodutores, o ideal é aliar-se a programas de melhoramento para ter as informações necessárias para futuros acasalamentos. “Precisa saber acasalar, para obter o máximo resultado. Hoje em dia, sem equipe boa, e sem se basear nas técnicas modernas, não tem jeito”, alertou.
Para corte, ele afirmou que se deve observar bem os animais que têm informação de DEP (Diferença Esperada na Progênie). “Com muita segurança, terá resultado muito bom na produção de tourinhos com esses números de melhoramento genético. Além das características de peso, conformação, é preciso dar ênfase à DEP. O pessoal começa a valorizar, mas deve olhar com mais atenção”, sinalizou.
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Parabéns ao colega Fausto Pereira Lima.
Como sempre um técnico realista, estudioso, entendido e que tem o pé no chão.Vejam o que disse: o bezerro deve nascer pequeno (30 kg no Nelore) para não judiar da vaca; o boi de corte deve “chegar” ao ponto de abate (450 kg bem acabado) “quanto mais cedo melhor”, a pasto, por motivos econômicos, sendo muito caro faze-lo crescer e engordar muito jovem à custa de ração; é natural que o reprodutor(a) adulto venha a ficar pesado.
Conheço Fausto há mais de 40 anos. Foi ele que nos deu a dica do Nelore de Curvelo/MG, fértil e pesado, com sangue dos importados nos anos 1880, que valia preservar. Acatamos a orientação, batizamos a linhagem de “Lemgruber” em homenagem ao primeiro importador.
Fizemos seleção a pasto e chegamos aos “1646 da MN”, ao “Rambo da MN” e muitos outros. Fausto permanece o mesmo: capaz, modesto e confiável.
Um grande amigo que continuamos a ouvir e a seguir.