Por Fernando Penteado Cardoso1
A Fazenda Corumbiara em Rondônia, especializada na produção de boi gordo para abate, chamou minha atenção pela qualidade uniforme das pastagens, o rigor na seleção das vacas pela fertilidade, o manejo em lotes 80/100 cabeças, a objetividade do sistema e a boa organização. Foi uma rápida visita, sem pormenores, mas que suscitaram algumas considerações.
Pastagem exclusiva de Brachiária brizantha
A continuidade do bom desenvolvimento é função do suprimento de N de 3 fontes, sem contar o contido no estoque inicial de matéria orgânica e nas adubações nitrogenadas:
1) Fixação do N atmosférico por bactérias associadas à B. brizantha, como relatado por J. Döbereiner da Embrapa e observado na Faz. Suçuapara, da Manah, em Santana do Araguaia/PA. Talvez possa ser otimizada pela adubação leve para corrigir deficiências agudas de macro e micro nutrientes, a serem avaliadas através de análises de solo.
2) Idem da espécie Rhizobium simbióticas das leguminosas. Não se comprovaram ainda espécies persistentes que se associem à B. brizantha. Vale acompanhar as pesquisas em andamento na EMBRAPA e outros.
Pastos com 1/3 da área em faixas de Leucaena, com rotação 7 x 42 (dias de pastoreio / descanso), proporcionam ganho de peso de até 1 kg/dia como comprovado em MS. São apropriados para bezerros desmamados e para acabamento. Vale mandar estudar em Dourados/MS e arredores para uma avaliação prática. Não se deve desconsiderar essa tecnologia, uma vez que o clima e o solo locais são muito adequados.
Os capins perdem rapidamente sua qualidade a partir do florescimento. Seria útil iniciar observações sobre a aplicação de 0.4 l/ha de glifosato pouco antes da floração, a fim de interrompê-la. A alta qualidade do pasto na fase de pre-florada persiste por prazo maior, ensejando melhor aproveitamento por pastoreio ou eventual fenação.
Manejo para eficiência
Três fatores devem ser considerados:
1) O temperamento pode ser melhorado por linhagens de Nelore selecionadas com essa orientação. O gado Lemgruber é uma delas. Os bezerros/as rebeldes devem ser descartados para não viciarem os outros pelo mau exemplo.
2) Os currais com “tronco em U”, “seringa de área redutível” e “laterais vedadas” facilitam o trabalho e evitam o estresse. Vale a pena estudar o assunto.
3) O treinamento do pessoal é importante para um bom manejo. Nem todos os vaqueiros têm o dom do manejo, mas sempre podem aprender sobre o comportamento do Nelore.
Melhoramento animal
Procura-se um gado fértil, dócil, de bom ganho de peso e de precocidade de acabamento. A seleção da fertilidade das vacas, como vem-se fazendo há muitos anos pelo descarte das vazias, oferece uma base segura para produção local dos touros de campo para uso da fazenda.
1) Iniciar a cobertura das novilhas aos 14 meses para identificar as precoces, que seriam as futuras “mães de touros”, após 4/5 crias, caso sua fertilidade, habilidade materna e docilidade se confirmem.
2) As vacas mais precoces, férteis, dóceis e sadias, que desmamam bezerros grandes, podem ser inseminadas ou cobertas por touros melhoradores que tragam bom temperamento, crescimento intenso e rápido acabamento. Isso concorre para a obtenção de uma alta porcentagem de bois terminados com 2 dentes e 17 arrobas. A boa porcentagem hoje alcançada poderia ainda ser melhorada.
3) Dar preferência aos tourinhos que aos 18 meses apresentem “prenúncio de acabamento e mostrem bom temperamento”. Espera-se que, com o correr do tempo, se consiga o boi ideal de “16/17 @, 0 dentes, bem acabado e manso”, de custo otimizado.
As futuras vacas herdariam essas características a serem transmitidas às suas crias, machos e fêmeas. Os primeiros de acabamento precoce e de baixo custo, as segundas boas parideiras desmamando bons bezerros. Uns e outros de bom temperamento.
São essas as considerações que me ocorrem, mais como uma visão futura do que presente, seja uma estratégia de longo prazo, pois a Fazenda Corumbiara é um exemplo de organização primorosa, digna de admiração.
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1Engenheiro Agrônomo sênior, AGROLIDA