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FEED 2010: melhores momentos

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou esta semana em São Paulo o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010). Foram três dias de debates sobre a relação entre mudanças climáticas e a atividade agropecuária, reunindo especialistas nacionais e internacionais. Este artigo é uma compilação dos principais pontos que foram discutidos pelos palestrantes convidados pela CNA.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) realizou na semana passada, em São Paulo, o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010). Foram três dias de debates sobre a relação entre mudanças climáticas e a atividade agropecuária, reunindo especialistas nacionais e internacionais.

A Equipe BeefPoint participou e transmitiu o evento via Twitter. Iniciativa que recebeu o apoio da CNA, através do seguinte comentário em sua página do Twitter: “Excelente divulgação do #FEED pelo @beefpoint! Parabéns!“.

Fernando Sampaio, diretor de sustentabilidade da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (Abiec), também se manifestou a respeito da nossa transmissão, “eu estava no FEED2010 organizado pela CNA, o BeefPoint fez excelente cobertura aqui no Twitter“.

Obrigado a todos que acompanharam nosso trabalho durante esses dois dias de intensa discussão sobre os impactos da agropecuária nas mudanças climáticas. Este artigo é uma compilação dos principais pontos que foram discutidos pelos palestrantes convidados pela CNA.

Bjorn Lomborg, autor do livro “O Ambientalista Cético” e professor-adjunto da Copenhagen Business School ministrou uma palestra durante o Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010), organizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para tratar de aquecimento global e o impacto da agropecuária as mudanças climáticas.

Segundo Lomborg, o que o mundo está discutindo e fazendo hoje não é agir contra o aquecimento global, é adiar o problema para nos sentirmos melhor. “Aquecimento global é um assunto imenso e com muitas visões, vou tentar explicar como penso que devemos agir, para gastar nosso dinheiro de forma mais eficiente”, completou.

“Primeiro, aquecimento global é um problema e devemos nos preocupar com ele”, disse o professor assumindo que o aquecimento é real e causado pelo homem. “Mas não devemos entrar em pânico, pois não estamos no Fim do Mundo”.

Alfinetando e ironizando um pouco as teorias de alguns ambientalistas ele comenta, “Al Gore diz que o aquecimento global será terrível. Devemos agradece-lo por ter colocado o assunto em nossa agenda, mas devemos perguntar: é isso mesmo?”

“Ele [Al Gore] diz que muitas pessoas vão morrer por causa do calor, algo em torno de 2.000 pessoas. Por outro lado menos pessoas vão morrer por causa do frio, que hoje são em torno de 20.000 mortes por ano”, continua Lomborg. “Então temos que tomar cuidado com as informações que são divulgadas”.

Defendendo que existem outras teorias, que apesar de controversas também precisam ser consideradas, o palestrante afirma, “Falamos muito em aquecimento pelo aumento das emissões de CO2, mas uma das principais razões do aumento das temperaturas é o crescimento das cidades. Isso acontece, pela diminuição do verde e crescimento da cobertura de asfalto”. “Ao invés de lutarmos pela redução do CO2 devíamos tornar as cidades mais frias”, ressalta Lomborg apontando que podem existir outras soluções para a questão.

“Al Gore também fala sobre o aumento do nível do mar, mas o número está errado, o número correto é 20x menor do que ele diz”, frisa e segue comentando que foco das discussões atuais está errado. “Nos últimos 150 anos, o mar subiu 30 cm, que é o que deve subir até 2020. Pergunte a um homem bem velho o que aconteceu nos últimos 150. Ele vai falar de guerras, desenvolvimento de novas da tecnologias e não se lembrará do aumento no nível do mar”.

“As Maldivas devem sumir. E daí? Ninguém vai ficar parado na praia esperando água bater no joelho. A população deve agir para se proteger e avaliar qual serão os impactos desta situação para a população mundial”. Parece um pouco egoísta e até desumano, mas segundo Lomborg, “o grande problema não é o aquecimento e sim o impacto que ele causará nas economias e quanto gastaremos para nos proteger”.

Pensando desta forma, “o problema é que os fenômenos climáticos irão aumentar os danos na economia, pois temos mais cidades e mais bens que serão perdidos com eles”. Ele cita exemplos de furacões como o Katrina, se não existissem cidades no seu caminho não teria problema nenhum, quase ninguém saberia que ele existiu e muito menos qual foi seu poder de destruição. “Não precisamos, nem conseguiremos, acabar com os furacões, mas devemos trabalhar em sistemas que consigam prevê-los e em ações que reduzam o danos quando eles chegarem” explica o dinamarquês.

Outro ponto que o palestrante defendeu foi o uso de dinheiro em políticas de saúde pública, infra-estrutura e saneamento básico, ao invés de aplicá-lo em medidas contra o aquecimento, que segundo ele são pouco eficientes. “Al Gore fala muito sobre o aumento doenças relacionadas ao aquecimento. Malária por exemplo. Mortes por malária não estão ligadas ao aquecimento e sim ao dinheiro, ou falta dele. Se você é pobre morre de malária, se é rico toma remédios e se cura”. “Que tal deixar de gastar com redução de CO2 e investir em distribuição de remédios para malária, isso salvaria muito mais vidas. Temos que atacar os problemas mais fácies de solucionar”, completa.

Segundo o pesquisador, não podemos continuar insistindo nos erros do passado. “Kyoto falhou, Rio falhou, Copenhague falhou. Temos que mudar a forma de pensar senão Cancún também falhará”, profetizou. “Na COP15, todos concordaram que devemos limitar o aumento da temperatura em 2 graus. Mas isso é muito caro. Reduzir emissão de CO2 é muito caro, cada dólar gasto gera apenas 0,4 de ganho. Mas não podemos esquecer que emissão de CO2 também gera desenvolvimento, ninguém gera CO2 por diversão. Por isso não dá certo dizer que vamos reduzir CO2 em detrimento da diminuição do desenvolvimento econômico, isso não funciona”.

Citando outros exemplos de como podemos melhorar a eficiência das ações de preservação do meio ambiente, Lomborg cita que muito se fala que o aquecimento irá acabar com os ursos polares. “Mas ninguém fala que se todos cumprissem Kyoto, salvaríamos um urso por ano”. “Ninguém fala também que o homem mata 350 ursos polares por ano. Que tal para de atirar neles? Isso seria muito mais eficiente, não acha?”.

“Mas essas histórias não chamam a atenção da sociedade. Precisamos pensar em uma solução e não em ações para nos sentirmos bem. Precisamos ser mais eficientes e não gastar com coisas que trazem pouco ganho. Precisamos gastar com coisas que resolvam. Vamos focar nos problemas reais, ao invés de ficar batendo a cabeça apenas na redução das emissões de CO2”.

“Não adianta falar para as pessoas pararem de comer carne, eu sou vegetariano, mas essa é uma escolha minha. Para reduzir o problema a pecuária deve investir em inovação e melhorar eficiência. Não podemos dizer para as pessoas pararem de comer carne”, finaliza Lomborg.

Respondendo às perguntas da platéia, Lomborg disse que não acredita em uma conspiração por traz do aquecimento, algo para dominar os recursos naturais. “Na verdade acredito que o foco está errado, todos buscam o bem, mas devemos mudar a forma de pensar no problema. Precisamos tomar mais cuidado no julgamento dessas informações”.

Patrick Michaels, membro sênior do Instituto Cato e Ph.D. em Climatologia Ecológica pela Universidade de Wisconsin foi um dos palestrantes convidados para falar sobre “A relação entre aquecimento global e as atividades humanas”.

“As metas de redução de emissões são praticamente impossíveis de serem cumpridas e a previsão que o IPCC fez para a emissão de metano na década de 90 estavam erradas”, afirmou Michaels. “Na verdade as emissões estão caindo, ao contrário do que foi previsto. Por que? Ninguém sabe, mas talvez a queda observada em 2009 esteja ligada à crise”.

“Se todos os países cumprirem o tratado de Kyoto em 2100 o aumento de temperatura será de aproximadamente 3 graus”, diz Michaels voltando ao tema da eficiência das medidas propostas atualmente. “Quanto isso custará? Muito. Mas quanto eu não sei. Sabe-se que o gasto será alto e o benefício será pequeno.” Ele concordou com Lomborg e afirma que “o aquecimento global é verdadeiro e é causado pelo homem, mas também sabemos que o problema está sendo maximizado pelos cientistas”.

Michaels apresentou gráficos com diversas medidas de temperatura. “Existem muitos modelos para prever o aumento da temperatura, mas a variação entre os resultados é muito grande. Assim fica difícil avaliar”.

Ele contesta também informações sobre as emissão de gases originárias da pecuária. “A ONU diz que as vacas emitem mais gases que os carros”, isso é bobagem diz Michaels. “Muitos especialistas concordam que comer carne e tomar leite não aumenta o aquecimento. Se não fizermos nada a temperatura deve aumentar 1,6 graus, se eliminarmos todos os bovinos do Brasil esse aumento deve ser de 1,52 graus. Assim concluímos que o ganho seria muito baixo e não podemos esquecer que a carne brasileira alimenta milhões de pessoas em todo o mundo”.

Quando questionado sobre o que os EUA está fazendo para resolver o problema, Patrcik Michaels pensou um pouco e respondeu que está sendo discutido muito pouco sobre a mitigação das emissões de GEE pela agricultura e pecuária. “Não esperem que os EUA limitem as emissões causadas pelo gado, dificilmente faremos isso”, completa.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor da COPPE – UFRJ, foi o terceiro palestrante do Fórum Internacional de Estudos Estratégicos para Desenvolvimento Agropecuário e Respeito ao Clima (FEED 2010) e iniciou sua apresentação sobre o efeito antropogênico no aquecimento dizendo que “o IPCC usa trabalhos científicos publicados, mas nesses estudos existem erros”, se referindo ao escândalo do Climategate. “Isso é normal, pois a ciência lida com erros o tempo todo. Assim os relatórios do IPCC não estão totalmente errados, mas têm inconsistências”. “O debate faz parte da ciência. O problema é que se criou um consenso de que o CO2 é o principal causador do aquecimento”, completa Pinguelli.

“Está claro que mudanças climáticas demoram muito tempo para acontecer. Assim o grande problema é que as medidas para conter o aquecimento demoram muito tempo para apresentar resultados que acontecerão só no longo prazo”. “Nos estudos do IPCC existem erros, mas isso não é motivo para não agir contra as mudanças climáticas”, disse Pinguelli.

“Outro ponto é que ninguém irá abdicar do desenvolvimento econômico em função da redução das emissões e esse foi principal motivo do fracasso da COP15”. Pinguelli continua avaliando que as metas de redução precisam ser diferentes em cada país. “Enquanto China luta para reduzir o uso de carvão, o Brasil precisa diminuir o desmatamento”.

Segundo ele, neste ponto o Brasil leva vantagem por ter em sua matriz energética com grande participação de energias renováveis, e sai na frente com o aumento no uso de energias alternativas. “Isso é bom, mas as universidades precisam trabalhar mais em soluções para reduzir a geração de gases de efeito estufa (GEE)”. Ele citou alguns exemplos de estudos que estão sendo feitos na UFRJ, como o desenvolvimento de concreto ecológico, melhores controles em aterros sanitários, medições e controles de gases em hidrelétricas, novas formas de combustíveis, motores movidos a hidrogênio, usinas para geração de energia utilizando a força das ondas do mar, entre outros. “É preciso inovar para conter o problema”.

Pinguelli concorda com Michaels que é totalmente errado comparar as emissões da pecuária as do setor de transporte. “É preciso levar em conta a contribuição dos gases no aumento da temperatura e não apenas a quantidade de gases”, diz Pinguelli. Outro ponto citado por eles é que a comida (carne) é indispensável para a sobrevivência das pessoas, diferente do uso de carros, assim as pressões atuais não têm muita lógica”.

Marcelo Caldos do CENA/USP, falou sobre estratégias para mitigação da emissão de CO2. “As principais contribuições da agropecuária para emissões de GEE vêm das queimadas de resíduos, fermentações entéricas, manejo do solo, manejo de dejetos e do cultivo de arroz”.

Caldos ressaltou que saber o tamanho do problema é essencial para agir e que os inventários de emissões antrópicas e remoções por sumidouros de gases de esfeito estufa são essenciais para traçar as políticas a serem adotadas. “Pensando dessa forma Estados, Municípios, Corporações e Universidades, começam a preparar seus próprios inventários. A USP está trabalhando nisso e já tem relatórios sobre as emissões de seus campi. Ações como estas são essenciais para mitigar o problema, mas seria mais interessante pensar também em cadeias produtivas e produtos”.

“Dessa forma se tornaria possível comparar produtos originários de diversas partes do mundo, por exemplo quais são as emissões do suco de laranja brasileiro e do produzido na Flórida/EUA”. “Essas medidas além de auxiliar nas políticas podem se tornar diferenciais competitivos. Assim a sociedade terá força para contribuir na mitigação das emissões de GEE, ou seja, fica para o consumidor a decisão de comprar um produto preocupado em reduzir sua pegada de carbono, ou não”, completa o pesquisador da USP.

“Estudos apontam que na produção de etanol, conseguimos ter mais benefícios do que emissões de CO2, ou seja, esta atividade gera enormes benefícios para mundo, com sequestro de carbono e substituição de combustíveis fósseis. O mais interessante é essa situação pode ser estendida para pastagens bem manejadas e agricultura tecnificada”, exemplificou Caldos.

“Com pastagens melhor manejadas e uso de confinamento na terminação é possível produzir mais carne por área, reduzindo o impacto da atividade nas mudanças climáticas”. Segundo o palestrante, o Brasil já domina as técnicas para aumentar a produtividade: manejo do solo, confinamento, integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto, entre outros. “Só falta aplicar essa tecnologia”.

“Sem a ajuda da agropecuária, através do aumento da produtividade e da eficiência, o Brasil não conseguirá cumprir as metas propostas”, afirmou Marcelo Caldos que finalizou sua apresentação dizendo “é preciso incentivo e financiamento para que o produtor possa aplicar as tecnologias existentes”.

Roberto Smeraldi da ONG Amigos da Terra iniciou sua palestra afirmando que “a pergunta correta não é quanto custa, mas sim o que eu ganho com esta nova conjuntura?”

Segundo ele, o balanço de carbono é uma oportunidade para financiar mudanças na pecuária e garantir avanços na produtividade e sustentabilidade da atividade. “Posso ser produtor de carne e de créditos de carbono e assim aumentar a minha rentabilidade, mas para aproveitar essa oportunidade a cadeia precisa se estruturar”, diz Smeraldi.

Na opinião do palestrante, a mitigação das emissões de GEE não implica em corte de produção, “é até compatível com certo aumento”, mas isso só será feito com contenção do desmatamento, melhor manejo do solo, mudanças na dieta dos animais e novas tecnologias. ” Ou seja, este processo está intimamente ligado ao aumento da eficiência dos sistemas”.

“Devemos mudar a forma de ´cobrar´ essa mitigação. Não devemos nivelar por baixo penalizando os que agem de forma errada, mas sim premiando aquele que faz o trabalho correto”, ressaltou Smeraldi.

O professor da Esalq/USP e diretor técnico da Assocon (Associação Nacional do Confinadores) Dante Pazzanese Lanna iniciou sua fala lembrando que a produção de proteína animal em países pobres pode garantir o sustento de sua população, além fazer com que eles produzam alimentos para o mundo e aumentem sua renda.

Segundo ele, “a grande revolução da agricultura não foi feita para alimentar as pessoas, mas sim para produzir alimentos para animais que irão transformar cereais em proteína de alta qualidade para alimentar os homens”.

Lanna também concorda que a busca por mais eficiência é essencial e afirma, “nossa produção ainda tem falhas, mas existe um potencial enorme para mudar isso rapidamente”. “Um exemplo disso é a adoção de sistemas que utilizam pasto e terminação em confinamento para produzir carne bovina. Este tipo de atividade exige maior uso de combustíveis fósseis do que o sistema extensivo, mas o aumento na produtividade/área e a redução de emissões de metano, graças à diminuição do ciclo de produção, compensa”.

Um outro exemplo citado pelo palestrante é que a recuperação de áreas degradadas, por exemplo com o uso de integração lavoura-pecuária, aumenta o sequestro de CO2, ajudando na mitigação das emissões e aumentando a produtividade. “Mas a questão não é apenas recuperar a pastagem, é preciso melhorar a eficiência do sistema e melhorar a pegada de carbono da pecuária”, completa Lanna.

Para ele o problema é que ainda existem muitas dúvidas sobre os índices de emissões da agropecuária. “Precisamos estudar isso corretamente para chegar a um consenso”. Dante continuou seu pensamento afirmando que “o IPCC toma decisões políticas e usa números que têm conveniência política”.

Segundo ele, produzir grãos no Mato Grosso e transportá-lo até a Alemanha para alimentar suínos “é a maneira mais estúpida de tratar recursos finitos”. “Seria muito melhor produzir o grão e o suíno no Mato Grosso e transportar apenas a carne. Além do menor impacto ambiental agrega valor ao produto brasileiro”.

Outro ponto polêmico abordado pelo professor foi o uso de antimicrobianos e hormônios. “Usar este tipo de produto, de forma controlada para evitar riscos à saúde humana, pode ajudar a reduzir as emissões de GEE”.

Ao final da palestra, Sebastião Costa Guedes, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC) se juntou aos palestrantes para iniciar a seção de perguntas e respostas, que se tornou um ataque aos estudo do IPCC e de Roberto Smeraldi. “Sou a favor da ciência e contra a manipulação de dados que tem sido feita pelo IPCC”.

“O IPCC tem que admitir as verdades sobre as emissões e remoções de CO2 pela pastagem. É preciso corrigir os dados relativos ao metano. Uma entidade, instituto, que deseja ser respeitado precisa de credibilidade”, completou Costa Guedes.

O presidente do CNPC explicou aos presentes que quem desmata à Amazônia está em busca de madeira nobre e não da formação de pasto, reforçando que a entrada da agricultura e pecuária nas áreas desmatadas não é o objetivo principal do desmatamento. “Não sou a favor do desmatamento, mas produção de alimentos é uma atividade nobre e deve ser reconhecida”.

“Existem muitas campanhas contra a carne. Em SP se criou a segunda sem carne, melhor seria uma segunda sem trânsito, sem buraco, sem impostos”, finalizou.

O ex ministro Delfim Netto, iniciou o segundo dia de palestras do FEED 2010, falando da melhoria da qualidade de vida do homem. “Em parte, essa melhora foi impulsionada pelo agronegócio”.

Falando sobre as motivações para a recente preocupação dos países com o aquecimento global, Delfim concluiu, “toda nação procura 3 autonomias: alimentar, energética e militar”. “Os EUA não estão nessa discussão porque querem um mundo mais verde. O Governo norte-americano está buscando recuperar sua autonomia energética. Com o discurso da economia verde (limpa) o Governo Obama está querendo acabar com a dependência de combustíveis importados”, completou o ex ministro.

“Não acreditem que os EUA vão substituir Chaves por Lula”, alertou o palestrante mencionando uma possível troca da matriz energética, hoje baseada no petróleo, pelo etanol. “Eles querem dominar a produção de combustíveis”.

“O mundo já entendeu que a energia é o programa para o século XXI e o Brasil tem trabalhado muito bem está agenda, com o desenvolvimento de energias renováveis. E o interessante é que no Brasil não existe conflito entre energia e alimentos”.

Ao comentar as metas para redução de GEE propostas pelo governo brasileiro, Delfim Netto afirmou que “devíamos ter estipulado níveis mínimos de crescimento para manter as ações propostas, como a China, que se comprometeu a reduzir as emissões, mas não fará nada que possa reduzir seu crescimento”. “Isso é a realidade, ninguém vai reduzir seus ganhos para deixar um mundo mais verde, as metas precisam estar relacionadas ao crescimento”.

Ele finalizou sua apresentação defendendo que os países desenvolvidos precisam assumir o ônus do seu crescimento e pagar pelo que já emitiram durante seu processo de industrialização e desenvolvimento.

André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacional (ICONE), assumiu o microfone e iniciou sua palestra alertando que “é preciso avaliar a contribuição de cada atividade no balanço de carbono”.

Para Nassar a produtividade da agropecuária brasileira precisa aumentar, pois ela tem impacto em preço dos produtos, volume produzido e demanda por área e assim pode contribuir para reduzir as emissões de GEE.

“O Governo brasileiro foi conservador na proposta das ações de mitigação e isso é bom, pois elas trarão pouco prejuízo ao país”. O diretor do ICONE completou seu pensamento lembrando que apesar das metas serem conservadoras, existe grande potencial no país para colaborar com as questões climáticas, que para ser atingido exigirá muito esforço da agricultura. “Esse esforço será exigido, pois as ações propostas estão baseadas na agropecuária. É o agronegócio que vai ser responsável por essas mudanças”.

Eduardo Assad, que foi secretário-executivo do Programa de Recursos Naturais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Cerrados, apresentou palestra com o tema “Os efeitos do Aquecimento Global sobre o Agornegócio Brasileiro”.

Assad aponta que as taxas de CO2 estão aumentando e que o aquecimento global é preocupante sim, discordando em parte do que foi dito por Lomborg e Michaels. “Como os palestrantes falaram ontem, não estamos perto do fim do mundo, mas temos que nos preocupar com a mudança climática sim”.

Segundo Assad, os modelos do IPCC têm problemas, principalmente quando tratam de mundanças nos níveis de chuva, pois não levam em consideração os efeitos do El Niño. Por outro lado, o pesquisador também apontou falhas nas teorias de Lomborg e conclui que ainda não sabemos exatamente os efeitos das alterações climáticas.

“Não acredito em aquecimento global. Acredito na análise de dados”, enfatizou Assad cobrando estudos mais apurados e mais investimento em pesquisa para encontrar soluções para os problemas das mudanças climáticas.

“Todos o modelos apontam aumento da temperatura do Brasil até 2020 e agropecuária precisa se mexer para se adaptar às novas condições”, alertou o pesquisador mostrando diversas séries históricas de temperatura no mundo e em regiões brasileiras, evidenciando que em todas as regiões as temperaturas subiram nos últimos 40 anos.

Assad se diz assustado, pois diferente do que defende Lomborg, os dados mostram que a elevação das temperaturas não é um fenômeno isolado e restrito as áreas urbanas.

O pesquisador da Embrapa apontou os efeitos do aumento da temperatura na cultura do café, que apresenta problemas com temperaturas acima de 30 graus. “Para que São Paulo e sul de Minas Gerais continuem a produzir café arábica é preciso pensar em mudar as variedades produzidas promovendo alterações genéticas e estudando variedades que unam as características de adaptação do robusta com as características para produção de bebidas de melhor qualidade do arábica. Caso contrário teremos que pensar em produzir café em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul”. “O aquecimento deverá causar deslocamento das culturas”.

Fazendo coro com a maioria dos palestrantes, Assad apontou que a adoção de tecnologia e o aumento da produtividade são essenciais para mitigar o aquecimento global, citando o plantio direto como uma iniciativa de sucesso.

O pesquisador afirma que as metodologias e estudos sobre as mudanças climáticas devem considerar as condições de cada região. “A realidade brasileira é diferente da européia, assim a metodologia de avaliação também precisa ser diferente”. Segundo Assad, “pastagens bem manejadas são excelentes sumidouros de carbono, mas precisamos investir em metodologias para que estes dados tenham maior credibilidade”.

“Vale a pena investir em redução de emissões na agropecuária e temos enorme potencial para fazer isso com sucesso. Esta discussão não é o fim da produção agrícola, mas o começo de novos tempos para o agronegócio brasileiro. O Brasil tem oportunidades imensas neste cenário e a agricultura e a pecuária tem papel importantíssimo neste processo, precisamos agir de forma pró-ativa”, finalizou Assad.

Evaristo de Miranda, da Embrapa, começou sua palestra afirmando que meio ambiente e agricultura são assuntos extremamente dinâmicos. “Mudanças no Código Florestal podem causar problemas para a agropecuária, pois as alterações que estão sendo propostas são muito gerais, severas e retroativas. Não digo que o código está certo ou errado, mas que existe um conflito que precisa ser resolvido”, completou citando a questão das Áreas de Preservação Permanentes (APP) e da Reserva Legal.

“As exigências de APP como estão colocadas hoje, deixam muitos produtores, comunidades e atividades agrícolas na irregularidade. Este problema precisa ser revisto e melhor discutido, pois gera muitas divergências”, completou o pesquisador.

Segundo Miranda, 27% da área do Brasil são destinadas a conservação ambiental e reservas indígenas. As áreas de reserva legal ocupam mais 32% do território. “Do que sobrou (41%), a agricultura não pode utilizar as APPs. Assim concluímos que mais de 75% do território são destinados à conservação. É um custo muito alto para o país e a sociedade manter 75% do seu território sem poder produzir”.

“Além do alcance territorial da legislação [como exposto acima], existe ainda uma demanda crescente por terra. Ambientalistas querem novas áreas conservação, índios querem novas reservas, quilombolas reivindicam a posse de territórios, a reforma agrária pede mais terra e agricultura também quer mais área para produzir. Todas as reivindicações são legítimas, mas para atender à necessidade de todos precisaríamos de mais 6 milhões de hectares”. “Uma saída seria anexar ao Brasil, Uruguai, Bolívia, Peru e Argentina”, ironizou Miranda.

Para o palestrante a discussão da legislação e a gestão ambiental precisa ser feita de maneira regionalizada, em vista da grande diversidade de biomas existentes no país. “Temos que buscar níveis de exigência coerentes com cada bioma e buscar o melhor para o ambiente e a produção”.

“Os problemas do Código Florestal surgiram pois o setor agrícola demorou para se mobilizar e se preocupar com o assunto”, alfinetou.

Falando sobre o esforço para a criação de zoneamentos agrícolas, ele afirma, “zoneamento é importante, mas precisa ser avaliado com mais critério e debatido em todos os níveis da sociedade. Bom zoneamento é aquele que deixa todo mundo um pouco descontente. Não aquele que pende apenas para um lado”.

Miranda esclarece que diferente do que pregam muitas organizações ambientalistas, a agricultura bem feita contribui para a manutenção da biodiversidade e da fauna. “Um dos exemplos é que áreas agrícolas podem contribuir para o meio ambiente como conexão e corredores entre remanescentes de vegetação natural, abrigo e reprodução dos animais”. Ele ressalta que a “agricultura recicla o lixo das cidades, que são os maiores poluidores do país”.

Falando sobre a matriz energética brasileira, Evaristo de Miranda disse que a energia do agronegócio é uma energia sustentável. “O setor agrícola é responsável por 29% da matriz energética do Brasil, e consome apenas 4,5% dessa matriz para produzir. Isso só é possível com o cultivo de culturas de ciclo longo e são poucos países no mundo que conseguem ter tanta eficiência”.

“A cidade precisa saber disso, precisa conhecer toda essa eficiência e os benefícios que a agropecuária pode gerar”, ressaltou Miranda em tom de crítica. Ele cobrou que a discussão seja pautada em conhecimento e que a realidade da agricultura brasileira seja conhecida pelo mundo. “O setor sucroalcooleiro é um exemplo de atividade que contribui para o meio ambiente produzindo etanol, energia elétrica e biomassa”. Segundo o pesquisador, a indústria alcoolquímica é um setor importante que tem crescido nos últimos anos e tem um potencial enorme para reduzir o uso de petróleo.

“A agricultura brasileira domina o mundo do café, da carne, da soja, da laranja e o etanol pode contribuir muito para o desenvolvimento sustentável”, reforça Miranda. Ele ironiza dizendo que as exigências dos importadores não são o problema, “porque os produtores brasileiros conseguirão se adaptar, diferentes dos de outras regiões que não conseguem ser tão eficientes”, mas cobra que elas sejam impostas para todos os produtores do mundo e para todos os tipos de combustível e alimentos, com pesos semelhantes.

André Camargo, Equipe BeefPoint

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