A CNA realizou semana passada o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010). Foram três dias de debates sobre a relação entre mudanças climáticas e a atividade agropecuária, reunindo especialistas nacionais e internacionais. A CNA procurou trazer especialistas que fizessem um contraponto a muito do que é dito sobre mudanças climáticas e agropecuária, iniciativa que foi criticada por ambientalistas presentes no evento. É preciso mais do que criticar e criar um ambiente "nós contra eles". É preciso buscar convergência.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou semana passada em São Paulo, o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010). Foram três dias de debates sobre a relação entre mudanças climáticas e a atividade agropecuária, reunindo especialistas nacionais e internacionais.
“Com o FEED 2010, queremos compreender melhor os verdadeiros motivos do aquecimento global. Um país líder na produção agropecuária, como o Brasil, deve ser protagonista destas discussões na COP 16, contribuindo para que avancem e sejam produtivas”, afirmou a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, ao se referir às motivações da CNA para organizar o encontro.
A CNA procurou trazer especialistas que fizessem um contraponto a muito do que é dito sobre mudanças climáticas e agropecuária. O dinamarquês Bjorn Lomborg, por exemplo, é um dos céticos do aquecimento global mais respeitados.
Eu estive no evento acompanhando as discussões e transmitindo os principais pontos das palestras via Twitter. Nos corredores do WTC, local em que foi realizado o Fórum, como era de se esperar, o aquecimento global e o impacto da agropecuária nas emissões de gases eram o assunto principal.
Conversando com uma integrante da ONG Greenpeace escutei algumas críticas à programação do evento, aos nomes convidados para palestrar, aos assuntos discutidos e ao posicionamento da CNA sobre o assunto. Tais críticas eram principalmente sobre a escolha de Bjorn Lomborg, autor do livro “O Ambientalista Cético” e Patrick Michaels, membro sênior de estudos ambientais do Cato Institute, para abrir o primeiro dia de palestras.
Os dois pesquisadores defenderam que o aquecimento global é um problema, “mas não estamos perto do final do mundo, como a mídia e militantes ambientalistas tem feito parecer”, palavras de Lomborg. Os palestrantes acreditam que o assunto é preocupante e deve estar na agenda de todos, mas precisa ser melhor estudado e discutido para que sejam encontradas soluções eficientes e se evite gastar dinheiro à toa.
Este assunto – mudanças climáticas e aquecimento global – ainda pode ser considerado novo para a sociedade e relativamente desconhecido para a ciência. Existem inúmeros estudos e uma grande quantidade de teorias, mas ainda é difícil avaliar quem está correto já que os dados são muito diferentes e as metodologias utilizadas para chegar a eles também. A conclusão é que não existe verdade absoluta sobre o assunto que ainda demanda muitos estudos, análises e discussões.
Mas voltemos à minha impressão sobre os pontos levantados pela integrante da ONG ambientalista. Ela comentou: “É! O evento está bom, mas os palestrantes estão falando apenas o que a platéia queria ouvir. Se era para fazer um Fórum como este e promover discussões sobre o assunto, a CNA teria que ter mostrado os dois lados. Dizer que o aquecimento não existe é bobagem.”
Neste momento parei para pensar melhor sobre o assunto e cheguei a duas conclusões sobre o evento e sobre a conversa durante o coffee-break.
A primeira foi fácil. Foi só responder a seguinte pergunta: O que vou escutar em um evento sobre mudanças climáticas organizado pela CNA? O objetivo da CNA era fazer um contraponto a avalanche de informações veiculadas na mídia que associam agropecuária e aquecimento global. Eles queriam mostrar o outro lado e montaram um evento que trouxe os especialistas do Brasil e do mundo que mais entendem desse outro lado.
No meu ponto de vista não devemos negar o aquecimento e nos esconder do problema ambiental. Entendo que a medida certa seria apontar o problema e citar soluções, ressaltando que a agropecuária brasileira tem um enorme potencial para mitigar as mudanças climáticas, basta que deixem os produtores trabalharem apoiando o aumento da eficiência produtiva, boas práticas de cultivo e manejo, através de financiamento e incentivo a adoção de novas tecnologias.
A segunda foi que o Greenpeace sabe criticar muito bem, talvez esta até seja sua função, mas não apresentou uma solução real para o problema, que vai muito além da preservação do meio ambiente. Que da forma como está sendo tratado, vai mexer com a economia de todos os países, organizações e companhias do mundo e com a vida dos habitantes do planeta. O Greenpeace sempre foi muito polêmico e usa de agressividade na maneira de apresentar problemas e informações para a sociedade, como no caso do desmatamento no Pará tratado em seu relatório “A farra do boi na Amazônia”, publicado no ano passado e que tinha ao fundo uma mancha vermelha como se o papel estivesse sujo com sangue.
A ambientalista, que como eu também estava twitando o evento, me falou sobre equilíbrio e discussões abertas sobre os dois pontos de vista, para que os dois lados encontrem a solução para os problemas. Mas no microblog não era este pensamento equilibrado que aparecia. As mensagens eram depreciativas, tentando desabilitar os palestrantes convidados e banalizar o evento.
Nestor Tipa Júnior – que se descreve no Twitter como: Bio Jornalista especializado em agronegócio – acompanhava as duas transmissões e postou o seguinte comentário: “Interessante acompanhar as coberturas do FEED2010 no Twitter. Ponto e contraponto no beefpoint e GreenpeaceBR”.
As mensagens postadas pela ONG eram recheadas de termos como “fazendeiros”, com tom de que os integrantes da CNA são apenas proprietários de terras que não estão preocupados com produção ou preservação, mas apenas com o lucro.
Outra expressão que foi utilizada “obrigação de preservar a floresta”. Quem, hoje em dia, é louco de dizer que não temos que preservar a floresta? Da maneira como foi colocada, o leigo pode entender que todos os produtores são contra a preservação do meio ambiente. Quem lê informações como estas – ainda mais se estiverem fora de contexto, perdidas entre os milhares de tweets recebidos durante o dia – pode entender que os produtores querem derrubar todas as árvores do mundo, inclusive as da calçada das ruas das cidades ou as do Parque do Ibirapuera. Uma das discussões mais importantes em relação a isso é quem vai pagar a conta, não se é preciso preservar ou não. Até o momento, parece que o setor produtivo terá que arcar com grande parte de um custo que é de toda sociedade.
Veja algumas das mensagens enviadas pelo Greenpeace sobre o evento:
“Para completar hall de venenos, Sebastiao Guedes conclui que FAO age somente para encher o bolso dos europeus de dinheiro”.
“Fim da palestra de Bjorn Lomborg no #ForumAgropecuariaClima. Conclusões são de que não devemos cortar emissões. Plateia responde: adoramos”
“Mais um amigo dos agropecuaristas ganha o microfone no #ForumAgropecuariaClima. Patrick Michaels diz que aq global não é causado por CO2.”
“Vale tudo no #ForumAgropecuariaClima para fazer fazendeiro feliz. Palestrante se desdobra para dizer que aq global é culpa do…sol.”
“Pausa no #ForumAgropecuariaClima, evento organizado pela CNA. Conclusão geral alegra fazendeiros: ninguém precisa se preocupar com clima.”
“Sebastião Guedes, presid. do Conselho Nacional de Pecuária, não gosta de números. Chamou dados científicos de emissão de ´achômetro´.”
“Evaristo Miranda, um pedinte de terras brasileiras. Pelo seu discurso, o Brasil é vilão da agropecuária e só cuida, adivinhem, da floresta!”
“No #ForumAgropecuariaClima, fazendeiros preocupados com a concorrência dos outros países, que não são ´obrigados a preservar´ a floresta.”
“Para plateia de fazendeiros, Evaristo Miranda vitimiza agropecuária. Alguém esqueceu de contar a ele quem está de fato perdendo este jogo.”
“As palestras do #ForumAgropecuariaClima, repletas de ceticismo e desinformação, serviram para que…nenhuma ação concreta seja planejada.”
Entendo que as emissões de gases de efeito estufa e as mudanças climáticas são problemas reais e só serão resolvidos a partir do momento que deixarmos de lado paixões e rusgas e resolvermos discutir abertamente na tentativa de chegar a uma solução. É o que tem feito a Mesa Redonda da Soja e o Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável.
Fazer showzinho para a opinião pública e atacar outros setores não vai levar a nenhum lugar. Isso pode sim incrustar na sociedade conceitos errados e promover a veiculação de informações falhas, que acabam por desviar o foco do problema real. É preciso mais do que criticar e criar um ambiente “nós contra eles”. É preciso buscar convergência.
Que tal hastear a bandeira branca e conversar?
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O bom numa democracia é que todos os setores têm o direito de expor suas opiniões, ainda que conflitantes e antagonicas. Mas é através deste embate de idéias que se chega à um caminho de consenso, onde a solução fica mais fácil de ser obtida.
O autor desta matéria captou muito bem este clima de ebulição de idéias, o que evidencia a preocupação de todos, especialmente estes dois setores(agricultores/pecuaristas e os ambientalistas) fundamentais na busca por soluções que amenizem o efeitos do aquecimento global.
Muito legal o artigo.